7 Nov, 2025

Uma em cada 300 crianças em Portugal está a desenvolver diabetes tipo 1 sem sintomas

As crianças identificadas em estádios precoces de diabetes tipo 1 foram integradas no programa de seguimento “EDENT1FI FOLLOW”, que inclui monitorização médica, educação terapêutica e apoio psicossocial.

Uma em cada 300 crianças em Portugal está a desenvolver diabetes tipo 1 sem sintomas

Um rastreio nacional pioneiro à diabetes tipo 1 na população pediátrica revelou que uma em cada 300 crianças portuguesas já está a desenvolver a doença de forma silenciosa, antes do aparecimento de sintomas, e que três em cada quatro destas crianças não têm histórico familiar da patologia.

Os resultados foram apresentados esta sexta-feira, em Lisboa, no 7.º Congresso Nacional da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), responsável pela implementação do rastreio no âmbito do projeto europeu EDENT1FI.

A campanha, intitulada “O seu filho tem um dedo que adivinha”, envolveu 10 mil crianças entre os 3 e os 17 anos, rastreadas ao longo de cerca de 14 meses em escolas, centros de saúde, hospitais, eventos e coletividades de todo o país.

De acordo com os dados recolhidos, a prevalência da diabetes tipo 1 em estádio pré-clínico — definida pela presença de dois ou mais anticorpos específicos — foi de 0,33%, o que corresponde a uma criança em cada 300 a desenvolver a doença sem sintomas aparentes.

“Estes resultados marcam uma mudança de paradigma na forma como abordamos a diabetes tipo 1, principalmente porque desafiam a perceção comum de que é uma doença primariamente hereditária e inevitável”, afirmou João Raposo, diretor clínico da APDP.

Segundo o especialista, trata-se da primeira vez que se identificam em larga escala, em Portugal, crianças nos estádios iniciais da doença, muito antes do surgimento de sintomas.

“Esta ‘janela de oportunidade’ é crítica”, sublinhou Raquel Coelho, pediatra e coordenadora médica do Departamento de Crianças e Jovens da APDP. “Sabemos que a maioria dos casos surge de forma esporádica. Um rastreio populacional permite-nos identificar estas crianças anos antes dos primeiros sintomas e, mais importante, antes de complicações graves e potencialmente fatais.”

A identificação precoce destas crianças permite iniciar um acompanhamento médico e educacional personalizado, prevenindo complicações agudas e reduzindo o impacto clínico e psicossocial da doença nas famílias.

As crianças identificadas em estádios precoces foram integradas no programa de seguimento “EDENT1FI FOLLOW”, que inclui monitorização médica, educação terapêutica e apoio psicossocial, promovendo uma transição mais segura para a gestão da doença.

O projeto EDENT1FI reúne 28 parceiros de 13 países europeus, entre instituições académicas, indústria e associações de doentes, sendo apoiado pela Iniciativa de Saúde Inovadora (IHI JU), pelo programa Horizonte Europa e por várias organizações privadas e filantrópicas.

Em Portugal, a campanha “O seu filho tem um dedo que adivinha” superou as expectativas iniciais, atingindo a meta de 10 mil rastreios em apenas 14 meses, quando o objetivo estava previsto para quatro anos.

SO/LUSA

Notícia relacionada

Especialistas lançam manifesto a pedir retrato real da diabetes tipo 1 no país

ler mais

Partilhe nas redes sociais:

ler mais