Tromboembolismo venoso pediátrico
Diretora da Cardiologia Pediátrica no CHULN - Hospital de Santa Maria

Tromboembolismo venoso pediátrico

O tromboembolismo venoso é cada vez mais reconhecido como um problema pediátrico significativo. A trombose venosa, que corresponde à formação de um coágulo, ou trombo, no sistema vascular venoso, se não tratada, pode evoluir para uma situação fatal.

A incidência, na Europa, estima-se de 0,07 a 0,14 por 10 000 crianças e a taxa de mortalidade de aproximadamente 2,2%, sendo maior nos casos de tromboembolismo pulmonar. Estas taxas mantêm-se ainda substancialmente inferiores às encontradas nos adultos. Os recém- nascidos e adolescentes são os grupos mais afetados e, na adolescência, as raparigas são mais afetadas. A incidência é maior em crianças hospitalizadas.

A etiologia é multifatorial, existindo na maioria dos casos um fator de risco subjacente, sendo mais frequente a presença de cateter venoso central (cerca de 2/3 dos casos). A história familiar também é importante.

A sua patogénese está relacionada com a tríade de Virchow´s: estase sanguínea, lesão endotelial e hipercoagulação. Os achados clínicos são habitualmente inespecíficos, exigindo elevado grau de suspeição e  dependem da localização anatómica e do sistema/órgão envolvido.

  • Na trombose venosa dos membros é habitual a presença de dor, edema, calor, circulação colateral e diminuição da mobilidade do membro afetado;
  • No tromboembolismo pulmonar, a dispneia, taquipneia, taquicardia, hipoxemia e a dor torácica que agrava com os movimentos respiratórios são os sinais mais comuns;
  • Na trombose da veia renal as manifestações habituais são hematúria, oligúria/anúria e massa palpável abdominal;
  • Na trombose associada a cateter venoso central, o tromboembolismo venoso é geralmente assintomático ou indolente. Ocorre mau funcionamento do cateter, edema e circulação colateral, infeção;
  • Na trombose dos seios venosos cerebrais, as manifestações habituais são neurológicas, desde cefaleia e vómitos até alteração do estado de consciência e convulsão.

Para o diagnóstico do tromboembolismo são necessários habitualmente exames laboratoriais e de imagem. Os objetivos do tratamento são prevenir a extensão local e embolização do trombo, resolução do  trombo, prevenção da recorrência e minimizar as complicações.

A anticoagulação é o tratamento de eleição na maioria das situações. Este tratamento pode ter riscos associados como a possibilidade de hemorragia. Os agentes anticoagulantes mais comumente usados em crianças incluem a heparina não fracionada, a heparina de baixo peso molecular e os antagonistas da vitamina K.

 Existem novos tratamentos, anticoagulantes orais diretos, que demonstraram serem eficazes em idades pediátricas (mesmo em recém-nascidos), embora em situações restritas. A existência    de formulações pediátricas orais e o facto de não ser preciso análises de controlo são vantagens claras destas novas medicações.

Outros tratamentos, como a trombectomia ou a fibrinólise, são reservados a situações de trombose venosa grave com risco de vida, de perda de membro ou órgão e, geralmente, em  conjunto com a anticoagulação.

O prognóstico depende da localização do trombo. A taxa de recorrência é de 7-20% dos casos, dependendo se existe fator causador e se este é eliminado.

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