11 Set, 2023

Suicídio: Psiquiatras devem começar a assistir adolescentes para resposta atempada

O especialista destacou ainda a importância de se falar sobre suicídio, lembrando que todos os dias três pessoas põem termo à vida em Portugal, sendo que muitas dessas mortes podem ser evitadas.

O psiquiatra Daniel Sampaio defendeu que estes profissionais comecem a assistir jovens a partir dos 15 anos para uma resposta mais atempada aos problemas de saúde mental e reduzir as listas de espera para a pedopsiquiatria. “A minha posição é que os pedopsiquiatras [que acompanham crianças dos zero aos 18 anos] não podem resolver todos os problemas”, disse Daniel Sampaio que falava à agência Lusa a propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que se assinalou no domingo, e da campanha “Viva! Para lá da depressão”.

A campanha visou promover a saúde mental e quebrar o estigma associado à doença mental, em particular a depressão, de uma forma positiva e diferenciadora, promovendo a literacia dos portugueses sobre o tema.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que todos os anos cerca de 700.000 pessoas tiram a própria vida, o que equivale, aproximadamente, a uma morte a cada 40 segundos, sendo o suicídio a quarta principal causa de morte entre jovens dos 15 aos 29 anos em todo mundo. Para combater este flagelo, Daniel Sampaio defendeu que é preciso combater a lista de espera em psiquiatria que, neste momento, “é muito grande”, e, sobretudo, as listas de espera para uma consulta de pedopsiquiatria que são de “muitos meses”.

No seu entender, “os psiquiatras de adultos têm que começar a assistir adolescentes até aos 18 anos, entre os 15 e os 18 anos, por exemplo, para se poder ter mais resposta para os problemas de saúde mental dos jovens”.

Apesar de o suicídio ser mais frequente nas pessoas mais velhas, Daniel Sampaio afirmou que se deve considerar sempre o suicídio nos jovens, alertando que é preciso estar atento aos comportamentos auto lesivos. “Se bem que haja muitos jovens que se cortam e poucos que se suicidam, em relação ao número de jovens que se cortam, é importante alertar que os cortes são um sinal de alarme, são muito frequentes”, disse, advertindo que é preciso perceber o que se passa e encaminhá-los para uma consulta se necessário.

Segundo o especialista, cerca de 20% dos jovens têm problemas de saúde mental, a maior parte são situações de ansiedade e depressão que, nesta população, tem “características diferentes” da doença nos adultos. “Falam menos de tristeza, falam menos de cansaço, falam menos de insónia e falam menos de perturbações do apetite, que são características da depressão adulta”, disse, sublinhando que a doença nos jovens se manifesta por falta de concentração, com quebra normalmente nos resultados escolares, e por impulsividade, podendo ter comportamentos às vezes de violência ou comportamentos de agressividade em relação aos outros.

Daniel Sampaio observou que os jovens que sofrem de depressão e ansiedade estão sozinhos e refugiam-se na Internet, muitas vezes, a ver vídeos muitas vezes ligados à depressão e aos comportamentos auto lesivos. “Os pais e os professores têm um papel muito importante que é alertar para este isolamento e, sobretudo, ouvi-los porque muitas vezes esses jovens não falam com ninguém e nós temos às vezes a ideia que eles não querem falar. Isso não é verdade, não sabem é como hão de falar e têm muito receio de não serem compreendidos, nem ouvidos”, referiu.

“Portanto, a nossa posição deve ser de aproximarmo-nos e dizer: Eu estou aqui ao pé de ti, podes falar comigo quando quiseres, porque depois quando encetam essa conversação têm muitas coisas para dizer”, sustentou.

Em caso de necessidade, as pessoas podem contactar o 112, o Serviço de Aconselhamento Psicológico do SNS 24 (808 24 24 24), a Linha SOS Voz Amiga (213 544 545; 912 802 669; 963 524 660), Telefone da Amizade (222 080 707), Conversa Amiga (808 237 327, 210 027 159), Voz de Apoio (225 506 070) e Vozes Amigas de Esperança de Portugal (222 030 707).

LUSA

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