12 Fev, 2018

Sobrinho Simões diz que Europa dará salto na saúde se deixar “lógica regional”

O patologista defende a criação de uma rede europeia de Centros de Compreensão em Cancro, cujo primeiro passo deve ser a criação de um Centro em cada país – como o que está sediado no Porto

O patologista Manuel Sobrinho Simões considera que a Europa dará “um salto extraordinário” na saúde e na investigação caso os decisores políticos percebam que “é fundamental deixar de lado a lógica regional e nacional, passando para a europeia”.

Para tal, “é necessária a criação de uma rede europeia de Centros de Compreensão em Cancro (‘Comprehensive Cancer Centre’ – CCC), que englobe estruturas de diagnóstico e assistência, de investigação e de ligação à sociedade, para melhorar a prevenção e tratamento de cancro”, disse o codiretor do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).

Manuel Sobrinho Simões falava à Lusa a propósito da primeira edição da Gago Conference on European Science Policy, que se realizará na quarta-feira, no i3S, no Porto, e que visa fomentar o envolvimento de cientistas, políticos e empresários na definição de políticas europeias que promovam e reforcem a ciência e a tecnologia, na qual é um dos organizadores.

De acordo com o patologista, o primeiro passo para a criação dessa rede europeia é definir um CCC por país, à semelhança do que se passa em Portugal com o Porto.Comprehensive Cancer Center (Porto.CCC), que já existe há três anos e resulta de uma parceira entre o i3S e o IPO-Porto.

Este “é um dos centros europeus com mais experiência em cancro do estômago e da tiroide”, tendo produzido, em 2017, mais de 600 publicações para revistas internacionais e obtido taxas resultados “comparáveis aos melhores da Europa”, contou.

A rede europeia de CCC surgiria então, na sua opinião, para alargar ao âmbito europeu a prevenção, o diagnóstico precoce (rastreios) e os tratamentos, que são atualmente efetuados a nível regional ou nacional.

Segundo indicou, essa rede permitiria também aos pacientes obter uma segunda opinião sobre o seu caso, que não fosse só a nível local.

Além disso, poderia contribuir igualmente para a criação de bancos de tecidos e tumores, cujo material disponibilizado serviria para desenvolver novas formas de tratamento.

“Em cancro, precisamos imenso de ter material arquivado para estudar os casos que ocorreram como o esperado ou para investigar sobre aqueles que correram excecionalmente bem ou excecionalmente mal”, disse.

O codiretor do i3S assegurou, através desta rede, era possível evoluir para formas mais inteligentes de prevenção, indo além da primária, que passa por evitar o excesso de peso, a exposição solar em determinados horários, os “disparates alimentares”, bem como tomar a vacina do vírus do HPV e da hepatite B.

Para o patologista, considerado o mais influente do mundo em 2015 pela revista científica The Pathologist, o cancro é a pior doença atual em termos de custos e de sofrimento para os pacientes, cujo número de casos vai continuar “sempre a aumentar”.

Devido a isso, contou que foi estabelecida uma meta para que, até 2030, três em quatro doentes com cancro, na Europa, tenham a sua doença controlada.

Esta primeira edição da Gago Conference é organizada por Manuel Sobrinho Simões, pelo diretor científico do Danish Cancer Society Research Center, Julio E. Celis, pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, pelo codiretor do i3S, Mario Barbosa, e pela ex-deputada do Parlamento Europeu Teresa Riera Madurell.

LUSA/SO

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