11 Jul, 2019

Químicos perigosos em produtos para crianças

As crianças são expostas a milhares de substâncias químicas por dia - desde formaldeído em tecidos a borato de sódio presente no Slime. Estes podem causar alergias, erupções cutâneas e outros problemas de pele.

Pouca é a informação sobre a composição química de muitas das substâncias presentes nos brinquedos e produtos para crianças e sobre o seu impacto na saúde das crianças, diz Carlo Gelmetti, dermatologista pediátrico e professor titular da Universidade de Milão, em Itália. De acordo com o especialista, esta falta de informação pode ser um enorme desafio para os dermatologistas que procuram encontrar tratamentos para curar os problemas de pele que surgem em idade pediátrica.

Carlo Gelmetti e a sua equipa de investigação identificaram reações alérgicas causadas por tatuagens temporárias, comercializadas diretamente para crianças, que, em alguns casos, causaram danos permanentes na sua pele. Além do mais, afirma ser bastante difícil de encontrar informação em revistas científicas sobre os produtos com os quais as crianças privam todos os dias – a sua equipa apenas conseguiu encontrar alguma informação em revistas comerciais europeias e americanas.

Mesmo produtos que não têm como target as crianças podem colocá-las em risco. Vagens detergentes coloridas é apenas um exemplo desses produtos nao comercializados a pensar nas crianças, mas que parece atrai-las devido às cores que aparentam tratar-se de doces. O facto de algumas crianças as comerem e de brincar com elas, tendo depois motivado problemas de pele, fez com que o investigador alertasse que “se as vagens explodirem, elas [as crianças] podem sofrer queimaduras graves”.

Mesmo em alguns produtos médicos, também se verifica a falta de detalhes sobre potenciais alergénicos e irritantes, como no caso das bandagens adesivas com desenhos.

As fontes de alguns irritantes cutâneos pediátricos parecem benignas. Durante a sua apresentação no Congresso Mundial de Dermatologia 2019, o dermatologista pediátrico mostrou uma imagem de uma criança cuja pele escura se tornara cinzenta do pescoço para baixo. Tal aconteceu porque os pais do bebé tinham lavado o bebé com uma loção cuja composição tinha uma combinação de aloé vera com azeite de oliva.

“O azeite de oliva é bom para a salada, mas não para a pele”, explicou.

O Slime, último grito da fantasia de brinquedos infantis, também não é bom para a pele, uma vez que na sua composição podemos encontrar a substância cáustica Borax (também designado por Borato de sódio ou Tetraborato de sódio, frequentemente utilizado em detergentes para a loiça e produtos de limpeza doméstica).

Boro no Slime

Testes realizados por revistas de consumidores revelaram que o nível de boro no Slime é bastante superior ao que é permitido pelas regras da União Europeia. Os níveis excessivos de boro podem queimar, causar vómito e até afetar a fertilidade, relatou o especialista em dermatologia Carlo Gelmetti.

Apesar da literatura científica ter uma grande lacuna no que respeita aos irritantes cutâneos pediátricos, os relatos de casos de reações alérgicas ao Slime começam agora a ser debatidos em praça pública, começando assim a ser notícia em algumas revistas pediátricas.

Uma carta recente, acompanhada de um relato de caso de dermatite de contato associada a lodo caseiro, descreveu este produto como uma “tempestade perfeita”. As receitas de iodo incluem ingredientes que não são adequados para a pele, como cola e produtos de limpeza líquidos, que predispõem a pele a irritação, declara Sharon Jacob, da Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA).

No Instituto Silent Spring, em Newton, Massachusetts (EUA), os cientistas investigam qual o efeito da exposição ambiental a produtos químicos na saúde das mulheres colocam a mesma questão: os consumidores não sabem o que está nos produtos utilizados no quotidiano e não têm a noção do quão prejudiciais podem estes ser para a sua saúde e para a saúde da sua família.

Os produtos de consumo são uma grande fonte de contaminação do ar, disse Kathryn Rodgers, do Instituto Silent Spring.

“São produtos químicos que migram de produtos e permanecem dentro de nossas casas, às vezes por anos”, disse em entrevista ao Medscape Medical News .

“Muitos deles são disruptores hormonais que têm sido associados a uma variedade de efeitos na saúde, incluindo problemas reprodutivos, defeitos congénitos, asma e cancro. Portanto, a exposição diária a esses produtos químicos traz preocupações à saúde.”

Afirmou ainda que sem que haja a exigência que os rótulos identifiquem os ingredientes químicos que constam nos produtos de consumo, torna-se difícil para os consumidores evitá-los.

Os cientistas estão apenas a começar a escrutinar os efeitos de substâncias químicas que imitam hormonas no campo da dermatologia pediátrica, explicou Carlo Gelmetti, que espera, num futuro próximo, mais investigações e estudos sobre este tema, que se está a tornar uma questão de saúde pública.

Erica Quaresma

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