
Medicina Geral e Familiar | Medicina Comunitária | Medicina Preventiva; Editor-chefe da Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
Promoção de saúde dos adolescentes e jovens adultos
A adolescência e o início da idade adulta são fases críticas do desenvolvimento humano, marcadas por vulnerabilidades específicas e por uma elevada influência do contexto sociocultural. Muitos dos problemas de saúde que afetam esta faixa etária – e que repercutem na vida adulta – podem ser prevenidos ou mitigados, através da promoção de estilos de vida saudáveis e de uma abordagem centrada no jovem.
A presente tese teve como objetivo explorar os determinantes de saúde e os comportamentos dos adolescentes e jovens adultos, com especial enfoque no consumo de substâncias psicoativas, sexualidade, ocupação e tempos livres, expectativas sobre os cuidados de saúde e preferências no aconselhamento e nas fontes de informação. Pretendeu-se uma abordagem abrangente, considerando uma investigação de base populacional, não apenas focada em estudantes, explorando ainda a vulnerabilidade social e o contexto comunitário de stress vivido durante a pandemia de covid-19.
Foram realizados três estudos observacionais transversais. O estudo Morpheus, de base populacional, envolveu 746 jovens do concelho de Paredes e analisou determinantes sociodemográficos e comportamentais com impacto na saúde. Um segundo estudo avaliou as perspectivas de 571 jovens institucionalizados em casas de acolhimento no Norte de Portugal, focando-se nas suas preferências relativamente aos serviços de saúde. Por fim, no contexto da pandemia, foram analisadas as respostas de 3.898 jovens residentes em Portugal, explorando preocupações, comportamentos e fontes de informação sobre saúde.
Os resultados revelaram comportamentos não saudáveis frequentes, como inatividade física, alimentação inadequada e iniciação precoce ao consumo de tabaco e álcool. Os pais e os amigos foram identificados como os principais conselheiros em temas de saúde. O estudo Morpheus destacou fatores como sexo, escolaridade, desemprego, espiritualidade e perceção da saúde e aparência física como determinantes relevantes. Entre os jovens institucionalizados, as características dos profissionais de saúde – especialmente no domínio da sexualidade – foram o fator mais valorizado nas consultas. Durante a pandemia, os níveis de stress foram elevados, e a idade, o género e as fontes de informação mostraram-se determinantes. Apesar da credibilidade atribuída às instituições oficiais, a informação veiculada foi associada a maior angústia.
Estes dados evidenciam a necessidade de reforçar a comunicação em saúde, melhorar a literacia e adaptar os serviços às expectativas dos jovens, especialmente os mais vulneráveis. A Medicina Geral e Familiar, pela sua proximidade e abrangência, está numa posição privilegiada para liderar esta transformação.
Recomenda-se a implementação de estratégias integradas e multidisciplinares de promoção da saúde, focadas em atividade física, alimentação, saúde mental e prevenção do consumo de substâncias. É essencial reforçar os programas comunitários de educação para a saúde, melhorar o acesso a serviços adaptados aos jovens e avaliar continuamente a eficácia das intervenções implementadas.





