Ordem dos Médicos alerta para situação “muito preocupante” na Oncologia do Santa Maria. Hospital garante que cumpre tempos de espera

Também a Liga Portuguesa contra o Cancro diz estar preocupada com a falta de meios e de condições no Santa Maria. O diretor do Serviço revelou à TSF que já está a adiar tratamentos e está prestes a abrir uma lista de espera. Administração responde que já foram contratados mais médicos e assegura que os tempos de espera são cumpridos.

A Ordem dos Médicos (OM) considerou hoje “muito preocupante” que o Hospital de Santa Maria se tenha visto obrigado a adiar tratamentos oncológicos por “falta de médicos, outros profissionais e espaço adequado”. A posição da OM surge na sequência das revelações feitas pelo diretor do serviço de Oncologia do Hospital, Luís Costa, sobre a situação ocorrida naquele hospital de Lisboa.

Em comunicado, o presidente do Conselho Regional do Sul da OM. Alexandre Valentim Lourenço, considera que “criar listas de espera em Oncologia é correr o risco de perda de vidas”, o que considera “inadmissível e cujas responsabilidades são totalmente do Ministério da Saúde”.

Segundo Alexandre Valentim Lourenço, a liberdade de escolha dos doentes pelo hospital onde querem ser tratados é “uma excelente medida, mas falha redondamente porque falta regulamentação legislativa, financiamento e planeamento que permitam a autonomia dos serviços e dos hospitais”.

O mesmo responsável refere que, ao terem a possibilidade de escolha, os doentes procuram os hospitais que os tratam melhor e têm mais meios. Mas, se a resposta desses hospitais diferenciados não for melhorada, está-se a criar e a aumentar listas de espera, uma situação que classifica de “inaceitável” em Oncologia.

Também o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro diz estar muito preocupado com a hipótese de o Hospital de Santa Maria vir a ter uma lista de espera para tratar doentes oncológicos por falta de meios.

Questionado pela Lusa, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso, recorda que já tinha sido noticiada a existência de listas de espera para cirurgia nestes doentes, mas que se o mesmo acontecer aos tratamentos “pode fazer a diferença entre a cura e a curta sobrevivência”.

“O adiamento de tratamentos e o aumento das listas de espera de cirurgia [oncológica] pode fazer a diferença entre uma cura e uma sobrevivência pequena e com má qualidade de vida”, sublinha Vítor Veloso. O responsável frisa ainda que esta situação decorre da falta de alocação de meios para a crescente procura provocada pela possibilidade de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e diz que se os hospitais do interior tivessem meios os doentes não teriam de recorrer sempre aos grandes hospitais do litoral.

“Os hospitais do interior, que poderiam perfeitamente tratar [estes doentes], deviam ser devidamente apetrechados não só em recursos humanos, mas em material pesado. Isto desviaria os doentes de acorrerem aos hospitais mais especializados que tem tratamentos de ponta”, afirmou. “O facto de o doente poder escolher o hospital é altamente vantajoso. O erro que se tem vindo a cometer (…) é a falta de alocação de meios. É que 80% de todos os serviços especializados de oncologia estão junto do litoral”, acrescentou.

O Hospital de Santa Maria está sem capacidade para tratar os doentes com cancro que têm procurado os seus serviços, já adiou tratamentos e está prestes a abrir uma lista de espera, admitiu hoje o diretor da Oncologia. Em entrevista à rádio TSF, o diretor do serviço de Oncologia de Santa Maria, Luís Costa, disse que tem aumentado a procura por causa da lei que abre a hipótese de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e queixa-se de falta de espaço e de meios humanos.

Contudo, o administrador do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN), Carlos Martins, já veio assegurar que os tempos de espera na oncologia são cumpridos e que os problemas apontados pelo diretor do serviço foram resolvidos na quarta-feira.

“Tenho o maior respeito e consideração pelo professor Luís Costa, é um excelente diretor de departamento, é um excelente diretor de serviço, é uma pessoa responsável e, portanto, quero crer que tudo aquilo que ontem [quarta-feira] foi dito na reunião e que foi resolvido constituirá a resposta devida para algumas pequenas preocupações que existiam”, disse Carlos Martins à agência.

No que respeita a contratações, Carlos Martins disse não há “nenhum pedido pendente”. Também “não há nenhum pedido de equipamento ou obras que tenha sido recusado, nem de novas áreas. Portanto, estou tranquilo”, frisou.

Em declarações à TSF, o diretor do serviço de Oncologia de Santa Maria, Luís Costa, disse que tem aumentado a procura por causa da lei que abre a hipótese de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e queixa-se de falta de espaço e de meios humanos.

O administrador do CHLN disse que ficou “surpreendido com a notícia”, sublinhando que se impõe repor a verdade. “Importava repor a verdade porque a área oncológica não pode, nem deve ser, uma área onde haja dúvidas sobre a capacidades desta instituição, até porque somos um dos maiores serviços de oncologia do país em termos de resposta e qualidade”, comentou.

No caso concreto da oncologia médica, um dos serviços que cresceu mais em termos de recursos, disse que foram contratados mais cinco médicos e que recentemente houve mais uma contratação autorizada. Ainda na quinta-feira chegaram mais três autorizações de especialistas.

“Não só crescemos em termos de novos médicos, o serviço de oncologia tem mais cinco médicos, perdemos um neste período, formados no hospital, e também crescemos na nossa responsabilidade de formação de novos especialistas”, frisou. No cômputo geral, entre os internos que saíram e os que entraram há mais 11 médicos.

“O que nós temos é uma situação que nos orgulha a todos, ou seja, não ultrapassamos nenhuma mediana, mal era, estamos a falar de oncologia”, afirmou Carlos Martins a propósito das listas de espera, sendo o tempo médio de espera de 20 dias, salientando que houve um “crescimento assinalável”, uma média de 15%, nas primeiras consultas nos últimos dois anos.

“Este crescimento tem a ver com a liberdade de escolha. Nós costumamos dizer que são as dores de crescimento, as dores da qualidade, as dores da credibilidade da instituição, é o mesmo que a urgência. Somos a única urgência do país que cresce a dois dígitos”, frisou. Anunciou ainda que vai ser feito “um grande investimento na área da oncologia”, que será numa primeira fase de 7,5 até 10 milhões de euros, dos quais há um cofinanciamento comunitário.

“Vamos duplicar a área física da radioterapia, o número de aceleradores lineares, vamos ter uma nova TAC [Tomografia Axial Computorizada] na área da radioterapia e isto permitirá aumentar em muito a capacidade de resposta”, afirmou, salientando que “será o equipamento mais avançado da Península Ibérica”. Segundo Carlos Martins, a obra arrancará nos próximos 30 dias e deverá estar ao serviço público em janeiro de 2019.

LUSA

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