Nobel da Paz anuncia fundo mundial para as vítimas de violência sexual

Denis Mukwege, ginecologista congolês, quer replicar, nos próximos meses, os 'One Stop Centers' com a abordagem do Hospital Panzi, naquele que é o "projeto do Fundo Mundial de Reparação".

O médico congolês e prémio Nobel da Paz 2018, Denis Mukwege, anunciou o lançamento de um Fundo Mundial de Reparação às vítimas de violência sexual, que será oficializado a 31 de outubro.

Continuaremos a reclamar justiça para as vítimas em todo o mundo, traçando uma linha vermelha contra a impunidade. Continuaremos a bater-nos pelo projeto do Fundo Mundial de Reparação no qual trabalhamos desde 2010 e que será lançado oficialmente a 31 de outubro de 2019″, disse Denis Mukwege.

O anúncio foi feito, através dos canais oficiais da Fundação Panzi, numa mensagem divulgada a propósito do 20º aniversário do Hospital Panzi, fundado por Denis Mukwege, em Bakuvu, cidade da província do Kivu do Sul, na República Democrática do Congo (RDCongo).

O hospital, que acolhe feridos e deslocados de guerra, tornou-se num centro de excelência para o tratamento de vítimas de violência sexual no contexto de conflitos.

“Vinte anos após a primeira operação na sequência de uma violação com extrema violência em 1999, o Hospital de Panzi tratou mais de 55 mil vítimas de crimes sexuais”, adiantou Denis Mukwege.

Segundo o médico, este é um número em constante crescimento com entre 5 a 7 mulheres a darem entrada diariamente no hospital devido a violência sexual.

“O hospital de Panzi tornou-se num refúgio para a mulheres à procura de tratamento”, acrescentou.

Além do hospital, foram criados centros de atendimento nas comunidades rurais bem como equipas de intervenção de urgência no terreno para fazer face às “violações em massas” cometidas nas aldeias.

Por isso, defendeu o médico, nos próximos anos o desafio é continuar a manter o hospital como centro de excelência para o tratamento de vítimas de violência sexual.

Assinalando que a violência sexual em conflitos não é um problema exclusivo da RDCongo, o médico manifestou a intenção de alargar o modelo de tratamento desenvolvido no hospital Panzi a outros países com conflitos.

“Queremos que as vítimas na República Centro-Africana, no Burundi, no Iraque ou em outros lugares possam ter acesso a um tratamento holístico e a reconstruirem as suas vidas. Por isso, os ‘One Stop Centers’ que propõe a abordagem global de Panzi serão implementados nos próximos meses”, disse.

Denis Mukwege, 63 anos, é um médico ginecologista congolês e um dos maiores especialistas mundiais na reparação e tratamento de danos físicos provocados por violação. Foi distinguido em 2018, juntamente com a ativista de direitos humanos Nadia Murad, com o Prémio Nobel da Paz. Também já foi galardoado com os prémios Olof Palme (2008), Sakharov (2014) e veio a Portugal receber o Prémio Calouste Gulbenkian em 2015. Este ano foi orador das Conferências do Estoril e distinguido pela Universidade Nova com o título “Doutor Honoris Causa”.

SO/Lusa

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