Insuficiência Cardíaca: telemonitorização reduz em 73% risco de internamento

Programa, implementado há dois anos no Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte, acompanha 30 doentes com insuficiência cardíaca, a quem são monitorizados, à distância, uma série de parâmetros vitais.

Passados dois anos sobre o início do RICA-Telemonitorização, um programa de monitorização remota , não-invasiva, em doentes com insuficiência cardíaca (IC) crónica, o Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte (CHULN) faz um balanço positivo do projeto. Os resultados falam por si: a monitorização de doentes à distância já permitiu reduzir em 73% a taxa de hospitalização e/ou mortalidade por qualquer causa comparativamente ao grupo com IC seguido de forma standard, adianta a Prof. Dra. Dulce Brito, cardiologista do CHULN e coordenadora do projeto.

O RICAHFTeam começou a ser implementado em dezembro de 2017 e consiste na telemonitorização remota não invasiva de doentes com insuficiência cardíaca crónica, na sequência de um internamento hospitalar por IC, portanto, por descompensação da síndrome. O projeto em curso, iniciativa da ARS e da ACSS, nasceu da “necessidade de minimizar as consequências da IC, ou seja, diminuir a taxa de hospitalização, diminuir a mortalidade e  melhorar a qualidade de vida dos doentes com esta patologia”, sublinha a Prof. Dra. Dulce Brito, estando a ser efectivado no CHULN em colaboração com a Linde Saúde.

Uma equipa de 12 médicos, apoiados por uma plataforma gerida por outros profissionais de saúde e para onde são enviados os parâmetros vitais (os chamados biodados), mantêm os doentes sob uma vigilância sistemática não-invasiva. Os biodados incluem,  a frequência cardíaca, peso, pressão arterial, saturação do oxigénio do sangue,  temperatura e electrocardiograma dos doentes. O objetivo é detetar precocemente qualquer deterioração da situação  clínica do paciente e evitar nova descompensação da síndrome.

“O doente tem em casa os dispositivos  que lhe permitem medir os biodados diariamente e também a realização de electrocardiograma de três derivações, o qual é feito  três vezes por semana” , explica a especialista. Assim que alguma alteração é detetada, é gerado um alerta, que é depois classificado em função do grau de gravidade (por algoritmo pré-definido). O doente é sempre contactado pela equipa e, se o alerta for considerado “verdadeiro” (e não devido a erro de medição ou a problema de transmissão) são tomadas medidas apropriadas, que podem passar, explica a professora auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), por uma consulta  telefónica, com ajuste da medicação por exemplo, ou pelo agendamento de uma consulta não programada de IC. “Raramente tem havido necessidade de internamentos”, sublinha, embora se o alerta for considerado de grau moderado ou grave, possa haver necessidade de intervenção de forma urgente.

Neste momento, estão a ser telemonitorizados 30 doentes, sendo que o hospital espera incluir mais dez ao longo deste ano. Os doentes telemonitorizados são criteriosamente selecionados previamente à inclusão no programa, sendo que é dada prioridade aos considerados em maior risco de nova hospitalização.

A recetividade dos doentes ao acompanhamento à distância é, regra geral, boa, diz a Prof. Dra. Dulce Brito. “Temos tido um feedback muito positivo, que se mede pela adesão dos doentes às medições”, refere. “Todo o processo é explicado ao doente, incluindo a importância da maior vigilância da sua doença. Geralmente, quando o doente com IC é considerado como candidato a este programa, há uma reunião (que inclui também os cuidadores) informativa e explicativa, na qual as dúvidas são esclarecidas”, refere. No entanto, por vezes há doentes que recusam a telemonitorização e outros (ainda que poucos) que não se adaptam e acabam por desistir.

“Outros programas semelhantes, nomeadamente noutros países, mostraram uma taxa de adesão muito fraca por parte dos doentes, bem como uma taxa de abandono relativamente elevada. Não tem sido essa a nossa experiência”, revela a especialista, sublinhando que, para contrariar esse eventual problema, “é necessário ponderar os objectivos que se pretendem e a forma mais simples de os alcançar, pensando e actuando duma forma flexível. Por vezes temos que adaptar a periodicidade do protocolo ao estilo de vida do doente, por exemplo, em alguns doentes os biodados são medidos duma forma mais espaçada (três vezes por semana) após a situação estar muito estável clinicamente” e esclarece que “nesses doentes, a eficácia parece ser idêntica”.

Para além da redução significativa do risco de hospitalização, o programa permitiu diminuir o número de dias perdidos por hospitalização não-programada ou morte. “O grupo de doentes sob telemonitorização perdeu, em média 5,6 dias/ano (por doente), enquanto que o grupo–controlo (com as mesmas características e gravidade clínica mas seguido de forma usual e sem telemonitorização, previamente ao início do programa),  perdeu, em média, 48,8 dias/ano (por doente), destaca a cardiologista. E acentua “este tipo de seguimento é claramente vantajoso em subgrupos de doentes com IC em risco elevado de (re)hospitalização”. É o presente e o futuro.

TC/SO

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