
Especialista em Cardiologia
Hipertensão Arterial 2024. Nova abordagem, novos alvos terapêuticos
O último Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, realizado em Barcelona, alerta-nos para que a hipertensão arterial continua a ser o factor de risco cardiovascular mais prevalente em todo o mundo e também para a actualização das Recomendações no tratamento da Hipertensão Arterial, com alvos mais simples e mais agressivos. Elas introduzem um novo intervalo terapêutico para a pressão arterial (PA) sistólica de 120-129 mmHg para a maioria dos doentes tratados.
A definição de hipertensão arterial mantém-se PA ≥ 140/90 mmHg, mas as recomendações criam uma nova categoria de Pressão Arterial Elevada, definida como PA 120-139/70-89 mmHg. Ficaremos, portanto, com 3 categorias na classificação da PA- não elevada (<120/70 mmHg), PA elevada (120-139/70-89 mmHg), e hipertensão (PA ≥ 140/90 mmHg). Mas devemos lembrar que a PA é uma variável contínua que começa em valores normais de PA até atingir os valores de HTA, conforme sobe a PA assim sobe o risco cardiovascular, é por isso a PA elevada já aumenta o risco cardiovascular.
Com os critérios de PA elevada e a hipertensão, 45% dos adultos europeus terão hipertensão arterial. Deste modo, as novas recomendações incluirão mais doentes dentro do alvo terapêutico que são, por isso, candidatos a medicação de acordo com os recentes resultados de alguns ensaios clínicos, e principalmente nos doentes com risco cardiovascular elevado, como os diabéticos ou doentes com história familiar de doença cardiovascular precoce, ou SCORE-2 ≥ 10%.
Nestas recomendações propõe-se que o alvo terapêutico a atingir com o tratamento seja o mais baixo possível, desde que não apareçam efeitos secundários. Com estes novos alvos terapêuticos, deverá haver o cuidado com o aparecimento de sintomas ligados à medicação (tonturas, hipotensão artostática, quedas, etc), havendo nestes casos lugar a uma redução da mesma.
Também é chamada a atenção para os doentes com mais de 85 anos, nestes deve-se estar atento e evitar sempre o aparecimento de efeitos secundários. Do mesmo modo, nos doentes mais idosos deve prevalecer mais o critério da fragilidade na decisão terapêutica do que o da idade cronológica.
Concretamente, enquanto as recomendações anteriores consideravam para o tratamento um alvo de < 140/90 mmHg, como primeira opção, e depois disso um alvo de <130/80 mmHg, as novas recomendações aconselham para a maioria dos doentes um alvo de PA sistólica de 120-129 mmHg, se bem tolerado.
São reforçadas as recomendações na modificação dos estilos de vida, já conhecidos, mas uma atenção especial na ingestão de sódio e na suplementação com potássio. Também se reforça o conselho na medição da PA fora do consultório (medição em casa e medição ambulatória da PA) e na boa aferição dos parelhos usados em casa.
Faz-se a apologia da utilização da desnervação renal para os doentes com hipertensão arterial resistente, isto é, a PA não controlada com a utilização de 3 fármacos nas doses máximas e um dos quais deve ser um diurético tiazídico. Também se recomenda que esta prática terapêutica só deve ser realizada em doente com normal função renal e em centros com significativa experiência.