13 Ago, 2018

Grupos de doentes oncológicos funcionam como autoajuda, defende Associação Careca Power

Em plena era das redes sociais, nasceu no Facebook um grupo que acolhe e ajuda mais de 1200 doentes oncológicas. Miriam Brice, presidente da organização criada a partir desse espaço virtual, explica ao Saúde Online porque é que a Associação Careca Power não é apenas mais uma instituição, mas sim o apoio que faltava.

Miriam Brice, advogada em Lisboa, não viveu bem com a sua ‘careca’. “Era obrigar-me a andar nua”, recorda. Hoje, veste a camisola da “Careca Power”, a associação que preside e que nasceu de um grupo de facebook com o mesmo nome, a que se juntou em 2015, após o último tratamento de quimioterapia, e que “idolatra as carecas”, como a própria diz.

O nome Careca Power é anterior ao grupo. O termo foi utilizado por Marine Antunes no projeto Cancro com Humor e ainda hoje existe uma rubrica com essa designação. “Por força de uma reportagem que se fez na revista Visão, na altura, três mulheres decidiram criar o Careca Power, um grupo de facebook exclusivamente dirigido a mulheres que tenham ou que tenham tido cancro”, explica.

Tal como Miriam, outras mulheres, cerca de 1200 membros do grupo, partilham diariamente as suas experiências, dúvidas e angústias num espaço que lhes é dedicado só a elas. No início de maio deste ano, este coletivo virtual ganhou mais força com a criação da Associação Careca Power.

A associação nasceu pela necessidade de ganhar personalidade jurídica para melhor defender os direitos da comunidade oncológica.  O projeto está ainda numa fase inicial, mas à data desta entrevista, já contava com 200 associados inscritos e 100 novos registos em curso. “Normalmente, um doente oncológico tem 10 pessoas à sua volta que querem participar”. Ao contrário do que se passa no facebook, a Associação Careca Power é aberta a todos: doentes, familiares, amigos e apoiantes da causa, sejam homens ou mulheres. E apoio é o que não falta, como refere Miriam: “Orgulhamo-nos de dizer que não gastámos dinheiro. Todos os prestadores de serviço ofereceram tudo, até o domínio do site. Apenas despendemos dinheiro no merchandising para os associados”.

A organização pretende integrar serviços de psicologia e psiquiatria através de protocolos que visam beneficiar os associados, oncológicos e não-oncológicos. É uma questão que para Miriam é muito importante e que reflete um pouco aquilo que se tornou na missão do grupo: não deixar ninguém sozinho.

Apresentação da Associação Careca Power

“O grupo tem uma vantagem excelente que é a proximidade. Temos pessoas que estão isoladas, mesmo sozinhas no IPO. Ou seja, não podem estar com alguém, mas podem estar com um computador e estão acompanhas. E não há nenhuma associação que consiga fazer isto sem um suporte deste género”, sublinha e acrescenta ainda que “se há coisa que o doente oncológico sente é solidão. O grupo consegue estar em qualquer lado. A pessoa só precisa de ter um telemóvel à mão.”

A responsável adiantou que um dos projetos da associação é o de provar cientificamente que estes grupos funcionam como autoajuda e que até já existem médicos que reconhecem a sua importância. “O meu oncologista já indica o grupo a quem vai à sua consulta. Muitas das pessoas a quem eu pergunto como é que tiveram conhecimento dizem que foi através de uma palestra no IPO, por um médico ou por uma enfermeira do IPO, ou na Champalimaud”.

Ainda assim Miriam Brice salienta que o objetivo não é o de substituir os médicos. A associação marca a diferença pela proximidade e compreensão. Os órgãos sociais são compostos só por doentes oncológicos. “As pessoas que estão na associação foram escolhidas pela sua vontade de ajudar e pelo amor à camisola. Todas mantemos os nossos empregos, só nos dedicamos a isto no nosso tempo livre”, refere.

A sede, que terá lugar na Amadora num espaço cedido por uma viúva de um doente oncológico que dará nome à casa, está a ser remodelada. Quando estiver pronta será um local de portas abertas para todos, onde estarão disponíveis diferentes artigos como perucas e soutiens, e serão realizadas diversas atividades desde workshops à prática desportiva, através de uma futura parceria com um ginásio, a que se acrescentam as consultas de apoio e mesas redondas que visam a partilha de experiências.

“A associação pretende abrir o diálogo, quebrar barreiras.”

Saúde Online

Fotografia de capa – © Diana Morais

Fotografias no artigo –  © Isadora Lum

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