Gripe. Vacina reduz hospitalizações e deve ser opção a partir dos 65 anos

“Vacina contra a gripe, de dose elevada: Qual o valor em Saúde Pública?” foi o tema do simpósio da Sanofi, que decorreu, no dia 16 de outubro, na 8.ª Reunião do Núcleo de Estudos de Geriatria (NEGERMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, em Espinho. O internista, com competência em Geriatria, Paulo Almeida, e Gustavo Tato Borges, médico de Saúde Pública, defenderam a vacina de dose elevada a partir dos 65 anos, face à diminuição de complicações e hospitalizações por gripe. A sessão foi moderada por Sofia Duque, internista, com competência em Geriatria, e coordenadora do NEGERMI.

Gripe. Vacina reduz hospitalizações e deve ser opção a partir dos 65 anos

A vacina de dose elevada é mais eficaz vs as vacinas de dose padrão contra a gripe, de acordo com vários estudos realizados, diminuindo as complicações associadas ao vírus influenza e as hospitalizações por gripe ou outras causas associadas. Esta foi a mensagem principal dos especialistas que participaram no simpósio e que defenderam a sua administração, gratuitamente, a partir dos 65 anos. Como começou por lembrar Sofia Duque, “as infeções respiratórias podem ter um impacto grave nos mais idosos, podendo pôr em causa a sua capacidade funcional ou até levar à morte”.

Para o médico de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, é importante ter a noção das complicações decorrentes da gripe, sobretudo nos mais idosos. “Os gráficos do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) demonstram uma correlação entre o aumento da mortalidade e o da incidência da gripe.” Como acrescentou: “Estes dados são essenciais para que se preparem os serviços com mais camas, com maior resposta nas urgências (hospitalares e dos cuidados de saúde primários), com reforço da vacinação dos profissionais de saúde.”

O especialista lembrou que, apesar das boas taxas de vacinação de Portugal, a cobertura nacional é atingida tarde demais, daí o aumento das infeções após as épocas festivas de Natal e Ano Novo. Paulo Almeida corrobora a informação, realçando que, de acordo com o INSA, na época gripal do ano passado, a cobertura vacinal nos idosos com 85 ou mais anos de idade situava-se nos 84%, mas, nos 65-74 anos ficava-se apenas pelos 69%. “Temos de vacinar mais cedo, de preferência até dezembro, antes das épocas festivas.”

O internista destacou os resultados do estudo BARI, nacional, que analisou dez épocas sazonais (2008/09 a 2018/19). Esta análise revelou que mais de 65% dos doentes tinham comorbilidades e que as mesmas estavam associadas a mais tempo de internamento, oxigenoterapia, ventilação mecânica invasiva e não invasiva  e , por conseguinte, a um maior custo com internamentos.

Eficácia relativa superior de 24,2% na prevenção de casos de gripe

Face ao impacto da gripe, Paulo Almeida defende que o ideal seria vacinar todas as pessoas com 65 anos ou mais com a vacina de dose elevada contra a gripe. Lembre-se que, na época gripal 2025/2026, a vacina de dose elevada está disponível gratuitamente a idosos residentes em ERPI ou unidades de cuidados continuados e a pessoas com 85 anos ou mais. A exceção é a região da Madeira, onde é administrada, de forma gratuita, a partir dos 75 anos.

“A vacina de dose elevada contra a gripe é mais eficaz do que a de dose padrão, reduzindo hospitalizações por problemas cardiorrespiratórios (16,7%), hospitalizações por pneumonia/gripe (14,4%) e por todas as causas (8,2%), de acordo com estudos”, frisou.

O internista realçou que a vacina de dose elevada, que começou por ser administrada em  Portugal em 2022 – apenas a idosos institucionalizados – demostrou eficácia relativa superior de 24,2% na prevenção de casos de gripe confirmados laboratorialmente, causada por qualquer tipo/subtipo viral de gripe vs a vacina de dose padrão. “É uma vantagem bastante significativa. Existe também um bom perfil de segurança, já que já foram administradas mais de 300 milhões de doses.”

Dos estudos apresentados, destaque para o DANFLU-2 e GALFLU que “não são apenas ensaios clínicos pragmáticos em grande escala, tendo-se avaliado a vacina de dose elevada em condições reais”. O estudo FLUNITY-HD, que envolveu quase meio milhão de adultos mais velhos, demonstrou, também, que a vacina de dose elevada reduz significativamente o risco de hospitalizações por gripe, pneumonia, doenças cardiorrespiratórias e até mortalidade por qualquer causa.

Recomendações do NEGERMI na Acta Médica Portuguesa

Gustavo Tato Borges também defende o alargamento da vacina de dose elevada a partir dos 65 anos, já que tem quatro vezes mais antigénio, “dando assim resposta à imunossenescência dos idosos”. O médico de Saúde Pública alertou, ainda, para a importância dos médicos estarem atentos a ferramentas como o Vacinómetro, que mostra em tempo real a evolução da cobertura vacinal. E apelou a que se aposte na literacia em saúde, lembrando, todos os anos, a importância da vacinação.

Sofia Duque, como coordenadora do NEGERMI, anunciou ainda a publicação, dentro em breve, na Acta Médica Portuguesa, de recomendações para a vacinação de adultos mais velhos. Em suma, as pessoas entre 50-64 anos podem ser vacinadas com a vacina de dose padrão – atualmente trivalente, desde que desapareceu a linhagem B/Yamagata. A partir dos 65 anos, recomenda-se a vacina de dose elevada. Em ambas as faixas etárias, o ideal é que a vacinação ocorra em outubro-novembro, antes das épocas festivas, de acordo com o NEGERMI.

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