3 Set, 2020

Fim da PPP de Loures é “enorme ameaça” a Medicina na Católica, diz OM

Ordem dos Médicos alerta que grupo Luz Saúde vai sair da gestão do Hospital de Loures, a principal instituição onde os estudantes terão formação clínica, no início de 2022.

Afinal, a Ordem dos Médicos (OM) não deu nenhum parecer positivo ao curso de medicina da Universidade Católica, ao contrário do que foi dito pelo presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), o organismo que aprovou o curso.

A OM sempre se mostrou contra a abertura deste curso, e de outros em faculdades privadas, e mantém essa posição. A Ordem refere que enviou os seus pareceres à A3ES no passado dia 14 de agosto. “Tendo em consideração o condicionamento político prévio a que se assistiu nos últimos meses, e que oportunamente a Ordem dos Médicos lamentou, a decisão foi ao encontro do que era esperado, com a esfera política a prevalecer sobre a esfera técnica”, disse o Bastonário, Miguel Guimarães.

A OM levanta várias reservas quanto ao curso. A principal diz respeito à formação clínica dada aos alunos. Isto porque o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, que será a principal instituição de saúde onde os estudantes realizarão a formação prática, deixará de ser uma Parceria Público-Privada (PPP) no início de 2022.

Luz Saúde sai do Hospital de Loures no início de 2022

O governo decidiu não renovar o atual contrato com o grupo Luz Saúde, que gere o hospital, e que termina em janeiro de 2022. Será lançado um novo concurso, que pode terminar com a escolha de outro grupo privado para gerir o hospital. Ora, o grupo Luz Saúde é um dos principais parceiros do curso de Medicina na Católica, o que, alerta a OM, pode ameaçar a formação clínica logo no primeiro ano letivo de funcionamento, em 2021/22.

O Hospital Beatriz Ângelo é, “indubitavelmente, aquela que reúne as melhores condições para assegurar um processo de ensino/aprendizagem com qualidade“, sublinha a OM, uma vez que as outras unidades de saúde privadas do grupo na área de Lisboa (Hospital da Luz e o Hospital do Mar Lisboa) têm menor diferenciação clínica e diversidade de patologias, o que limitará a formação dos estudantes.

Para além da questão da formação clínica, a OM levanta outra condicionantes, como a falta de locais de estágio para os estudantes. A OM teme que “seja inviável acrescentar mais 100 estudantes nas unidades de saúde sem colocar em causa a qualidade formativa e/ou o atendimento aos utentes”.

 

Conselho das Escolas lamenta e recusa “vulgarização do ensino médico”

 

Há dois anos, quando foi chamada a pronunciar-se sobre o curso, o organismo liderado por Miguel Guimarães também alertava para a sobreposição de oferta, uma vez que a abertura do curso representaria uma terceira formação em Medicina na região de Lisboa, e uma transferência de “parte do pessoal da Universidade de Lisboa e da Universidade Nova de Lisboa” para a Católica.

Já o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), que agrega representantes de oito instituições públicas, lamenta a aprovação do curso, alegando que houve cedência “a forte pressão de agentes políticos”.

Em comunicado, o CEMP evoca “o consenso” entre o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, a Associação Nacional dos Estudantes de Medicina e a Ordem dos Médicos, que “têm o conhecimento adequado sobre o ensino médico em Portugal”, sobre “a não oportunidade” de um novo curso de Medicina.

“Não queremos a vulgarização e banalização do ensino médico e, sobretudo, a desadequação àquilo que são as reais necessidades do país”, advoga o CEMP, acrescentando que “aumentar a oferta formativa em Portugal contribui apenas para engrossar o número de médicos indiferenciados, sem saída profissional, que não seja a emigração ou a sujeição a contratações por empresas de fornecimento de serviços indiferenciados”.

SO/LUSA

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