17 Fev, 2022

Faltam psicólogos nos centros de saúde, alerta bastonário

“Num centro de saúde espera-se seis meses para marcar uma primeira consulta e depois mais seis meses para uma segunda ”, critica Francisco Miranda Rodrigues.

Existe falta de investimento na saúde mental em Portugal, especialmente nos cuidados oferecidos nos centros de saúde, alerta o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, em entrevista à CNN Portugal. O especialista em Psicologia defende que é fundamental existirem prioridades políticas que promovam medidas no âmbito da saúde psicológica.

O investimento nos centros de saúde é quase impercetível. “Há 20 anos que não abria um concurso e um concurso que abriu há quatro anos continua sem ter ninguém colocado. Há coisas que estão por resolver e há coisas que têm de mudar para que isto não aconteça sistematicamente. Eu não ouço ninguém dizer que não faltam psicólogos nos centros de saúde, mas não se está a discutir essa necessidade”, sustenta.

De acordo com dados disponíveis, “para os centros de saúde temos um rácio de 2,5 psicólogos em mil habitantes. Temos um número de psicólogos que é inferior a uma média de um por concelho” e “na maior parte dos sítios e na melhor das hipóteses, num centro de saúde espera-se seis meses para marcar uma primeira consulta e depois pode esperar mais seis meses para uma segunda”, o que é impensável para um acompanhamento adequado do doente.

“A questão dos psicólogos nos centros de saúde não tem que ver só com saúde mental”, defende o psicólogo. “O trabalho dos psicólogos não é um trabalho apenas na área da saúde mental e muito menos apenas sobre doença mental, é um trabalho preventivo, é um trabalho mais precoce, é um trabalho da saúde mental e da saúde no global. É nesta lógica que defendemos que é preciso fazer muito mais e sobre o qual ainda não vimos os compromissos necessários”.

Sendo impossível fazer ainda um verdadeiro balanço sobre o impacto da pandemia na saúde mental dos portugueses, “a maior parte da população acabou por sentir sofrimento psicológico”, garante o bastonário. “Existiram pessoas que acabaram por desenvolver situações mais graves de perturbação mental e até pessoas que já tinham perturbações e que as agravaram. Tivemos de tudo isto um pouco”.

Por isso, existe “uma mudança de paradigma que é necessária fazer”, já que “no domínio da saúde mental, não é só a pessoa que tem doença mental que tem de ser acompanhada, até porque não nos permite ter uma atitude preventiva relativamente aos problemas que surgem na saúde mental”. Se não se der este salto, “acabamos por não ter uma política de saúde mental, acabamos por ter uma política de doença mental”, lamenta o psicólogo.

SO

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