Equipas comunitárias de saúde mental reduziram internamentos em mais de 26%
O trabalho destas equipas comunitárias de saúde mental contribuiu, no ano passado, para uma diminuição superior a 30% nos dias de internamento e de 46,7% nos reinternamentos.

Cinco equipas comunitárias de saúde mental permitiram, em 2023, uma redução superior a 26% nos internamentos e uma poupança anual estimada entre 2,3 e 2,6 milhões de euros para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os dados constam de um estudo de avaliação económica das equipas financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que a Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental apresenta esta quinta-feira, em Lisboa.
De acordo com o relatório, a que a agência Lusa teve acesso, o trabalho destas equipas contribuiu, no ano passado, para uma diminuição superior a 30% nos dias de internamento e de 46,7% nos reinternamentos. Em 2022, já se tinha verificado uma redução de 28,4% no número de internamentos, de 26% nos dias de internamento e de 38,4% nos reinternamentos, confirmando uma tendência de melhoria consistente.
O estudo avaliou cinco das 40 equipas comunitárias de saúde mental financiadas pelo PRR e concluiu que, por cada euro investido, o retorno foi de 12,90 euros em 2022 e de 14,50 euros em 2023. As poupanças obtidas nestas cinco equipas seriam suficientes para financiar entre 11 e 13 novas equipas. “O retorno oferecido é absolutamente avassalador”, afirmou o coordenador nacional das políticas de saúde mental, Miguel Xavier. “Se isto foi o estimado para estas cinco equipas, imagine-se o impacto de 50”, acrescentou.
Cada equipa tem um custo médio anual de cerca de 170 mil euros. Miguel Xavier defendeu que, perante estes resultados, é essencial garantir a continuidade do financiamento e a cobertura total do território.
Segundo o responsável, o estudo incidiu sobre equipas completas criadas ao abrigo do PRR, sublinhando que muitas das outras cerca de 100 equipas existentes no país ainda não estão totalmente formadas. “Estes resultados só se conseguem com equipas completas. Isto é mesmo um trabalho de equipa”, frisou.
O coordenador destacou ainda a importância de um elemento aparentemente simples, mas determinante: a mobilidade. “Quando montámos as equipas PRR, demos um carro a cada uma. Só assim conseguem ir a casa das pessoas”, referiu, acrescentando que está em curso um concurso público de um milhão de euros para equipar com viaturas as equipas não financiadas pelo PRR.
Além dos ganhos clínicos e económicos, o estudo identifica também benefícios ambientais. A redução de 26% dos dias de internamento em 2022, face a 2019, correspondeu a menos 25 a 34 toneladas de resíduos hospitalares por ano nas cinco áreas avaliadas. Extrapolando para o país, uma redução de 28,4% dos internamentos equivaleria a cerca de 4.000 internamentos e 86 mil dias de internamento evitados, o que representaria entre 520 e 690 toneladas de resíduos hospitalares a menos anualmente.
“O impacto das equipas comunitárias de saúde mental ultrapassa os números: promove proximidade, continuidade de cuidados e reduz desigualdades. Estes resultados mostram a sustentabilidade e o potencial de expansão do modelo”, sublinhou Miguel Xavier.
As 40 equipas financiadas pelo PRR — destinadas tanto a adultos como a crianças e adolescentes — prestam cuidados globais de saúde mental na comunidade, abrangendo populações entre 50.000 e 100.000 habitantes, em articulação com os cuidados de saúde primários, hospitais e parceiros sociais.
SO/LUSA
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