15 Mai, 2018

Em maio a luta faz-se contra um dos carcinomas mais comuns – o cancro da bexiga

Sabia que o tabagismo é o principal fator de risco para o aparecimento do cancro da bexiga? E que este carcinoma é mais frequente nos homens? Em pleno mês de sensibilização, a oncologista Joana Febra, do Centro Hospitalar do Porto, esclarece estas e outras questões em entrevista ao SaúdeOnline.

SO | O que é o cancro da Bexiga?

Joana Febra (JF) | É um tumor maligno, também conhecido como carcinoma urotelial, que pode estar associado a uma série de características, sintomas e sinais de alerta que ainda não são conhecidos pela população em geral, mas que existem porque o cancro da bexiga constituiu um dos 10 tipos de cancro mais frequentes de todo o mundo.

SO | Quais são os principais sintomas?

JF | Inicialmente pode haver uma confusão com uma infeção por serem sintomas pouco específicos, mas o que aparece com mais frequência e que deve constituir um sinal de alerta é o aparecimento de sangue na urina que é a chamada hematúria.

A hematúria acontece em cerca de 85% dos casos e pode aparecer isoladamente ou acompanhada de outros sintomas como, por exemplo, ardência e dor ao urinar, sensação de esvaziamento incompleto ou aumento da frequência da micção.

Depois também podem aparecer sintomas mais gerais como a dor lombar, dor abdominal e perda de peso inexplicável.

SO | E as causas?

JF | As causas ainda não estão totalmente esclarecidas. Mas de facto há vários fatores que se relacionam com o aparecimento do cancro da bexiga e o principal é o tabagismo. Este fator aumenta a probabilidade em 3 vezes.

Sabemos também que é mais frequente em idades superiores aos 65 anos, no género masculino e na etnia caucasiana. A exposição a agentes químicos como tinta ou borracha também podem ser um fator de risco. E depois podemos considerar a história genética ou familiar deste cancro, historial de infeções crónicas na bexiga e alterações congénitas.

SO | Qual é o tratamento?

JF | O tratamento do cancro da bexiga varia consoante o estado no diagnóstico. Se estamos a falar numa fase inicial, quando a doença está muito localizada, podemos fazer um tratamento curativo, que consiste numa cirurgia, ou tratamento intravesical. Quando o cancro já está mais avançando e não conseguimos operar, já passa por um tratamento sistémico por todo o corpo incluindo a quimioterapia ou a imunoterapia, e eventualmente a radioterapia.

SO | Como avalia os avanços científicos que têm sido realizados nesta área?

Temos assistido a uma boa evolução. Temos estudos com vários fármacos específicos e que podem induzir uma resposta mais apropriada contra o cancro da bexiga. Isto é muito bom. Com esta evolução, podemos tratar melhor os nossos doentes a um curto prazo, espero eu. Tendo estes ensaios por base podemos perceber como funciona e tentar descobrir as verdadeiras causas do cancro da bexiga.

SO | Como é que é feito o diagnóstico?

JF | Uma vez que tratamento varia consoante a fase em que se encontra a doença, é importante diagnosticar precocemente. Para isso, temos que estar alerta aos sintomas de alarme para recorrer ao médico o mais cedo possível e a partir daí fazemos uma história clínica detalhada, um exame físico detalhado e depois os exames auxiliares de diagnóstico.

No caso do cancro da bexiga, os mais importantes são a citologia urinária, a cistoscopia e a biópsia. Além disso, podemos usar como exames de imagem a ecografia ou ressonância.

SO | Qual a expressão desta doença em Portugal?

JF | Em Portugal, sabemos que se estima que sejam diagnosticados anualmente 1900 casos de cancro da bexiga. Segundo dados do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas de 2014, a incidência no país situou-se em 17.6 por cada 100 mil habitantes, sendo que este valor sobe para 29 em cada 100 mil habitantes considerando apenas o sexo masculino.

SO | Em pleno mês do Cancro da Bexiga, o que é importante reter desta sensibilização?

JF | É fundamental saber o que é o cancro da bexiga, que está entre os 10 mais comuns e que ainda é desconhecido pela população. O mais importante é explicar quais os sinais de alerta para que não sejam desvalorizados ou ocultados pelos doentes, que são maioritariamente homens.

Ao dar a conhecer os sintomas para que a população fique atenta, perca os preconceitos e possa agir precocemente, podemos depois diagnosticar mais rapidamente em estágios iniciais e alcançar maiores sobrevivências e poupar vidas, obviamente.

SaúdeOnline

 

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