Deixar Obra Feita no SNS
Medicina Interna do Centro Hospitalar Universitário de Santo António

Deixar Obra Feita no SNS

Este título foi-me sugerido pela imagem de um magnífico Centro de Saúde da Região de Lisboa, com uma interminável fila de idosos, acumulados desde a madrugada, para marcarem uma consulta médica. Isto não se passa numa zona distante e desfavorecida do País, mas sim na área metropolitana da capital.

O edifício novo e resplandecente, parecia manchado por aquela amálgama de gente “terceiro-mundista”. Tinha nascido para oferecer eficiência e bons cuidados assistenciais à população, pelo que não previu a necessidade de bancos de espera no exterior ou quaisquer resguardos para as intempéries. Na fotografia, o edifício parecia deslocado e “mal empregue”. Para prestar tão maus Serviços de Saúde, bastaria um vão de escada.

Depois, vi a notícia da construção do Hospital de Todos os Santos. Agora é que vai ser. A maquete é bonita, o grande Hospital de Lisboa vai ser o maior e assegura-se agora que estará contemplada a proteção antissísmica.

Mas, o que vai ser mesmo já, segundo o anúncio conjunto do Ministério da Saúde e da Direção Executiva do SNS, é a renovação nacional dos blocos de partos. A urgência em preencher as escalas médicas das maternidades deu lugar à necessidade imperiosa de renovar as instalações. Talvez se justifique o fecho de maternidades por causa da realização de obras urgentes. No verão parece menos razoável e, apenas conveniente, como “gato escondido com o rabo de fora”. O que é certo é que vão ser gastos muitos milhões e as instalações vão ficar ótimas!

Para recuperarmos o SNS, voltando a tê-lo eficiente, querido e reconhecido pela população, mantendo os excelentes indicadores de saúde que ainda temos, o mais importante são as pessoas. Toda a equipa de saúde é relevante, mas é o acesso ao Médico que determina o grau de satisfação do doente e a eficiência do sistema. O SNS continua a perder Médicos para os Hospitais Privados, transferindo para eles toda a sua atividade ou fazendo-o a tempo parcial. Não é só o número de Médicos que importa, mas sim as horas que têm disponíveis.

O Ministério da Saúde e a Direção Executiva do SNS continuam sem dar medidas concretas que retenham Médicos no serviço público. Nada sobre a revisão e valorização das carreiras médicas. Alguns “foguetes” à volta dos Centros de Responsabilidade Integrada (CRI), com aplicação restrita aos Serviços Cirúrgicos. Têm dificuldade em explicar o que é a “dedicação plena”, mas sabem que não será “exclusiva”. Só falam de incentivos remuneratórios no Serviço de Urgência, porque a política de saúde continua ao sabor das manchetes dos jornais. Prevalece a gestão da espuma dos dias, sem reformas de coisa nenhuma. A obra que vão deixar pode perdurar por ser de cimento, excelente arquitetura e custar muitos milhões de euros. Mas, sem reformas organizacionais, não servirá as pessoas e não salva o SNS!

 

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