15 Nov, 2021

Atrasos nos diagnósticos de cancro. “Vamos assistir a uma diminuição da sobrevivência”

A sobrevivência de cancro vinha numa trajetória ascendente, tendência que vai ser interrompida, nos próximos anos, pelos atrasos nos diagnósticos causados pela pandemia, alerta a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia.

Prevê-se que metade das pessoas venha a ter cancro durante a vida. No entanto ao mesmo tempo que assistimos a este aumento da incidência, regista-se também um aumento da sobrevivência. Que desafios nos reservam os próximos anos?

A incidência tem vindo a aumentar mas, ao mesmo tempo, as curvas de sobrevivência têm subido. O aumento da incidência tem sobretudo a ver com o envelhecimento da população – o principal fator de risco do cancro é a idade – e também com os hábitos de vida, como o tabagismo, uma alimentação rica em gorduras e carne e pobre em vegetais e frutas, a obesidade. 40% dos cancros são evitáveis se controlarmos estes fatores.

Já quanto ao aumento da sobrevivência, isso tem a ver com o melhor screening e diagnóstico precoce dos tumores e também a tratamentos mais eficazes. Assistimos na última década, a um fantástico aumento do número de armas terapêuticas ao nosso dispor, como é o caso da imunoterapia e das terapêuticas-alvo, que permitem personalizar o tratamento. O que fazemos é ir à procura de uma alteração no tumor, de forma a tratar com um medicamento dirigido a essa alteração – a isto se chama medicina de precisão. Tornámos o cancro numa doença crónica.

Os principais desafios que temos são a melhoria do diagnóstico precoce e a manutenção da sustentabilidade do sistema, isto é, termos a capacidade de garantir recursos humanos e tecnologia para conseguirmos tratar os doentes da melhor forma.

Preocupa-a a queda dos diagnósticos de cancro durante a pandemia?

Nesta fase pandémica, houve um desvio dos recursos humanos para o tratamento da infeção pelo SARS-CoV-2 e isso fez com que houvesse um maior número de cancros por diagnosticar e que estão a ser diagnosticados numa fase mais avançada, o que complexifica o tratamento e diminui a possibilidade de cura. Daqui a três, quatro a cinco anos, vamos assistir a numa diminuição da sobrevivência por cancro.

Essa já é uma certeza para os oncologistas?

É quase uma certeza. Nós temos de ter acesso ao registo nacional oncológico para confirmar que o diagnóstico do cancro se tem feito com a doença em fases mais avançadas. Mas a perceção que temos é essa. Tem havido alguma recuperação dos diagnósticos, embora não total, até porque os centros de saúde ainda não estão a funcionar a 100%.

SO

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