2 Ago, 2019

Asma: Inaladores com corticosteroides nem sempre são a melhor terapêutica

Há que ter em conta vários fatores para definir a terapêutica para os pacientes. Nem sempre a mais comum é a mais acertada.

Cada vez mais se verificam casos de asma, sendo que o recomendado numa primeira linha de tratamento é a utilização de inaladores que contêm corticosteroides (ICS, sigla para inhaled corticosteroid) cada vez em idades mais precoces e frequentemente. Na edição deste ano Global Initiative for Asthma (GINA) debateu-se a importância desta terapêutica, tendo sido emitas diretrizes que afirmam que este é o tratamento adequado numa primeira intervenção (para a etapa1 da Asma). No entanto, Aaron Holley, médico do Centro Médico Militar Walter Reed, acredita que esta alteração aumentará ainda mais o uso do ICS.

“A lógica por trás do uso do ICS cedo e com frequência é boa, mas quando se trata de asma, nada é simples”, explica, esclarecendo ainda que existem vários problemas. O primeiro reside nos diagnosticados errados, que acontece, de acordo com o especialista, em grande escala.

As estimativas apontam que esse fenómeno acontece entre 30 e 35%. “Mesmo quando o diagnóstico está correto, cerca de 50% dos pacientes com a doença terão um fenótipo não-sinosofílico, de tipo 2, o que faz com que tenham uma menor probabilidade de responder ao ICS”, explica. Independentemente dos cenários, os médicos continuam a prescrever a mesma terapêutica, só que com doses superiores.

De acordo com Aaron Holley, o ICS é seguro e a sua absorção sistémica é mínima. Diz, ironizando a situação: “É melhor garantir que todos os asmáticos têm ICS consigo, correndo o risco de ‘overtreating‘, do que suspender a terapia de alguém que precisa dela.”

Mas, a verdade é que o ICS não está livre de riscos, uma vez que, à medida que a dose aumentada, os efeitos adversos sobrepõem-se à dicotomia entre o risco e o benefício que esta terapia proporciona aos doentes que dela necessitam.

Um estudo recente estima que a eficácia é tanto maior quanto menos for a dose medicamentosa – mais de 90% da eficácia é alcançada com uma dose “mais baixa” de ICS. Desta forma, à medida que a dose vai sendo aumentada, dá-se aquilo a que se chama de relação inversamente proporcional, ou seja, o benefício da medicação decresce de forma acentuada, não esquecendo que os efeitos colaterais, por sua vez, crescem exponencialmente.

“Os pacientes com a forma da doença leve são particularmente problemáticos”, visto que compõem a maioria dos doentes diagnosticada com asma (entre 50% a 75%) , e são também, de acordo com o médico norte-americano “o grupo com maior probabilidade de ser afetado pelas mudanças na etapa 1 nas diretrizes da GINA”.

Outro estudo recente observou altas taxas de asma não-sinosófila neste grupo, sendo que a resposta ao ICS não se difereciou do placebo.

Conclusão: A abordagem “early and often” (cedo e com frequência, em português) para o ICS é boa. No entanto, o especialista do Centro Médico Militar Walter Reed, alerta que “se o seu paciente não estiver a responder ao tratamento e se continuar a aumentar a dose de ICS para sintomas persistentes, verifique se o diagnóstico foi corretamente efetuado”. Após essa confirmação, “observe a contagem de eosinófilos no soro do paciente e assegure-se que tem o fenótipo de asma correto. Em caso de dúvida, procure um bom pneumologista para encaminhar o paciente”, finalizou.

EQ/SO

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