<i class="iconlock fa fa-lock fa-1x" aria-hidden="true" style="color:#e82d43;"></i> Rinossinusite: Prevalência, desafios e a importância da uniformização na abordagem
Médico de família na USF João Semana Membro da coordenação do GRESP www.3passos.pt

Rinossinusite: Prevalência, desafios e a importância da uniformização na abordagem

A rinossinusite é uma das patologias mais frequentes em cuidados de saúde primários (CSP). De acordo com dados da plataforma BICSP, a codificação R75 – sinusite aguda/crónica encontra-se registada como problema ativo em mais de 480.000 pacientes em dez 2024, correspondendo a 5,3% da população portuguesa com algum problema ativo registado. Em 2024, realizaram-se mais de 140.000 consultas nos CSP de Portugal continental a cerca de 115.000 doentes por sinusite, evidenciando o impacto desta condição.

No ano passado, o GRESP lançou o Guia Prático – Abordagem da Rinossinusite Aguda e Crónica, disponível na sua página oficial (www.gresp.pt). Este documento estrutura de forma clara os diferentes tipos de rinossinusite, a sua gestão e tratamentos, sendo uma ferramenta essencial para uniformizar as boas práticas clínicas. A diversidade de abordagens entre profissionais de saúde é frequente, reforçando a necessidade de guias como este para promover intervenções baseadas em evidências.

A correta abordagem da rinossinusite exige consciência de que se trata de uma patologia com um curso natural frequentemente demorado. Este facto deve alertar para a prescrição criteriosa de antibióticos, evitando o seu uso sistemático e desnecessário, sobretudo em fases não infecciosas das rinossinusites agudas. É frequente a utilização de esquemas prolongados de antibióticos em situações que não os requerem. As orientações mais recentes recomendam, no caso de rinossinusites bacterianas, esquemas de 5 dias nos adultos e 10 dias nas crianças, promovendo um uso racional e eficaz destas terapias.

Um tipo particular de rinossinusite que merece destaque é a sinusite odontogénica, uma condição recorrente e por vezes difícil de diagnosticar. Nestes casos, uma inspeção detalhada da cavidade oral, uma história clínica cuidadosa e sinais específicos, como unilateralidade no seio maxilar e odor nasal fétido, podem apontar para uma origem dentária. A solução passa sempre por tratar a causa dentária subjacente, como infeções ou lesões periodontais, em colaboração com a medicina dentária.

Quanto à rinossinusite crónica, esta representa um verdadeiro desafio no diagnóstico e tratamento, dado o seu caráter multifatorial. Fatores genéticos, anatómicos e ambientais, como alergias e exposição a poluentes, contribuem para a dificuldade de resolução completa da doença. Muitas vezes, é necessário o acompanhamento por otorrinolaringologia (ORL), especialmente em casos complexos. Uma dica diagnóstica essencial é a realização de uma tomografia computorizada (TC) dos seios paranasais fora de períodos de agudização. Este exame permite avaliar a anatomia detalhada, identificando possíveis causas como desvios de septo, obstrução de óstios ou presença de pólipos.

Na prática clínica, outro aspeto frequentemente subestimado é o nível de conhecimento dos pacientes sobre a rinossinusite. Na consulta, ao questioná-los sobre o que sabem sobre a condição, é comum encontrar respostas vagas. Mostrar-lhes imagens da anatomia dos seios paranasais tem sido uma ferramenta útil para esclarecer o processo patológico e a importância de cada intervenção terapêutica, desde o tratamento agudo até as estratégias preventivas.

Por fim, é importante mencionar o uso inadequado de medicamentos de venda livre, como anti-histamínicos e vasoconstritores orais, frequentemente utilizados por vários dias na expectativa de tratar a sinusite. Embora possam oferecer alívio momentâneo, estes medicamentos podem atrasar a resolução completa do quadro clínico.

A rinossinusite é uma condição prevalente que exige uma abordagem baseada em evidências, padronizada e bem informada. Com boas práticas e educação, grande parte dos casos pode ser resolvida no domicílio, reservando os recursos de saúde para as situações mais complexas, como as rinossinusites bacterianas ou crónicas.

 

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