29 Nov, 2019

Programa FOCUS promete erradicar hepatite C na Madeira

A implementação do programa, financiado pela Gilead Sciences, promete influir decisivamente no rastreio do VIH bem como das hepatites virais naquela região, uma vez que permitirá reduzir o tempo entre o rastreio, o diagnóstico e o tratamento.

Na foto da esquerda para a direita: Vítor Magno Pereira; Ana Paula Reis; Pedro Ramos; Inês Ribeiro; Luís Jasmins; Diogo Medina

O programa FOCUS foi apresentado no passado dia 22 de novembro, numa cerimónia que decorreu na sala de conferências da Secretaria Regional de Saúde e Proteção Civil da Madeira, perante uma plateia composta por várias dezenas de pessoas, entre as quais médicos de especialidades como Infeciologia e Gastroenterologia. A presidir à cerimónia esteve o secretário regional de Saúde e Proteção Civil, Pedro Ramos.

A implementação do programa FOCUS, financiado pela empresa biofarmacêutica Gilead Sciences, promete influir decisivamente no rastreio do vírus da imunodeficiência humana (VIH) bem como das hepatites virais naquela região, uma vez que permitirá reduzir o tempo entre o rastreio, o diagnóstico e o tratamento, respondendo a diversas recomendações internacionais, designadamente da OMS e da UNAIDS.

“A Madeira, ao iniciar este projeto, conta também poupar dinheiro, não só nas cirroses, não só no aparecimento do cancro hepático, mas também na necessidade de transplante”, sublinhou Pedro Ramos, secretário regional da Saúde

O Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM) irá fazer o tirocínio, dado que é a primeira organização pública selecionada em Portugal para desenvolver este projeto, que chega à ilha na sequência de um acordo de colaboração celebrado entre o Instituto de Administração da Saúde, IP-RAM, o SESARAM e a Gilead Sciences, promotora da iniciativa nos EUA e entidade financiadora do projeto no nosso país.

 

Em que consiste o programa FOCUS?

 

O FOCUS é uma iniciativa de saúde pública cujo fito consiste em desenvolver e implementar as melhores práticas no rastreio e diagnóstico dos vírus transmissíveis pelo sangue, como é o caso do VIH e hepatites virais, fazendo-o de acordo com as diretrizes de rastreio de cada país e com ligação concomitante aos cuidados de saúde.

Tendo surgido em 2010, nos Estados Unidos da América, o projeto já apoiou mais de 300 organizações em menos de uma década. Este programa de saúde pública tem prestado um inestimável contributo neste âmbito, tendo viabilizado até ao momento a realização de mais de nove milhões de rastreios sanguíneos para o VIH, bem como para as hepatites B e C, em diversos países.

 

Médicos acreditam na erradicação da hepatite C antes de 2030

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu para todos os países o objetivo de erradicar a hepatite C como problema de saúde pública até 2030.

Dr. Vítor Magno Pereira: “O algoritmo informático vai permitir identificar automaticamente os utentes que devem ser rastreados”

Investigadores do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa mostram-se relutantes quanto à possibilidade de Portugal alcançar essa meta de forma tempestiva (antes de 2030).

Ora, os profissionais de saúde madeirenses, mais concretamente os médicos, têm uma visão diametralmente oposta, sendo unânimes na convicção de que a meta é atingível na Madeira. Muito por causa do programa FOCUS.

Instado a pronunciar-se sobre a prossecução deste objetivo, Luís Jasmins, diretor do Serviço de Gastroenterologia do SESARAM, foi perentório. “Acho que a Madeira, com a ajuda do programa FOCUS, vai conseguir erradicar a hepatite C antes do resto do país”, começou por dizer, reiterando: “Nós vamos com certeza erradicar a hepatite C antes de 2030. Temos expectativas muito boas face a este programa”.

Vítor Magno Pereira, médico gastroenterologista no Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal concorda, manifestando-se confiante na exequibilidade do objetivo de erradicar a hepatite C antes do prazo estipulado pela Organização Mundial de Saúde, facto a que não é alheia a implementação do FOCUS naquela região.

“Agora com este reforço (FOCUS) na Madeira acabamos por ter uma grande vantagem relativamente ao resto do país e estamos confiantes de que vamos conseguir atingir os objetivos. Estamos numa posição favorável para o fazer antes do tempo”, ressalta.

Ana Paula Reis, diretora do Serviço de Infeciologia do SESARAM, tece comentários laudatórios acerca do programa, referindo que o mesmo será “muito importante” no que concerne ao “diagnóstico precoce”.

“O programa FOCUS vai ser muito importante porque vamos conseguir diagnosticar mais cedo e com esta facilidade nos testes não há dúvida de que tudo correrá melhor. Vai ser uma mais-valia para o diagnóstico precoce, que é isso que se pretende. Estamos a tratar da hepatite C até 2030 e queremos também erradicar a infeção pelo VIH. Este projeto será sem dúvida uma mais-valia”, afirma.

Também o titular da pasta da Saúde, Pedro Ramos, prevê a erradicação da hepatite C na Madeira antes do prazo estipulado pela OMS.

Dra. Ana Paula Reis: “Vamos conseguir diagnosticar mais cedo e com esta facilidade nos testes não há dúvida de que tudo correrá melhor”

“Estou convicto de que o programa FOCUS pode contribuir para erradicar a hepatite C na Região antes de 2030, uma vez que a Madeira tem caraterísticas de laboratório onde será muito mais fácil implementar esta estratégia, acompanhá-la e conseguir os resultados muito mais atempadamente. Temos boas expectativas face a este programa”.

 

“Este projeto permite poupanças”, diz Pedro Ramos

 

O secretário regional de Saúde e Proteção Civil da Madeira destaca a importância do projeto FOCUS na prossecução do intento não só de “eliminar a hepatite C da Região Autónoma da Madeira”, mas também de “cumprir com os compromissos estabelecidos pela OMS no que diz respeito ao VIH, que são os objetivos dos 90-90-90 (90% dos indivíduos com VIH diagnosticados, 90% dos utentes diagnosticados submetidos a tratamento e 90% dos doentes em tratamento com cargas virais indetetáveis).

O governante refere que o FOCUS “permite poupanças porque a hepatite C é uma doença que, se não for tratada, pode evoluir para a cirrose, para o cancro hepático e pode levar à falência do órgão (fígado) ocasionando a necessidade de transplante”.

“A Madeira, ao iniciar este projeto, conta também poupar dinheiro, não só nas cirroses, não só no aparecimento do cancro hepático, mas também na necessidade de transplante, evitando assim custos acrescidos”, reforça Pedro Ramos, revelando que existem “cerca de 600 doentes com hepatite C já sinalizados na nossa plataforma, dos quais 470 estão já com o tratamento finalizado”.

Dr. Luís Jasmins: “Nós vamos com certeza erradicar a hepatite C antes de 2030”

“Com este programa alargamos a nossa atuação aos mais importantes vírus transmitidos pelo sangue, o VIH e os vírus das hepatites B e C, num modelo integrado disponibilizado a toda a população, nos centros de saúde e nos hospitais, através de algoritmos informáticos avançados que vão permitir diagnosticar mais pessoas, garantindo em simultâneo o melhor uso e poupança de recursos”, resume o titular da pasta da Saúde na Madeira.

 

Pelo menos 40 mil rastreios no primeiro ano

 

“No programa de rastreio da Madeira, o algoritmo informático vai permitir identificar automaticamente os utentes que devem ser rastreados, com base em critérios bem definidos e sem que os médicos tenham de perder tempo precioso da consulta. Ao mesmo tempo, um utente que já tenha sido rastreado no centro de saúde não voltará a fazê-lo uma segunda vez se for visto no hospital, e com isso vamos evitar desperdícios importantes”, explica o gastroenterologista Vítor Magno Pereira.

De acordo com o clínico, as estimativas apontam para que sejam realizados pelo menos 40 mil rastreios no primeiro ano. Não obstante, lembra que “é difícil fazer essa estimativa, porque vai depender dos utentes que vão ao Serviço de Saúde e se já realizaram testes prévios ou não”.

Os rastreios serão realizados nos seguintes locais: Unidades de Cuidados de Saúde Primários; Hospitais, Casas de Saúde, Estabelecimento Prisional; Unidade de Tratamento de Toxicodependência; Associação Protetora dos Pobres e Centros Comunitários.

 

Programa será implementado faseadamente

 

O programa FOCUS será implementado paulatinamente, conforme explicou o gastroenterologista Vítor Magno Pereira. “Este é um plano que se pretende transversal a todo o Sistema Regional de Saúde e que vai ter fases diferentes para não implementarmos tudo de uma vez. Os clínicos vão ter formação sobre este plano, que pretende integrar todos os médicos do sistema público de saúde”.

 

Gilead empenhada em atingir objetivos propostos pela OMS

 

Questionada sobre o quão importante poderá ser o contributo do programa FOCUS para a erradicação destas doenças, Inês Ribeiro, representante da empresa financiadora do programa, Gilead Sciences, vinca que o projeto assume uma “importância crítica”.

“Esta é uma iniciativa através da qual se consegue chegar às populações que de outra forma não seriam rastreadas”, realçou Inês Ribeiro, da Gilead Sciences.

“Eu diria que o programa FOCUS assume uma importância crítica. Esta é uma iniciativa através da qual se consegue chegar às populações que de outra forma não seriam rastreadas. O programa FOCUS consegue efetivamente implementar um sistema de rastreio sistemático, permitindo rastrear todos, independentemente de terem sintomatologia ou de pertencerem ou não a um grupo de risco. O programa FOCUS vai também além do rastreio, já que promove não só o diagnóstico atempado como também a ligação aos cuidados de saúde, garantindo que aquelas pessoas que tenham um diagnóstico positivo têm uma consulta de especialidade. Desta forma, a Gilead contribui, ajudando o país a atingir os objetivos de eliminação da hepatite C e do controlo da transmissão do VIH até 2030”.

Refira-se que o lançamento do programa vai coincidir com a utilização de novas tecnologias nas próprias análises, já que a Madeira irá proceder à confirmação da infeção por hepatite C através do teste de antigénio designado “core”.

A consonância de opiniões relativamente ao programa FOCUS por parte dos profissionais de saúde faz antever um futuro auspicioso no que tange ao rastreio, diagnóstico e subsequente erradicação da hepatite C, bem como à consecução do objetivo de eliminar a transmissão do VIH na Região Autónoma da Madeira, cumprindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde.

SaúdeOnline

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