A importância dos adjuvantes no tratamento da dor crónica
Coordenador da IM3M Médico paliativista, Coordenador da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos Gaia

A importância dos adjuvantes no tratamento da dor crónica

A abordagem multimodal da dor crónica é absolutamente fundamental, atendendo à multidimensionalidade deste problema de saúde pública.

A dor apresenta uma classificação relativamente à sua etiopatogénese, dividindo-se habitualmente em dor nociceptiva, dor neuropática, dor mista ou dor oncológica.

O tratamento da dor deve ser orientado de acordo com a sua intensidade, mas também de acordo com a sua etiologia e com as restantes dimensões do doente que estão afetadas.

O tratamento da dimensão da intensidade está centrado na estratégia analgésica, segundo a escada da Organização Mundial de Saúde (OMS), com paracetamol, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e/ou opioides, enquanto o tratamento segundo a etiologia necessita habitualmente de fármacos adjuvantes, como os corticoides, os gabapentinoides ou os antidepressivos.

No entanto, para que consigamos apresentar uma abordagem mais eficiente na terapêutica da dor crónica, é necessária uma equipa multidisciplinar, que conseguirá aliviar o(s) sofrimento(s) e restituir ao doente a funcionalidade máxima possível, podendo ser necessária a psicoterapia ou a terapia cognitivo-comportamental, a fisioterapia, a hidroterapia, a acupunctura ou outras terapias sem evidência científica de eficácia, mas que possam representar individualmente uma fonte de relaxamento e alívio sintomático.

A utilização de fármacos adjuvantes é, muitas vezes, essencial para o tratamento da dor, atendendo à etiologia em questão. No caso da dor neuropática, a utilização de gabapentinoides e/ou de antidepressivos (tricíclicos ou de duplo mecanismo) é muitas vezes essencial na terapêutica. Caso estejamos na presença de uma dor neuropática periférica, a utilização de anestésicos locais, como a lidocaína ou do anti-inflamatório natural, capsaicina, têm demonstrado maior eficácia e segurança.

Em casos específicos, como a cervicalgia ou a lombalgia comum, a utilização de AINEs e relaxantes musculares tem demonstrado uma eficácia semelhante ou até superior quando comparada à utilização de opioides, mesmo com dores com intensidades moderadas a severas, pelo que pode ser esta a estratégia a seguir na maioria dos doentes com estas queixas.

Relativamente à dor oncológica, a utilização concomitante de opioides com corticoides, gabapentinoides, antidepressivos, benzodiazepinas e/ou canábis medicinal, entre outros, tem demonstrado uma eficácia assinalável, com uma evidente vantagem no perfil de segurança, evitando-se titulações abusivas de um único fármaco, o que provoca um aumento, muitas vezes intolerável, dos efeitos secundários.

Tratar um doente com dor crónica implica, acima de tudo, disponibilidade. Para ver, ouvir e sentir o doente. Para trabalhar em equipa. Para pensar e agir. A abordagem terapêutica multimodal é a que demonstra maiores benefícios para os doentes. Os adjuvantes são mais um complemento nesta “rede” que pretende prevenir e aliviar o sofrimento, promovendo qualidade de vida e bem-estar.

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