25 Fev, 2017

Vacina contra a leishmaniosis canina pode ser base para antídoto humano

A vacina tem por base uma proteína construída e levou 25 anos a ser desenvolvida. Este pode ser o ponto de partida para se encontrar uma solução para humanos

Os laboratórios LETI lançaram agora em Portugal uma vacina inovadora contra a leishmaniosis canina, que resulta de um processo de investigação e desenvolvimento que se prolongou por cerca de 25 anos e que pode, ainda, constituir uma base para a criação de uma vacina para humanos.

O presidente da empresa, Jaime Grego, explicou ao Jornal SaúdeOnline que a nova vacina animal apresenta ainda “um grande potencial” como ponto de partida para o desenvolvimento de uma vacina humana contra a doença, que a Organização Mundial de Saúde classificou de “negligenciada”. Estima-se que afete cerca de 12 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a sua forma visceral responsável pela morte de 59 mil pessoas, todos os anos.

 A leishmaniosis canina é doença endémica nos países da bacia mediterrânica, onde se estima afete 2,5 milhões de animais. A vacina que agora foi introduzida no mercado português resulta de um processo de investigação e desenvolvimento que se prolongou por cerca de 25 anos, e tem por base uma proteína quimérica, construída a partir da união de cinco fragmentos de proteínas do parasita L. infantum.

Esta vacina tem uma capacidade antigénica comprovada, proporcionando aos veterinários uma ferramenta avançada, segura e eficaz na imunização de cães não infetados, logo a partir dos seis meses de idade.

Em declarações ao SaúdeOnline, Jaime Grego explicou que a nova vacina “reduz o risco de infeção ativa ou doença clínica após exposição do animal ao L. infantum, e foi concebida para minimizar o risco de efeitos secundários e reações adversas, graças à sua fórmula inovadora, sem adjuvante [substâncias que aumentam a eficácia, potenciando a reação da vacina ou a duração da resposta]”.

Este potencial para uma solução humana é reforçado pelos resultados de estudos clínicos sobre a segurança da vacina, realizados na Universidade Complutense de Madrid, que não revelaram quaisquer consequências negativas.

Estamos a falar de uma doença parasitária transmitida ao homem pela picada de fêmeas de mosquitos flebotomíneos. A leishmaniose é endémica em todo o Brasil e na maioria dos países africanos, assumindo em Portugal, sobretudo, a forma visceral, e mais raramente a cutânea, muito dolorosa e deformante.

Questionado sobre o desenvolvimento de uma versão humana da vacina agora lançada no mercado, Jaime Grego apontou como principais obstáculos, por um lado, os elevados custos do processo de investigação e desenvolvimento do medicamento, “que podem chegar aos 3.000 milhões de euros”, e, por outro, as “regras muito apertadas das autoridades europeias e norte-americanas”.

“Sozinha, a LETI não tem capacidade financeira para se envolver num projeto dessa envergadura”, reconheceu.

Não descartando a possibilidade de a LETI se associar a um grande laboratório para prosseguir o seu objetivo de criar uma vacina humana, Jaime Grego assegura que a empresa vai continuar o trabalho que tem vindo a fazer. “Independentemente da solução que venha a ser encontrada, a investigação desenvolvida pelos Laboratórios LETI prosseguirá, alinhada com a estratégia seguida pela companhia desde a sua fundação”, garante.

Lançada simultaneamente em Portugal e Espanha, a nova vacina custa entre 60 e 70 euros, tem uma eficácia de 72% na prevenção de leishmaniose, atuando 28 dias após a inoculação.

A LETI, empresa biofarmacêutica espanhola, de capital familiar, faturou 81,2 milhões de euros no ano passado, sendo que 42,5% deste valor respeita ao mercado ibérico. Sediada em Barcelona, a empresa tem o seu laboratório e a sua fábrica em Tres Cantos, em Madrid, Espanha. Tem filiais na Alemanha e em Portugal, em Leça do Balio. Desde 2013 que está presente nos EUA.

MMM
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