9 Nov, 2016

OMS Europa: marketing digital coloca em risco a saúde e a privacidade das crianças

o Comité Regional para a Europa da Organização Mundial da (OMS) acaba de publicar a primeira análise abrangente, realizada por uma vasta equipa de investigadores e peritos em Saúde Pública, sobre impacto do marketing digital de alimentos ricos em gorduras, sal e açúcares dirigido a crianças residentes em países europeus

Muito embora seja assumido há muito por todos, leigos e profissionais de saúde como facto indesmentível, a verdade é que o impacto do marketing digital no condicionamento das escolhas alimentares das crianças, incentivando o consumo de alimentos pouco saudáveis em detrimento de opções alimentares mais saudáveis nunca tinha sido validado cientificamente.

Uma lacuna que foi agora integrada: o Comité Regional para a Europa da Organização Mundial da (OMS) acaba de publicar a primeira análise abrangente, realizada por uma vasta equipa de investigadores e peritos em Saúde Pública, sobre impacto do marketing digital de alimentos ricos em gorduras, sal e açúcares dirigido a crianças residentes em países europeus.

As conclusões do estudo vêm confirmar que a ausência de regulamentação eficaz do marketing de alimentos em plataformas digitais, que se verifica na maioria dos países, faz com que as crianças fiquem expostas a técnicas promocionais persuasivas e personalizadas, por exemplo, através dos ‘media’ sociais e de jogos publicitários. Uma tendência que persiste, apesar das elevadas taxas de obesidade infantil registadas em praticamente toda a região europeia da OMS.

O marketing de produtos alimentares tem sido apontado pela comunidade científica como um fator importante do chamado ambiente ‘obesogénico’ dos países mais desenvolvidos, no qual alimentos ricos em gorduras, sal e açúcares são promovidos em larga escala e são mais baratos e mais fáceis de obter do que as alternativas alimentares mais saudáveis.

A situação é particularmente grave, afirmam os investigadores, já que à ausência de legislação da atividade se associa muito frequentemente o subestimar do problema por parte dos pais e outros educadores, que não supervisionam o que as crianças veem nos ‘media’ sociais. Uma ‘brecha’ que os profissionais do marketing digital aproveitam para difundir campanhas muito eficazes dirigidas a segmentos específicos do público infantil.

Por outro lado “as indústrias de alimentos, marketing e do setor digital têm acesso a uma enorme quantidade de informação sobre a exposição dos mais novos ao marketing de alimentos ricos em gorduras, sal e açúcares ‘on-line’ e sobre a influência dessa exposição no comportamento das crianças. Uma informação ‘privada’ à qual os investigadores externos não têm acesso, o que faz aumentar os desequilíbrios de poder entre a indústria e a Saúde Pública”, explica Emma Boyland, do Instituto de Psicologia, Saúde e Sociedade da Universidade de Liverpool, que coordenou o estudo.

Para abordar o problema, o relatório sugere uma série de recomendações. Desde logo, que os Estados assumam o seu dever de proteger as crianças do marketing digital introduzindo legislação eficaz que permita banir a promoção de alimentos prejudiciais à saúde.

“As crianças têm o direito de participar nos ‘media’ digitais. E quando participam, têm o direito à proteção da sua saúde e privacidade e a não serem exploradas economicamente”, enfatiza Emma Boyland.

O relatório integral do Comité Regional para a Europa da Organização Mundial da (OMS) pode ser acedido AQUI.

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