O Retrato da Saúde em Portugal

A OCDE perguntou e os portugueses responderam: somos os europeus mais insatisfeitos com a vida. Mas será que esta insatisfação está associada a problemas de saúde? Foi o que procurámos saber, traçando um retrato da realidade portuguesa no Dia Mundial da Saúde

De acordo com as estatísticas mais recentes da OCDE, os portugueses são os europeus mais insatisfeitos com as suas vidas. Quando solicitados a classificar a satisfação geral com a vida numa escala de zero a 10, a média nacional fixou-se nos 5.1, a mais baixa do conjunto dos países da OCDE, onde a média regista 6.5.

Será que esta insatisfação está associada a problemas de saúde? Foi o que procurámos responder através de um retrato da realidade portuguesa no dia Mundial da Saúde.

De uma forma geral, Portugal situa-se numa boa posição relativamente à maioria dos países no que diz respeito a alguns indicadores do “Better Life Index”, como a habitação, a segurança e a qualidade do ambiente. Contudo, no que toca a indicadores como o rendimento, o estado de saúde, as relações sociais, o envolvimento cívico, a educação, o emprego e os salários, o nosso país está ainda longe da média da OCDE.

Esperança Média de Vida
No panorama da saúde, a nossa esperança média de vida situa-se perto dos 81 anos, um ano acima da média. As mulheres vivem mais. Em média, 84 anos. Já para os homens a esperança média de vida é de 78 anos. No entanto este indicador não informa sobre quantos destes muitos anos de vida são vividos sem limitações de atividade de longo prazo, motivadas por problemas de saúde.
Quando se aplica esta variável, os números registam uma diminuição drástica, com as mulheres a contabilizar 50 de vida sem doença e os homens 60 anos. A média dos membros da UE situa-se nos 61.8 anos para as mulheres e 61.4 anos para os homens. O número de anos saudáveis é superior na Eslováquia, em Malta e na Suécia para as ambos os sexos (acima dos 70 anos) e inferior na Eslováquia, Letónia e em Portugal para as mulheres e na Letónia, Estónia e Eslováquia para os homens.

Mortalidade
A mortalidade por todas as causas, em Portugal, reflete-se em aproximadamente 1000 mortos por cada 100 mil habitantes, situando-se acima da média europeia. No topo da tabela, com a mortalidade mais baixa situam-se Espanha, França e Itália, com valores a rondar os 800 mortos por 100 mil habitantes. Em todos os países, os homens apresentam uma taxa de mortalidade superior à das mulheres.
Apesar de as doenças cardiovasculares serem a principal causa de morte na Europa, a tendência não se reflete em Portugal, país onde o número de pessoas que morre devido a doenças respiratórias é mais significativo. A mortalidade provocada por pneumonia é a mais elevada, registando uma taxa de 58.6 por cada 100 000 habitantes. Seguem-se a Eslováquia, o Reino Unido e Polónia.
No que diz respeito à mortalidade infantil, Portugal integra o Top10 da UE, com uma taxa de 2.9 mortos por cada 1000 nados-vivos. A liderar a tabela, situa-se a Eslovénia com um valor de 1.8 e no final está a Roménia, com uma taxa de mortalidade infantil de 8.4 mortos por 1000 nados-vivos.
Quanto às crianças mais velhas, Portugal já apresenta um valor superior à média da UE (11.8), registando uma mortalidade de 12.3 mortes por 100 mil crianças com idades compreendidas entre um e 14 anos.

Perceção do estado de saúde
Quando questionados sobre o seu estado de saúde, 46% dos portugueses afirmam estar bem ou muito bem e 18% consideram estar mal. Os portugueses são os europeus mais pessimistas quanto ao seu estado de saúde.
Na Irlanda, 83% da população afirma pensar que a sua saúde é boa. No extremo oposto encontramos a Lituânia, com apenas 45% da população a classificar como “Bom” o seu estado de saúde.
Valores que se alteram quando se introduz na equação a variável “rendimento”, tendo-se verificado que quanto maior o rendimento, melhor é a perceção sobre a sua situação de saúde.
Em Portugal, 61% daqueles que tem um maior rendimento classifica como “Bom” o seu estado de saúde, quando apenas 39% dos que possuem um menor rendimento pensa o mesmo, sendo um dos países com o maior “gap” entre ricos e pobres.
A tendência verifica-se em todos os países da UE-28, observando-se sempre uma grande discrepância entre os mais ricos e os mais pobres. À exceção da Roménia, país onde as diferenças de rendimento pouco afetam a perceção de saúde: 76% dos mais ricos e 75% dos mais desfavorecidos avaliam como “Boa” a sua saúde.

Doenças Infecciosas
O número de notificações de VIH-sida e de tuberculose em Portugal é superior à da média dos países europeus.
Em 2014, foram notificados 8.8 casos de VIH-sida por 100 mil habitantes. A Estónia lidera o ranking de notificação de novos casos, atingindo um valor de 22.1. Já a Eslováquia é o país onde a notificação de casos de VIH-sida é menor, registando 1.6, seguindo-se a Croácia e a República Checa.
Em 2014, Portugal notificou 21.3 casos de tuberculose por 100 mil habitantes, contrastando com os 4.4 casos notificados no Luxemburgo e os 4.7 na Grécia, os países que ocupam o topo da tabela pelas melhores razões. A Roménia é o país que apresenta o cenário mais crítico no que diz respeito à tuberculose, tendo notificado 79.7 casos por 100 mil habitantes.
Quanto as outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), Portugal apresenta bons resultados, particularmente no que respeita à sífilis, tendo registado 3.4 casos por 100 mil habitantes em 2014, um valor abaixo da média europeia, que é de 5.1 casos por 100 mil habitantes.
A DST com mais casos notificados na Europa é a clamídia, que apresenta um valor médio de 187.2 casos por 100 mil habitantes. A Dinamarca, o Reino Unido e Malta são os países com pior desempenho neste indicador.

Cancro
O cancro em Portugal tem uma incidência de 250 casos a cada 100 mil habitantes. Um valor abaixo da média europeia, que é de 270 casos.
A Grécia, o Chipre e a Roménia são os países onde a incidência é menor, contrastando com a Dinamarca, França e Bélgica, que registam maior número de casos.
O número de novos casos de cancro da mama, em Portugal, é de 68 por cada 100 mil mulheres. Um valor abaixo da média (74) mas ainda assim preocupante no panorama geral. A França, Dinamarca e Bélgica são os países onde a incidência marca mais de 100 novos casos por 100 mil mulheres.
Relativamente ao cancro da próstata, Portugal apresenta um valor de 64 novos casos por cada 100 mil homens. Assim como o cancro da mama, a sua incidência situa-se abaixo da média dos países da Europa (70). O pior cenário verifica-se na Suécia, Franca e Noruega, onde a incidência do cancro da próstata ascende até aos 130 novos casos por 100 mil homens.

Diabetes
Portugal é um dos países com maior número de casos de diabetes reportados pelos próprios doentes, apresentando um valor de 9.3%, seguido por França, onde o valor ascende para os 10%.
Valores que alteram quando se adiciona a variável “educação”, tendo-se verificado que as pessoas com menor nível de educação, são as que mais reportam a diabetes. Em Portugal, 13.3% da população com um nível de educação mais baixo, reporta que tem diabetes. Enquanto, apenas 2.3% dos que possuem altos níveis educacionais admitem ser diabéticos.
Esta diferença marcada pelos níveis de educação é mais acentuada na Grécia, que é seguida de perto por Portugal.

Asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
Em Portugal, 5% da população sofre de asma. Um valor abaixo da média do conjunto dos países europeus (6.1%). Neste indicador é o Reino Unido que lidera a tabela, com 9.4% dos súbditos de sua majestade a reportarem a doença.
Quanto à Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, Portugal sobe até ao segundo lugar da lista, com uma percentagem de 5.8%. Apenas 3 pontos percentuais abaixo da Lituânia. A média europeia que revela a quantidade de pessoas que reporta a sua DPOC é de 4%.
Quando inserida a variável “educação”, observa-se a mesma tendência já verificada com a diabetes. Quanto menor o nível de educação, maior a disponibilidade para reportar a sua condição. Só em Portugal, 7.4% da população com níveis de escolaridade menores reportou que sofria de DPOC, enquanto apenas 2.6% das pessoas com um nível educacional maior fez o mesmo.

Demência
Em 2015, Portugal registava cerca de 17 casos de demência por cada 1000 habitantes, registando mais dois casos do que a média dos países da Europa. Estima-se que, até 2035, o número de casos de demência, no nosso país, aumente para 28 por mil habitantes.
A Itália é o país que regista maior número de casos demência, cerca de 22 por 1000 habitantes. Um valor que segundo estimativas da OCDE ultrapassará os 30 casos, em 2035.
De acordo com a OCDE, a tendência será de aumento dos casos de demência por 1000 habitantes em todos os países. A Letónia e a Lituânia são os países em que segundo a organização se registará o menor crescimento da doença nesse período.

De acordo com a OCDE, a tendência será de aumento dos casos de demência por 1000 habitantes em todos os países. A Letónia e a Lituânia são os países em que segundo a organização se registará o menor crescimento da doença nesse período.

Estará, assim, a saúde dos portugueses na base da insatisfação com as suas vidas?

Vamos comparar com a média europeia:

– Temos uma esperança média de vida superior (o que não se traduz no número de anos saudáveis sem limitações);
– Temos também uma taxa de mortalidade total superior;
– Estamos bem no que toca à mortalidade infantil;
– Estamos abaixo da média em relação à prevalência do cancro;
– Somos um país de diabéticos e de doentes respiratórios;
– Situamo-nos acima da média quanto ao número de casos de demência;
– Os nossos rendimentos influenciam a perceção do nosso estado de saúde, assim como a nossa educação.

Quando questionados com a pergunta “Como está a sua saúde geral?”, 46% dos portugueses disseram que a saúde estava boa, menos que a média da OCDE de 69%, e uma das pontuações mais baixas na OCDE.

O estado da saúde dos portugueses é, sem dúvida, uma das grandes preocupações das suas vidas, podendo contribuir para insatisfação que revelam.

Fonte: OCDE

SO/SF

 

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