26 Set, 2017

Mais de metade dos deficientes não têm problema reconhecido

O alerta foi dado pela Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco), através de um inquérito divulgado hoje, que revela que muitos destes cidadãos não conseguem ter uma vida pela.

O inquérito revelou que mais de metade dos cidadãos com limitações físicas questionados pela Deco não têm o problema reconhecido e que um em cada quatro têm dificuldade em aceder ao local de trabalho.

Entre fevereiro e março deste ano, a Deco enviou a uma amostra da população um inquérito sobre o tema. Com a ajuda de associações do sector, fez chegar o questionário a cidadãos com deficiências motora e sensorial (visual e auditiva). No total, obteve 2.854 respostas válidas.

Ana Luísa Sezudo, presidente da direção da Associação Portuguesa de Deficientes (APD), afirma que “a dificuldade no acesso ao mercado de trabalho continua a ser uma realidade”, que “não existe sensibilidade da entidade patronal para olhar para as pessoas com deficiência como trabalhadores iguais a quaisquer outros” e que “as empresas e os postos de trabalho não estão adaptados”. No entanto, é também necessário uma via pública e transportes coletivos adaptados porque, para estas pessoas, “depender dos transportes públicos é impensável”, acrescenta.

A maioria dos inquiridos lembram que o caminho para a eliminação das barreiras arquitetónicas tem sido lento e que as dificuldades começam logo no prédio onde se habita. Cerca de um terço revela sentir necessidade de equipamentos ou infraestruturas específicas para auxiliar a mobilidade como banheira e cada de banho adaptadas, elevador ou mecanismos de elevação, corrimões e rampas e, em alguns casos, sistema de chamada de emergência.

“A falta de dinheiro é a principal razão apontada para uma habitação pouco cómoda para alguém com limitações motoras. As características arquitetónicas da própria casa e o espaço diminuto são outros motivos apontados”, sublinha o estudo.

“Cerca de 45% asseguram ser difícil suportar as despesas diárias relacionadas com a sua condição. Apenas três em dez portugueses nesta situação declaram não enfrentar dificuldades”, afirma a Deco, que destaca também a resposta da responsável da APD sobre esta matéria: “Recebemos cartas e telefonemas completamente desesperados. Existem pessoas a viver com 200 euros”.

As deslocações e a mobilidade no interior de hospitais, de edifícios públicos de supermercados e de centros comerciais podem revelar-se impraticáveis.

“Um terço indica as paragens de autocarro e o próprio interior dos veículos como inacessíveis. As estações de comboio e de metropolitano apresentam a mesma lacuna, de acordo com 25% destes cidadãos”, refere a Defesa do Consumidor, recordando que, na verdade, os transportes públicos não estão incluídos na legislação das barreiras arquitetónicas. A norma comunitária existente defende que a frota de transportes tem de se ir adaptando gradualmente.

A maior parte dos deficientes motores não possui cartão identificativo para poder estacionar nos lugares reservados e, para mais de um terço dos inquiridos com limitações, é muito frequente o lugar estar ocupado.

Outro problema identificado por um quarto dos que responderam ao estudo é a falta de adaptação das casas de banho em edifícios públicos, como restaurantes e lojas.

Desenvolver e manter uma atividade profissional é muito difícil, ou até impossível, para cerca de 45% dos inquiridos. Existem uma percentagem considerável com a deficiência grave que não consegue realizar, sem precisar de ajuda, tarefas tão básicas como tomar banho ou preparar uma refeição.

O estudo da Deco aponta ainda uma incongruência entre a deficiência declarada e a reconhecida oficialmente. “Entre os inquiridos que consideram ter alguma limitação motora, apenas metade são oficialmente reconhecidos como pessoas com deficiência. Esta proporção sobre para dois terços entre os portadores de deficiência grave”, refere o documento.

“Existe um grande desconhecimento, não só da sociedade, mas muitas vezes da própria população com deficiência. Com muita frequência, as pessoas tentam fazer as diligências necessárias, mas a desinformação é muito grande nos serviços da Segurança Social e das Finanças e nos centros de saúde”, diz a presidente da APD sem qualquer dúvida.

LUSA/SO/SF

 

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