Legumes biológicos podem funcionar como vacinas

O especialista espanhol em agricultura biológica Mariano Bueno defendeu a criação de hortas caseiras ou a participação em hortas urbanas, já que os legumes "adaptam-se" à poluição e podem funcionar como "vacinas"

“Defendo hortas em casa ou perto de casa, porque a poluição do ambiente é mais ‘saudável’, já que uma planta que cresce num determinado sítio vê-se submetida ao frio, também a compostos tóxicos ambientais e para sobreviver fabrica polifenóis. O aumento da asma e alergias na sociedade atual é por pouco contacto com a natureza e com a terra e por não comermos plantas e legumes que cresçam perto de onde vivemos”, explicou Mariano Bueno, em declarações aos jornalistas na Escola Básica n.º 1, em Lisboa.

Para o especialista, “os legumes plantados no ambiente poluído em que vivemos podem tornar-se vacinas”, já que as plantas vão ter de se proteger desses componentes químicos que andam no ar.

“Se tudo o que comemos vem esterilizado, é produzido em estufa, vem embalado, o corpo não vai ser ‘contaminado’ e aquele alimento não vai fazer nada. Por seu turno, aqueles que crescem no ambiente em que vives vão-te proteger”, sublinhou Mariano Bueno.

Mariano Bueno explicou ainda que um tomateiro que cresce ao ar livre “tem mais sabor porque tem de se defender enquanto um tomate de estufa, de temperatura controlada, rega controlada, não tem sabor porque não teve de defender-se de nada: estamos a descobrir que os aromas e os sabores das plantas são os mecanismos de proteção”.

O especialista europeu em agricultura biológica participou ontem num ‘workshop’ na Escola Básica n.º 1 de Lisboa, onde ensinou crianças entre os seis e 10 anos a fazer um vaso hidropónico caseiro com um garrafão de água de cinco litros, entre muitos outros truques.

Henrique, de 10 anos, disse à Lusa que aprendeu muitas coisas: como fazer uma horta na garrafa, a fazer produtos ‘pesticidas’ naturais para matar os bichos. Na horta biológica que os pais têm no Alentejo vai dizer o que têm de fazer.

Também Maria explicou que agora já sabe fazer um ‘pesticida natural’ com água e iogurte para controlar os fungos dos legumes e das plantas e ficou também a saber que a melhor forma de se ver livre das lesmas numa horta é colocar tacinhas com cerveja para que estas durante a noite, atraídas pelo cheiro, se afoguem.

Mariano Bueno não come nem carne, nem peixe, há 42 anos. Desde os 17 anos que é vegetariano por problemas de saúde. Aos 18, foi para França onde aprendeu o que precisava para dar os primeiros passos na agricultura biológica. Reconhece que se seguiram “anos duros” pela “incompreensão” do que fazia.

“Depois consegui, com o passar dos anos, demonstrar que era possível cultivar sem recorrer a químicos, mas antes de uma forma natural, recuperando formas ancestrais de fazer agricultura, voltar ao estrume dos animais, ver as luas, por exemplo”, lembrou.

Mariano Bueno referiu que existem atualmente movimentos médicos e científicos, designados por horto terapia, que revelam que grande parte dos problemas de saúde “tem a ver com o facto de nos desenraizarmos da terra e de nos desvincularmos das nossas raízes, já que somos seres biológicos”.

Com várias obras publicadas sobre agricultura biológica, alimentação biológica ou hortas ecológicas, Mariano Bueno lançou agora em Portugal o livro “A Horta-Jardim Biológica”, juntamente com Jesús Arnau, no qual ensina várias formas de fazer uma horta-jardim e os seus benefícios para a saúde.

No livro explica também as flores comestíveis e que, apesar de algumas serem tóxicas, é preciso ingerir uma grande quantidade para que façam mal ao organismo: “o importante é comer cru, quer seja para as plantas medicinais, flores comestíveis ou hortaliças. Há que processá-las o menos possível, quanto muito escaldar será o suficiente para ‘matar’ qualquer bicho”.

LUSA/SO

 

Gedeon Richter

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