Lápis Azul: Dizem que há unidades de missão…
Muito se tem falado de Cuidados de Saúde Primários (CSP) […]

Lápis Azul: Dizem que há unidades de missão…

Muito se tem falado de Cuidados de Saúde Primários (CSP) em Portugal e sobretudo, sobre uma Reforma que, parece nunca mais acabar de se concretizar. Como dizia alguém com pronúncia do Norte, há grandes distâncias entre filosofar e fazer…

E maiores ainda entre fazer e dizer que se vai fazer.

A extensão da rede e das unidades de CSP pelo país fora é enorme e apenas encontra paralelo e superação numa outra rede, infelizmente, menos bem aproveitada pelo sistema nacional de saúde e que é a rede de farmácias comunitárias. O que também não se estranha, porque somos um país de tesos e pobres com manias e tiques de ricos…

Houve no plano da oferta de cuidados de saúde aos cidadãos um significativo esforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ao longo da sua existência.

Desde logo, procurando e conseguindo garantir uma rede de proximidade e acessibilidade e qualidade média que, envolta numa universalidade e gratuitidade tendencial e constitucional, fez e faz do SNS um padrão e referencial para os Portugueses e uma quase excepção no panorama mundial!

As longas filas de espera à porta dos centros de saúde desapareceram, a disponibilização de médico de família aos cidadãos aproxima-se dos cem por cento, as condições estruturais em largas centenas de unidades melhoraram e foram objectivamente apercebidas pela população e, enfim, os índices de confiança nos profissionais de saúde dos CSP continuam elevados.

A criação da figura de médico de família primeiro, com uma especialização própria que no âmbito da Ordem dos Médicos a tornou na especialidade mais forte, não encontrou porém nesse âmbito uma correspondente capacidade de influência e de decisão, quer técnica, quer politicamente.

Ou seja, um certo sentido de entendimento da medicina enquanto área hospitalar prevalece dentro da Ordem e no país. O que não pode ser bom porque não acentua, desde a sua génese, o entendimento de que a prevenção e a promoção da saúde radicam fora do hospital e todas as consequências que, em efeito dominó, daí se estabelecem.

E mais, como houve a Reforma dos CSP e lançamento dessa figura orgânica da unidade de saúde familiar (USF), a capacidade gestionária e de eficiência nos CSP foi acentuada e demonstrada.

O que na verdade ainda não ocorreu nos hospitais. De resto, no plano hospitalar e por vontade de governos e deputados, a chamada reorganização da rede hospitalar foi uma perfeita caricatura, pese o ruído habitual de autarcas e similares. O que foi feito foi a concentração e/ou fusão de instituições e estruturas hospitalares, sem critério nem racionalidade, obrigando a manutenção de edifícios e estruturas anteriores, apenas e quando tal foi possível, redução de alguma duplicação de custos e sem significado.

Pior do que isso, os nossos doentes nada ganharam com a construção de novos hospitais, às vezes até incompreensível e injustificada pelo seu modelo e dimensão, os nossos profissionais nada beneficiaram com a perpetuação de serviços e valências que não adquiriam escala e se dispersam entre polos distantes, muitas vezes demasiado distantes e que nem permite o seu inter-relacionamento ou conhecimento físico!

Finalmente, o problema da articulação e continuidade de cuidados de saúde.

Os CSP e os seus hospitais de referência continuam afastados na generalidade e não se promoveu, nem consagrou, uma estratégia de relacionamento capaz, competente, dedicada e que evitasse a colocação da discussão da livre escolha em cartaz…

O que os nossos doentes percebem e sentem é o jogo do empurra entre níveis de dispensa de cuidados assistenciais, com os hospitais a mandarem doentes para os médicos de família e estes, a de novo, os recambiarem para as consultas hospitalares, com as situações em torno da reabilitação funcional à cabeça!

E para maior clareza, o facto dos planos regionais de saúde ou até os planos de saúde dos diversos agrupamentos de centros de saúde (ACES) serem completamente desconhecidos nos hospitais, releva a menorização dos CSP e a delapidação de recursos financeiros do SNS!

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