24 Jul, 2017

Grávidas assintomáticas devem ser incluídas em acções preventivas de transmissão perinatal do Zika

Um estudo desenvolvido por investigadores da David Geffen UCLA School of Medicine, nos Estados Unidos, revelou que a carga viral do vírus Zika e a gravidade dos sintomas associados a essa infeção durante a gravidez parecem não ter impacto no desfecho do bebé

Pelo contrário, até uma grávida assintomática pode estar infectada e transmitir verticalmente o vírus ao bebé.

Para a elaboração do estudo, foram avaliadas 131 gestantes infetadas pelo vírus Zika, acompanhadas na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, entre 2015 e 2016.

Foi desenvolvida uma ferramenta para determinar a gravidade clínica da infeção por zika que avaliava o tempo de febre, a gravidade da erupção cutânea, o envolvimento multissistémico e a duração dos sintomas.

Uma minoria de participantes (4,6%) apresentou um quadro leve de zika, enquanto 74,8% das mulheres avaliadas foram classificadas com infeção moderada. Os quadros graves foram observados em 20,6% das mulheres. A pequena percentagem de quadros leves justificou-se pelo facto de um dos critérios ter sido a presença de erupções cutâneas. Pelo mesmo motivo, não fizeram parte da amostra estudada pacientes assintomáticas.

Do total de mulheres analisadas, no início do estudo, 121 foram testadas para a infeção prévia por dengue, sendo que a maioria (88,4%) foi positiva.

Os investigadores identificaram 58 desfechos anormais, incluindo nove perdas fetais. Entre os bebés que sobreviveram, ocorreram anormalidades estruturais ou observadas em exames de imagem em 37e os outros 12 tiveram uma avaliação neurológica clínica anormal durante o primeiro mês de vida.

Desse modo, o estudo não revelou associações entre a carga viral e os resultados adversos. Assim como, a existência de anticorpos prévios para o dengue também não esteve correlacionada com a gravidade da infeção por zika e a carga viral, nem com os defechos anormais.

A investigadora da David Geffen UCLA School of Medicin, Dra. Umme-Aiman, explica que estudos laboratoriais sugerem a existência de um fenómeno denominado intensificação da infeção vial dependente de anticorpo, no qual os anticorpos de dengue pré-existentes aumentariam a carga viral do zika, aumentando o risco para o feto. Contudo, os estudos clínicos não encontraram evidências dessa situação.

“Apesar de a amostra de mulheres que não tinham anticorpos prévios de dengue ter sido pequena, não encontramos associação positiva ou negativa entre imunidade prévia à dengue e gravidade clínica de zika”, revela a investigadora.

No que diz respeito aos resultados sobre a gravidade dos sintomas, a investigadora lembra que existem certas infecções virais, como por exemplo, por citomegalovírus (CMV) e pelo vírus da rubéola, que podem ser assintomáticas ou causar doença leve durante a gravidez, mas resultar em desfechos devastadores para as crianças.

“O vírus zika parece ter um comportamento semelhante. Uma grávida pode ter poucos ou nenhuns sintomas que sugiram infeção durante a gravidez, mas o bebé pode nascer com síndrome congénita de zika”, explica.

Para a Dra. Umme-Aiman, a infeção por zika diferencia-se de outras infecções, como acontece com o vírus da imunodeficiência humana (VIH), na qual uma carga viral maior se traduz, geralmente, num risco maior de transmissão perinatal.

A médica revela que ainda não foi totalmente esclarecido “se os resultados adversos da gravidez acontecem devido à infeção direta da placenta e/ou do feto, ou devido às alterações do sistema imunológico que ocorrem em resposta à infeção”. Acrescentando que a sua equipa se prepara para estudar técnicas com o objetivo de melhorar o desenvolvimento neurológico de bebés com síndrome congénita de zika.

O estudo foi financiado pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) do Ministério da Saúde do Brasil, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) of the National Institutes of Health e pelo Thrasher Research Fund.

Medscape/SF

 

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