2 Fev, 2017

Falta de cuidados matou quase uma centena de doentes mentais em 2016 na África do Sul

Um inquérito oficial está a provocar hoje um escândalo na […]

Um inquérito oficial está a provocar hoje um escândalo na África do Sul, ao revelar que quase 100 doentes mentais morreram em 2016 por falta de cuidados adequados em unidades de saúde privadas, descritas como “campos de concentração”.

Segundo o relatório, pelo menos 94 doentes morreram entre março e dezembro do ano passado por desidratação, diarreia ou crises de epilepsia depois de terem sido transferidos de urgência de um hospital psiquiátrico em Joanesburgo para 27 centros de cuidados médicos, com condições precárias, geridos por organizações não-governamentais.

A transferência foi realizada no âmbito de um programa de poupança de recursos financeiros.

“Uma das vítimas morreu devido à sua doença mental. Não foi o caso das outras 93 vítimas”, afirmou o autor do relatório oficial, Malegapuru Makgoba, em declarações à comunicação social.

O responsável admitiu que o número de vítimas poderá ainda aumentar.

Nas 68 páginas do relatório, Malegapuru Makgoba descreveu, de forma detalhada, as condições deploráveis em que foram transferidos os doentes, como, segundo frisou o autor, “um mercado de gado”.

O autor do relatório também denunciou as condições em que foram recebidos os doentes, em centros de saúde muitas vezes “mal equipados” e sobrelotados, sem aquecimento e sem meios para alimentar e hidratar os pacientes.

Tais centros foram “selecionados de forma misteriosa” e revelaram-se incapazes “de distinguir entre a necessidade de prestar cuidados profissionais especializados (…) e uma simples oportunidade financeira”, indicou o relatório.

Alguns testemunhos compararam estes centros a “campos de concentração”, salientou o autor.

Malegapuru Makgoba destacou ainda que foi o Departamento de Saúde da província de Gauteng, onde se encontram as cidades de Joanesburgo e de Pretória (capital), que decidiu terminar com o contrato com o hospital psiquiátrico Life Esidimeni, em Joanesburgo.

Consequentemente, cerca de mil doentes foram transferidos para um “ambiente de cuidados desestruturados, inadaptados e de qualidade inferior”, lamentou o responsável.

A ministra regional responsável pelo Departamento de Saúde, Qedani Mahlangu, apresentou a sua demissão e o primeiro-ministro da província, David Makhura, prometeu levar à justiça todos os responsáveis por este processo de contornos dramáticos.

A oposição já denunciou a “negligência” do governo sul-africano, liderado pelo Congresso Nacional Africano (ANC).

O maior sindicato do país, Cosatu, exigiu o estabelecimento de um “sistema global de saúde pública” sem “recurso” a privados.

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