6 Mar, 2017

Exposição a maior diversidade de fungos reduz alergias em crianças

O estudo sugere que o "aumento da urbanização e higienização do ambiente interior" que se tem registado pode estar associado à "aletração do microbioma humana", potencializando o risco de alergia

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto concluíram que a exposição a uma maior diversidade de fungos nas salas de aula reduz o risco de alergias em crianças entre os oito e os nove anos.

No entanto, a exposição a concentrações elevadas de endotoxinas (toxina que integra a parede celular de algumas bactérias) pode aumentar a severidade dos sintomas alérgicos e respiratórios em crianças atópicas, ou seja, aquelas que com tendência para sofrer de alergias.

“Salas de aula com maiores concentrações de espécies de ‘Penicillium’ apresentaram um risco para sensitização alérgica significativamente mais elevado”, disse o investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) João Cavaleiro Rufo.

De acordo com o especialista, esta situação pode estar associada ao facto de a diversidade microbiológica das salas de aula diminuir com concentrações elevadas desta espécie de fungos, uma vez que têm potencial microbicida e competem com as outras colónias fúngicas.

Estes são os resultados do estudo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP sobre a diversidade e a concentração de micróbios exitentes no ar das escolas primárias no desenvolvimento de asma e de alergias, em crianças com idades compreendidas entre os oito e os 10 anos.

Durante a investigação, foram realizadas avaliações clínicas em 71 salas de aula pertencentes a 20 escolas primárias da cidade do Porto, incluindo espirometria com broncodilatação, medição do óxido nítrico no ar exalado, testes cutâneos por picada e questionário de sintomas.

Ao mesmo tempo, foi feita uma avaliação à qualidade do ar interior nas salas, onde se observou a concentração de fungos, bactérias e endotoxinas, tal como a diversidade da flora fúngica. Os dados foram depois processados e analisados estatisticamente, sendo o risco associado medido por regressão estatística.

A recolha de amostras do ar das salas decorreu entre janeiro e abril de 2014 e entre outubro de 2014 e março de 2015, contando com a participação de 858 crianças.

Este estudo, “tal como outros realizados noutros pontos da Europa”, sugere que “o aumento da urbanização e higienização do ambiente interior que se tem verificado”, pode estar associado “à alteração do microbioma humano e, consequentemente, a uma maior prevalência de sensitização alérgica”, explicou o investigador.

Assim, deve recomendar-se às crianças, com ou sem doença alérgica, um maior contacto com a natureza e a promoção de um ambiente interior mais biodiversificado.

“Isto não quer dizer que não se deva evitar o contacto a certos poluentes, como o fumo de tabaco ou a matéria particulada, que ainda se encontra em concentrações elevadíssimas nas escolas portuguesas”, tal como foi comprovado neste estudo, alerta João Cavaleiro Rufo.

Esta investigação faz parte do projeto ARIA, coordenado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, responsável pela avaliação clínica, com a participação do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e do ISPUP, que realizaram a avaliação da qualidade do ar e que contou com cerca de 15 investigadores.

Especificamente nesta parte do projeto, participou a epidemiologista Isabella Annesi-Maesano, do Institut Pierre Louis d’Epidémiologie et de Santé Publique (Instituto Pierre Louis de Epidemiologia e Saúde Pública ), de França.

O estudo deu origem ao artigo “Indoor fungal diversity in primary schools may differently influence allergic sensitization and asthma in children” (“Diversidade de fungos no interior das escolas primárias pode influenciar diferentemente a sensibilização alérgica e asma em crianças”), publicado na revista ‘Pediatr. Allergy Immunol’.

LUSA/SO

 

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