Estudo avalia influência das cadeiras ergonómicas em lesões de médicos-dentistas
O principal objetivo do projeto é criar soluções para mitigar a elevada prevalência de sintomas musculoesqueléticos e reduzir os custos que acarretam na saúde ocupacional dos médicos-dentistas
Uma investigadora da Faculdade de Engenharia do Porto (FEUP) está a avaliar em que medida as cadeiras ergonómicas (em sela) influenciam a postura dos médicos-dentistas durante a prática clínica e evitam lesões musculoesqueléticas, em comparação com as cadeiras convencionais.
A cadeira em sela, concebida para “promover uma postura mais correta e saudável da coluna vertebral”, forma um ângulo de 135 graus entre as costas e as coxas, superior aos 90 graus existentes numa cadeira tradicional, explicou à Lusa a responsável pelo projeto, Vanessa Silva.
“Segundo a literatura” sobre o tema, disse Vanessa Silva, este ângulo maior permite “uma postura em que a coluna suporta o peso do corpo de uma forma mais confortável”.
O principal objetivo do projeto “é criar soluções para mitigar a elevada prevalência de sintomas musculoesqueléticos e reduzir os custos que, inevitavelmente, acarretam na saúde ocupacional dos médicos-dentistas”, indicou.
De acordo com a investigadora, são muitas as variáveis que influenciam a atividade clínica, que depende do trabalho executado, da cooperação do paciente, da assistência técnica dentária (presença ou não da assistente) e das características de cada profissional.
Para além da análise biomecânica, este projeto inclui um estudo da prevalência de sintomas musculoesqueléticos em médicos-dentistas e estudantes de Medicina Dentária, realizado através de questionários, nos quais foi possível obter dados sociodemográficos e informações sobre as condições de trabalho de cada participante.
A ideia para este projeto surgiu sete anos após Vanessa Silva começar a exercer clínica dentária, quando percebeu que se tratava de “um trabalho exigente a nível postural”, no qual é “comum adotar más posturas e padecer de dores nas costas e no pescoço”, situação “transversal no universo” desta área.
“A Medicina Dentária é considerada uma profissão de elevado risco para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas”, defendeu, acrescentando que as estas surgem devido à “exposição prolongada a fatores físicos, como repetição, força, vibração, postura inadequada” e a “esforços repentinos”.
Para o estudo foram avaliados 33 médicos-dentistas, tendo os dados sido recolhidos com recurso a sensores de movimento – ferramentas de medição cinemática que avaliam todos os segmentos corporais, permitindo uma análise biomecânica de cada região do corpo durante a movimentação realizada.
Numa primeira fase de análise dos dados, “já se percebeu que o trabalho do médico-dentista é de imensa variabilidade” e dependente da sua formação e educação postural, tendo, cada um, “uma abordagem distinta e característica para a mesma tarefa clínica”.
No projeto, denominado “Study of body postures during dental procedures” (“Estudo das posturas corporais durante procedimentos odontológicos”), participam também o professor da FEUP Mário Vaz, e o professor da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto José Reis Campos, como orientadores do trabalho.
Os principais sensores utilizados neste estudo foram disponibilizados pelo Laboratório de Biomecânica do Porto (Labiomep).