João França Gouveia: “É urgente pagar condignamente trabalho médico”

Em entrevista ao SaúdeOnline, João França Gouveia afirma que a candidatura e a defesa da nova especialidade são um imperativo de consciência. Avança, indiferente aos resultados que possa vir a alcançar

“Candidato-me para tornar públicas estas questões”, afirma, defendendo que, “enquanto não houver esta especialidade [de Medicina de Emergência], o caos e a sobrelotação que se registam ano após ano nos serviços de urgência vão continuar”. Por isso, diz não atribuir qualquer importância ao peso relativo da sua candidatura e à possibilidade de sair derrotado.
Explica que, “nos Estados Unidos da América, [a especialidade de Medicina de Emergência] foi criada em 1979. Dez anos mais tarde, estava generalizada em todo o Reino Unido e em muitos países da Commonwealth. Na Europa está implementada em 18 países. O Brasil adotou-a em 2016”.
O que se pretende é que, no futuro, todos os médicos que prestem serviço nos serviços de urgência hospitalar sejam especialistas de Medicina de Emergência, “com a formação necessária e suficiente para abordar e resolver eficazmente 80% das situações clínicas que acorrem aos serviços de urgência, sem necessidade de recorrer a qualquer outro especialista e de encaminhar devidamente os 20% que necessitam de internamento ou do parecer de outros especialistas”.
Hoje, não acontece assim, na sua opinião, com consequências: “Perde-se muito tempo e dinheiro na realização de exames inúteis e a realizar tarefas que não competem aos serviços de urgência hospitalar”, aponta.
Ainda ao nível das urgências, João França Gouveia defende que o exercício da emergência médica pré-hospitalar seja garantido exclusivamente por técnicos de emergência médica devidamente qualificados.
Para evitar os estrangulamentos nas urgências que se registam nesta época do ano, defende que “o acesso aos serviços de urgência seja reservado aos doentes transportados pelo INEM ou referenciados por médico ou pela Linha Saúde 24, garantindo-se, em simultâneo, a assistência na doença aguda/urgente através da articulação efetiva com os centros de saúde e com os serviços de urgência básicos”.
Propõe, ainda, que o exercício clínico nos serviços de urgência seja garantido, progressivamente, por equipas de médicos e enfermeiros com vínculo efetivo e permanente ao serviço de urgência do próprio hospital.
França Gouveia, aposentado do Serviço Nacional de Saúde, defende que outra das formas de acabar com os problemas das enchentes nas urgências é proibir que nos serviços possam permanecer doentes internados, nomeadamente os que carecem de internamento de curta duração.

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