28 Jul, 2017

Benefícios da cafeína em pulmões prematuros perduram durante a infância

Tratar bebés prematuros com cafeína para prevenir ou resolver problemas respiratórios é já uma prática conhecida. Resultados de um novo estudo, que será publicado no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, revelaram agora que estes benefícios para a função pulmonar persistem até à infância

O estudo dá conta de 142 crianças australianas que participaram num ensaio clínico internacional cujo objetivo era perceber os efeitos, a curto e longo prazo, da terapia de cafeína em bebés prematuros.

Cinco em cada 1.000 bebés nascem prematuros, pesando apenas entre 500 a 1.250 gramas. Cerca de 30 a 40% destes bebés prematuros não sobrevivem ou desenvolvem incapacidades para toda a vida.

A cafeína é uma das substâncias mais utilizadas na unidade de cuidados neonatais intensivos (NICU, na sigla inglesa). Esta substância é usada para tratar ou prevenir problemas pulmonares em bebés prematuros, reduzindo o tempo em que estes precisam de assistência para respirar.

“Estudos anteriores mostraram que a cafeína, que pertence ao grupo de substâncias conhecidas como metilxantinas, reduz a apneia da prematuridade, uma condição onde o bebé deixa de respirar durante vários segundos”, afirma o líder do estudo, Lex W. Doyle, professor de pediatria neonatal no Royal Women’s Hospital em Melbourne, na Austrália.

O especialista explica que a administração de cafeína na NICU reduz também o risco de lesão ou desenvolvimento anormal dos pulmões dos bebés prematuros. Denominada displasia broncopulmonar, esta condição pode dar origem a dificuldades respiratórias no futuro.

O novo estudo fez o seguimento das crianças que participaram no ensaio clínico que estudou a realidade australiana quanto à utilização da cafeína para a apneia da prematuridade.

Quando alcançaram os 11 anos, as crianças foram submetidas a testes de função pulmonar denominados “taxas de fluxo expiratório”, que avaliam a capacidade de expirar o ar.

Enquanto bebés prematuros, na NICU, 52% foram tratados com cafeína e 48% com placebo.

A equipa descobriu que as crianças que foram tratadas com cafeína obtinham taxas de fluxo expiratório significativamente melhores do que as crianças que receberam placebo.

A análise mostrou também que o rácio entre FEV1 e o FEV (FEV1/FEV), utilizado para medir a doença obstrutiva pulmonar, era também melhor no grupo da cafeína relativamente ao grupo do placebo. A melhoria foi menor do que nos outros indicadores mas estatisticamente relevante.

Os investigadores assumem que as desvantagens da sua análise são o facto de os testes medirem apenas as taxas de fluxo expiratório e o grupo analisado não foi mais abrangente do que 142 crianças australianas.

Lex W. Doyle, também ele chefe do Centro de Excelência de Investigação em Medicina de Recém-Nascidos do Conselho Nacional Australiano de Saúde e Investigação Médica, afirmou que “seria desejável que os testes de função pulmonar fossem repetidos mais tarde e em grupos mais diversificados para, mais facilmente, identificar os participantes com maior risco de desenvolver distúrbios respiratórios graves em idade adulta”.

O investigador realça que se houvesse apenas uma oportunidade de repetir os testes de função pulmonar, estes deveriam ser realizados por volta dos 25 anos, idade em que a função pulmonar está no seu auge.

A equipa não acredita que a melhoria da respiração na infância advém de efeitos diretos da molécula da cafeína nos pulmões. Por outro lado, o grupo de investigadores sugere que essa melhoria resulta da habilidade da cafeína de reduzir as lesões pulmonares e o desenvolvimento anormal no bebé prematuro.

MNT/SF

 

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