Arquivo de Gil Correia - Saúde Online https://saudeonline.pt/autor-so/gil-correia/ Notícias sobre saúde Mon, 11 Aug 2025 14:05:12 +0000 pt-PT hourly 1 https://saudeonline.pt/wp-content/uploads/2018/12/cropped-indentity-32x32.png Arquivo de Gil Correia - Saúde Online https://saudeonline.pt/autor-so/gil-correia/ 32 32 Centros de Saúde em 1983, USF em 2005: e agora como moldamos o Futuro? https://saudeonline.pt/centros-de-saude-em-1983-usf-em-2005-e-agora-como-moldamos-o-futuro/ https://saudeonline.pt/centros-de-saude-em-1983-usf-em-2005-e-agora-como-moldamos-o-futuro/#respond Wed, 13 Aug 2025 07:59:00 +0000 https://saudeonline.pt/?p=177904 Médico de família e tesoureiro da Direção da APMGF

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Ao olharmos as reformas da história do Serviço Nacional de Saúde, percebemos que os médicos têm liderado o processo, transformando a prestação de cuidados para benefício de todos os que servimos. Foi assim na entrada em funcionamento dos centros de saúde em 1983, na diferenciação da especialidade de Medicina Geral e Familiar e criação da Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral, APMCG (agora a nossa APMGF) e, mais tarde, na Reforma dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), de que as USF são a sua face mais visível, em 2005.

Em cada um desses momentos, os médicos de família reforçaram não só a importância da continuidade e personalização do cuidado, mas a reinvenção das formas de cuidar para responder às necessidades.

Hoje, é já certo que a reorganização do SNS em Unidades Locais de Saúde (ULS) é um desses momentos de mudança e, naturalmente, de crise. Os problemas não são novos, são mais do que conhecidos – a escassez de profissionais, o envelhecimento da população e consequente aumento da complexidade clínica, entre outros – e não nos devem fazer perder o foco do essencial que é cuidar das Pessoas que confiam em nós.

Fazendo o exercício de olhar os CSP de um ponto de vista mais abrangente, percebemos que o movimento que deu origem aos Centros de Saúde correspondeu ao agregar de múltiplos serviços, fragmentados na sua ação e até dispersos na geografia, para uma estrutura que englobasse todas esta respostas, centralizando para as robustecer para o utente. Em 2005 assistimos ao movimento contrário, o de divisão destas competências do Centro de Saúde por Unidades especializadas, que seriam mais leves e flexíveis e que em articulação dariam esta resposta.

Hoje, mais uma vez, urge repensar o papel dos CSP como espaços de inteligência aplicada ao sistema. Unidades que se transformam, onde se gera conhecimento, se formam futuros profissionais e se desenham respostas adaptadas.

Esta transformação, frequentemente, não se decreta e já está a ocorrer no movimento contínuo do nosso dia-a-dia. Vemo-lo na implementação ainda tímida, mas em crescendo da inteligência artificial, vemo-lo nas práticas inovadoras a ganhar tração, como os projetos de prescrição social, o desenvolvimento de competências profissionais em áreas diversas (veja-se a ecografia, por exemplo) e programas de integração com diferentes níveis de cuidados ou outras profissões. As respostas de hoje não podem ser as mesmas que tínhamos há 20 anos, pois também a realidade o não é.

Temos nós, médicos de família, mais uma vez de assumir a liderança e apontar o caminho. O risco de fragmentação dos cuidados em CSP é mais uma vez muito alto se não conseguirmos assumir o nosso papel enquanto agente central deste nível de cuidados. Temos de encontrar modelos de organização que possibilitem uma resposta em CSP abrangente, enquadrada em ambiente multiprofissional e com disponibilidade de recursos adequados à prestação dos cuidados necessários à população.

Estes modelos devem potenciar o aumento das nossas competências ao longo dos anos e abrangência dos cuidados prestados, que passa muitas vezes por assegurar a coordenação com outros profissionais e estruturas. Também os outros papéis que desempenhamos, na investigação e na formação pré e pós-graduada, por exemplo, devem ser compensados e promovidos.

Discutimos recentemente no Departamento de Investigação o que deveriam ser os “Centros de Saúde Académicos”, e partindo de princípios comuns, encontramos várias perspetivas e modelos. Talvez seja altura de começar a pensar em novas formas de organizar a prática e modelos de funcionamento, não para as substituir, mas como complementares às atuais USF, em particular em áreas com carências no âmbito dos CSP.

A história mostra que, sempre que foi necessário, os médicos de família estiveram lá e assumiram o seu papel: para propor, criar, experimentar e aprender, mas sobretudo para assumir a liderança da mudança e transformar o sistema para cuidar melhor. Este é um desses momentos. Estou confiante de que estaremos à altura.

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