27 Set, 2019

Anemia na gravidez associada a distúrbios cognitivos na criança

As mulheres diagnosticadas com anemia tinham maiores probabilidades de ter uma criança com autismo, perturbação da hiperatividade e défice de atenção e défice cognitivo.

A deficiência de ferro quando detetada antes das 30 semanas de gravidez parece estar associada a uma maior probabilidade da criança desenvolver distúrbios neurológicos, nos quais estão incluídos o Transtorno do Espectro do Autismo (ASD, sigla em inglês), Perturbação da Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA, sigla em português) e défice cognitivo. A conclusão é do estudo “Association of Prenatal Maternal Anemia With Neurodevelopmental Disorders” publicada no JAMA Pediatrics.

O estudo mostrou que o risco da criança ter ASD ou PHDA era  43% e 37% superior quando a mãe tinha tido anemia no 1º ou 2º trimestre da gravidez, comparativamente com as gestantes que não tinham manifestado défice de ferro.

Já a anemia detetada após as 30 semanas de gestação parece não estar associada a qualquer risco da criança desenvolver qualquer um destes distúrbios.

Para a realização do estudo, os cientistas analisaram os dados obtidos no Stockholm Youth Cohort, um estudo de coorte prospetivo de indivíduos nascidos entre 1 de janeiro de 1984 e 31 de dezembro de 2011 – 532.232 crianças, dos quais 51.3% eram rapazes com idades entre os 6 e os 29 anos (idade na qual acabava o acompanhamento) e também as suas 299.768 mães.

Nas mulheres, 5.8% foram diagnosticadas com anemia durante a gravidez. Destes, 5% dos diagnósticos ocorreram antes das 30 semanas de gestação, enquanto 90,9% foram depois da das 30 semanas.

As variantes estudadas para obter estas conclusões foi a idade materna, o salário, o grau académico, o índice de massa corporal (IMC), historial de hospitalização psiquiátrica, intervalo entre as gravidezes anteriores, infeções durante a gestação e se a criança era o primeiro nado-vivo.

Os investigadores utilizaram modelos de regressão logística condicional para comparar irmãos (de pai e mãe) expostos à anemia com os irmãos não expostos, ajustando os resultados com o sexo, ano de nascimento e intervalo entre gravidezes para avaliar qual a responsabilidade genética no desenvolvimento destes distúrbios.

Impacto do desenvolvimento neurológico

As crianças fruto de gestações em que havia anemia durante as primeiras 30 semanas de gravidez tiveram o maior risco de ASD, PHDA e Défice Cognitivo, em comparação com as mães diagnosticadas após 30 semanas de gestação e as mães que nunca tiveram anemia durante a gravidez. Registaram também maiores probabilidades de um parto pré-termo (odds ratio [OR], 7.10; 95% confidence interval [CI], 6.28 – 8.03) ou pequenas tendo em conta a sua idade gestacional (OR, 2.81; 95% CI, 2.26 – 3.50). Além disso, registou-se uma maior probabilidade de a mãe sofrer com complicaçõs durante o parto.

Estas mulheres tinham um menor grau académico, baixos rendimentos, baixo peso e eram mulheres jovens com menos de 25 anos.

Por outro lado, as mulheres que foram diagnosticadas com anemia após as 30 semanas de gestação tinham uma maior probabilidade de ter um parto pós-termo, sendo o recém-nascido mais pesados do que o adequado para a sua idade gestacional (OR, 1.56; 95% CI, 1.49 – 1.62; and OR, 1.76; 95% CI, 1.66 – 1.87, respetivamente).

Nestas, as características estudadas das mulheres com anemia incluíam sobrepeso e obesidade, idade avançada (mais de 30 anos), historial psiquiátrico, maiores vencimentos, mulheres primíparas, intervalo entre gravidezes superior a 5 anos e internamento devido a infeções durante gravidez.

Quando os investigadores ajustaram os fatores socioeconómicos, maternos e relacionados com a gravidez, descobriram que a anemia antes das 30 semanas de gestação estava associada ao aumento do risco de diagnóstico de ASD, PHDA e DI (sigla inglesa para Défice cognitivo) (OR, 1.44; 95% CI, 1.13 – 1.84; OR, 1.37; 95% CI, 1.14 – 1.64; e OR, 2.20; 95% CI, 1.61 – 3.01, respetivamente).

A análise dos irmãos produziu descobertas semelhantes, apesar da associação ter sido maior para ASD quando comparado com a análise primária.

“O feto começa a absorver o ferro mais rapidamente por volta das 30 semanas, ” explicou Renee Gardner, autora sénior do estudo, do Instituto de Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, ao Medscape.

Adiantou ainda que a falta de ferro e “outros nutrientes durante a gravidez influencia o desenvolvimento do cerébro do feto”.

“Faz parte do tratamento pré-natal padrão analisar os níveis de hemoglobina as mulheres grávidas, e isso é importante para continuar”, disse ao Medscape Medical News Renee Gardner, PhD, do Instituto Karolinska, Estocolmo, Suécia.

“O estudo sugere que pode ser importante aumentar os baixos níveis de ferro nas mulheres que estão a pensar engravidar [num futuro próximo] ou que estão nas primeiras semanas de gravidez”, explicou.

EQ/SO

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