12 Set, 2019

Cigarros eletrónicos. Seis mortes nos EUA deixam pneumologistas preocupados

Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) recomenda aos médicos que comuniquem casos de doentes com sintomas respiratórios agudos.

Este conselho faz parte de um conjunto de cinco recomendações emitidas pela SPP na sequência do número crescente de casos de doença respiratória grave, de causa desconhecida, mas associada ao uso de cigarros eletrónicos, nos últimos dois meses nos Estados Unidos.

Até 6 de setembro as autoridades norte-americanas detetaram mais de 450 casos e seis mortes confirmadas, com uma apresentação clínica variada, mas tendo como ponto comum a todos o uso de produtos relacionados com cigarros eletrónicos (dispositivos, líquidos, cápsulas de enchimento e cartuchos).

“Até ao momento não se conhecem casos semelhantes fora dos EUA. No entanto, dada a grande disseminação destes produtos e fácil acessibilidade, é provável que surjam noutros países, incluindo Portugal”, adverte a SPP em comunicado.

 

“Uso de cigarros eletrónicos é perigoso e não é recomendado”

 

Perante esta situação, os especialistas recomendam aos consumidores de cigarros eletrónicos que desenvolvam sintomas respiratórios agudos a procurar um médico e informá-lo sobre o produto que consomem. Aconselham também os médicos que assistem doentes com quadro clínico semelhante a “obter informação detalhada sobre o uso destes dispositivos e comunicá-lo às autoridades de saúde, em caso de suspeita”.

Advertindo que “o uso de cigarros eletrónicos é perigoso e não é recomendado”, a SPP sublinha que o seu consumo deve ser especialmente evitado por grupos mais vulneráveis, como a adolescentes, jovens adultos, grávidas, idosos e doentes respiratórios crónicos.

Alerta ainda que é “especialmente perigosa a utilização de dispositivos adquiridos fora do comércio regulado, a sua utilização modificada ou a adição de líquidos ou óleos contendo derivados da canábis ou outros aditivos”.

Apesar de a investigação relativa a este surto nos EUA se manter em curso, os especialistas reiteram “a convicção de que a melhor forma de proteger a saúde respiratória é respirar ar limpo” e que “a inalação de compostos químicos presentes no vapor dos cigarros eletrónicos representa um risco real”.

 

80% dos doentes consumiram nicotina

 

Os especialistas explicam que, apesar de variável, a doença respiratória apresenta algumas características comuns ao tabaco tradicional: sintomas respiratórios (tosse seca, falta de ar, opressão torácica), sintomas gastrointestinais (náuseas, vómitos ou diarreia) e sintomas gerais (febre, perda de peso, fadiga).

“É muito relevante que as idades afetadas são bastante jovens – um terço tem menos de 18 anos (na série publicada variaram entre 16 e 52)”, referem no comunicado, adiantando que quase todos os casos reportados necessitaram de hospitalização, cerca de um terço com ventilação mecânica e nalguns casos até oxigenação extracorporal por membrana.

Apesar do número de dispositivos e líquidos diferentes disponíveis no mercado ser elevado, em cerca de 80% dos casos os doentes consumiram produtos com nicotina e derivados da canábis, como o tetrahidrocanabiol (THC) ou o canabidiol (CBD).

Segundo a SPP, desconhece-se se a doença é provocada por toxicidade de algum destes compostos, por aditivos ou contaminantes desconhecidos ou por outras substâncias formadas quando se dá o aquecimento e vaporização dos líquidos.

 

Trump proíbe aromas nos cigarros eletrónicos

 

O Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, já anunciou que a sua administração vai propor a proibição dos sabores usados nos cigarros eletrónicos – exceto o sabor do tabaco -, na sequência do surto de problemas respiratórios que se tem vindo a registar no país.

As autoridades de saúde estaduais e federais estão a investigar centenas de doenças respiratórias registadas em pessoas que usaram cigarros eletrónicos e outros dispositivos ‘vaping’ (que vaporizam produtos).

O secretário de Saúde e Serviços Humanos, Alex Azar, disse que a Food and Drug Administration (FDA) desenvolverá diretrizes para retirar todos os sabores de cigarros eletrónicos do mercado, especialmente aqueles que são apreciados por crianças.

Apesar de nenhum dispositivo de vaporização, líquido ou ingrediente dos cigarros eletrónicos estar comprovadamente ligado às doenças, os médicos suspeitam de alguma relação entre a prática do uso de cigarros eletrónicos e os casos clínicos registados.

SO/LUSA

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