Projeto de geolocalização de pessoas dementes vence edição deste ano

A atribuição do Prémio Maria José Nogueira Pinto decorreu em julho no Teatro Thalia e contou com a presença de ilustres convidados, bem como do presente júri e do Presidente da República.

A sétima edição do Prémio contou com a presença de Maria de Belém Roseira, Presidente do Júri, Vítor Virgínia, Diretor Geral da MSD, Teresa Nogueira Pinto, filha de Maria José Nogueira Pinto, o Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Além destes foi ainda notória a presença da Diretora-Geral da Saúde, da Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Maria Cavaco Silva, e ainda a deputada do PSD Assunção Cristas.

Grande Vencedor

 

O grande vencedor da iniciativa foi entregue ao projeto PADD – Projeto de Apoio Domiciliário à Demência, da Santa Casa da Misericórdia de Mogadouro, que disponibiliza, de forma gratuita, acompanhamento a doentes com demência, com o objetivo de proporcionar independência e autonomia aos utentes, retardando a sua institucionalização.

Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Mogadouro, João Manuel Henriques, e o Presidente Câmara Municipal do Mogadouro

O Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Mogadouro, João Manuel Henriques, explica-nos como:

“Com um neurologista, com enfermeiros, psicólogos clínicos e animadores, o que fazemos é uma avaliação na casa das pessoas que nos são referenciadas (pela Junta de Freguesia, pela Câmara, Centro de Saúde, seja pelo vizinho). Após realizada a avaliação, vemos como podemos atuar e qual a ação a tomar – se uma ação farmacológica, se uma ação não farmacológica.”

Além disso, prestam ainda apoio ao cuidador informal. De acordo com João Manuel Henriques, o valor do prémio – 10 mil euros – servirá para adquirir aparelhos de georreferenciação, de forma a garantir uma “maior segurança e mobilidade aos que vivem com demência”. Desta forma, quando se encontrarem perdidos, o aparelho localiza-os para que os cuidadores, a equipa de apoio domiciliário e eles próprios saberem onde estão, o que lhes oferece uma maior autonomia e segurança.

O programa, que avançou há 2 anos devido ao apoio e investimento da Câmara Municipal de Mogadouro (CM de Mogadouro), estava agora em risco de acabar por falta de verba. No entanto, o presidente da CM de Mogadouro, Francisco Guimarães, garante que “o projeto está, desde já, assegurado pelo município”.

“Não é o custo financeiro que traz para o município” que impede a injeção de capital, porque o projeto traz uma grandiosa vantagem. Tanto o Presidente da CM de Mogadouro como o Provedor da Santa Casa da Misericórdia local, acreditam que este pode e deveria ser um projeto replicado por todo o país, servindo “de exemplo, porque infelizmente estamos num país envelhecido e onde o problema da demência é cada vez mais notado, especialmente no interior”, onde também é mais facilmente detetado uma grande comunhão entre os habitantes das aldeias, vilas e pequenas cidades de Portugal.

João Manuel Henriques diz que se foi possível pôr em prática este projeto “no concelho do Mogadouro, que tem 760 km2, o que, para a maioria das pessoas, representa apenas números, mas que, na verdade, é 7,5 vezes maior do que o concelho de Lisboa ou 18 vezes maior do que o concelho do Porto, não conseguirão coloca-lo também em prática nos outros concelhos menores?”, deixa a questão no ar, para, logo de seguida, responder com um exclamativo “Obviamente que sim”.

Visto terem sido recebidas mais de 100 projetos candidatos, houve ainda espaço para destacar quatro iniciativas como menção honrosas, beneficiando de um prémio de 1000 euros.

 

Menções Honrosas

 

  • “Ser mais Família”, da Associação de Ajuda ao Recém-Nascido

Assunção Mascarenhas, vice-Presidente da Direção da Associação de Ajuda ao Recém-Nascido (à direita)

O objetivo deste projeto do Banco do Bebé –  Associação de Ajuda ao Recém-Nascido passa por tentar ajudar mais famílias no seu domicílio, uma vez que, como diz a vice-Presidente da Direção da associação, Assunção Mascarenhas, existem “cada vez mais as assistentes sociais dos hospitais e da Comissão de Protetora de Crianças e Jovens (CPCJ) a pedir ajuda por terem bebés com problemas de saúde, bebés que estão inseridos em ambientes com dificuldades económicas e crianças que estão em Portugal e cujos pais estão [ainda] sem documentos em Portugal”.

Esses bebés ou crianças são referenciadas à associação pelas assistentes socais, sendo posteriormente realizada uma uma primeira visita seu ao domicílio, por uma equipa multidisciplinar – fisioterapeutas que ajudam no aleitamento materno, médicos, enfermeiros e voluntários –, para depois poder avaliar o estado do bebé ou criança e da sua família. Após essa primeira intervenção, “todos os meses há uma reunião para transmitir o ponto de situação”, de forma a avaliar o progresso daquela família.

O acompanhamento é realizado durante entre 8 a 14 meses após a criança ser referenciada.

“Só deixamos de acompanhar a família quando achamos que está autónoma”, explica Assunção Mascarenhas.

Para além de garantirem que a família do bebé cumpre o plano nacional de vacinação e se apresentam nas consultas necessárias de rotina, ajudam também os bebés, que saem das incubadoras, e as suas mães a cuidar destes pequenos seres humanos, o que para algumas se revela ser uma árdua tarefa.

“Isto foi uma maneira de ajudar as mães a tratarem dos seus bebés e aliviar os hospitais [da afluência desnecessária de crianças nas urgências]”, declara.

As voluntárias estão ao cargo de um técnico e estão disponíveis 24 horas por dia, de modo a que as mães possam tirar as suas dúvidas a qualquer hora do dia.

Este programa, sedeado na MAC, conta com cerca de 80 voluntárias, divididas por cerca de três técnicos. Na maternidade também prestam apoio, seja na enfermaria, na Neonatologia, serviço no qual existem voluntários só a dar colo ao bebé, “o que é extremamente importante, porque o bebé precisa do calor humano”.

Com pesar nos olhos e rosto, conta-nos que os riscos sociais com que se deparam são diversos e todos igualmente preocupantes: Bebés em ambientes com situações económicas complicadas, mães solteiras (com 16, 18 anos), extrema pobreza… Há de tudo! A maior parte das pessoas convive com estes problemas e nem faz ideia que existem”.

No entanto, também ajudam com bens essenciais e outros, como exemplifica: “Se for fazer um domicílio e reparar que eles não têm um frigorífico ou um micro-ondas, é enviado um email a perguntar se alguém tem um frigorífico para aquela família, publicamos nas redes sociais ou vamos diretamente a um dos nossos parceiros para tentar arranjar uma solução.”

Quando o acompanhamento chega ao fim, o sentimento de tristeza e de possível “perda” é, de certa forma, abafado, pelos diversos eventos que a associação organiza ao longo do ano e aos quais comparecem as famílias que foram acompanhadas.

Esta equipa de voluntários e de técnicos acaba por ser uma base de apoio emocional, uma vez que vão estar lá sempre para apoiar e ajudar estas recém-mamãs a reintegrarem-se socialmente, através do apoio dado à sua família, ao novo bebé e dando um novo significado ao mais recente paradigma familiar.

 

  • “Oficinas do Sabor”, da Associação Vale de Acór

Clara Carneiro, membro do júri, entrega o prémio à Associação Vale de Acór

A Associação Vale de Acór tem como missão a recuperação e reinserção de toxicodependentes no mercado de trabalho. Com este projeto, a Associação pretende remodelar um edifício, cedido pela Câmara Municipal de Almada, para profissionalizar pessoas que tenham terminado o seu percurso terapêutico e aumentar os negócios de forma sustentável e responsável. Disponibilizando um serviço de catering (Cozinha do Vale), a Associação pretende montar uma estrutura equipa para ensinar futuros cozinheiros e auxiliares de cozinha.

 

 

  • “Clube da Batucada”, da Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines

Miguel Anacoreta Correia, membro júri, entregou o prémio ao “Clube da Batucada”

É um projeto que apoia utentes portadores de doença mental ou incapacidade física e motora. Apresenta uma vertente social e terapêutica, não só a nível emocional e de bem-estar, mas também com foco no controlo, estimulação e coordenação motora. A metodologia utilizada inclui uma aprendizagem experiencial que potencia a autonomia e autoestima dos doentes, através de aulas de música inclusivas e comunitárias, onde todas as pessoas, independentemente das suas incapacidades ou limitações, se encontram num lugar comum para tocar e fazer música.

 

  • “Horto Monástico”, da InovTerra – Associação para o Desenvolvimento Local

Maria Cavaco Silva a entregar o prémio à responsável pelo projeto

Localizado na cerca do Mosteiro de São João de Tarouca, o “Horto Monástico” recria a horta cultivada pelos monges. Com o objetivo de promover o desenvolvimento local, a InovTerra aposta na produção agrícola biológica, no turismo religioso e rural e cria novos postos de trabalho numa zona de desemprego elevado.

No entanto, tratando-se este evento de uma distribuição de prémios mas também de uma sentida homenagem, houve ainda tempo para umas sentidas declarações sobre a personalidade que deu nome ao prémio e, consequentemente, a sua importância no panorama atual.

Quem deu as hostes da casa foi Maria de Belém Roseira, enquanto representante e presidente do júri.

Maria de Belém Roseira

“Pelo prestígio da homenageada, esta cerimónia tornou-se já um ícone nas iniciativas da Responsabilidade social em Portugal”, começou por dizer a antiga deputada.

“Se eu pretendesse sintetizar em duas palavras este prémio diria memória e gratidão. A celebração da memória de Maria José Nogueira Pinto, do que realizou, do que disse, do que nos legou, do que fez e como fez, em termos de postura, elegância e sobriedade, de dedicação à causa pública, de coerência, de responsabilidade, de coragem e de defesa e promoção de valores, para que em época de cupidez [cobiça] e ostentação, se identifique o contraste e se valorize o que é verdadeiramente importante”, continuou.

Frisou ainda que a o ter memória desta personalidade que deu o nome ao prémio é recordá-la e, assim, fazer “pedagogia social”. Relembrou ainda alguns dos valores pelos quais se pautava Maria José Nogueira Pinto:

“É importante lembrar que todos somos responsáveis por todos. É denunciar a indiferença e é também valorizar quem, com muitas dificuldades, mas também com muita dedicação trabalha para minorar as agruras das vidas daqueles a quem a vida não poupou”.

De seguida, viria a discursar, o Diretor-Geral da farmacêutica MSD, patrocinadora oficial e maioritária deste prémio, Vítor Virgínia, afirmou, perante uma plateia de familiares e amigo da homenageada, dos responsáveis pelas projetos apresentados e de jornalistas, lembrou que esta é uma iniciativa que se foi consolidando, ao longo dos anos, “como uma referência na mobilização e distinção de entidades que trabalham com mérito e incessantemente no chamado ‘terceiro setor’­”.

Vitor Virgínia, Diretor-Geral da MSD

Segundo Vítor Virgínia, a farmacêutica “sempre se afirmou, e pretende continuar a afirmar-se, como parceiro do sistema de saúde português e do serviço nacional de Saúde”, o que, segundo um o diretor-geral “requer um olhar inclusivo e liberto de preconceitos sobre a nossa empresa e particularmente sobre o setor em que exerce a sua atividade”.

Finalizando o seu discurso lembrou o que considera ser o nosso papel na sociedade:

“Assim como Maria José Nogueira Pinto lutou para criar uma sociedade mais justa, solidária, tolerante e inclusiva, também é nosso dever publico atuar diariamente nas empresas, nas instituições públicas e privadas, até nos órgãos de soberania, de modo a sermos artífices do bem comum numa construção coletiva”.

Marcelo Rebelo de Sousa prosseguiu, recordando a “riqueza do nosso Sistema Nacional de Saúde” e a importância das instituições de solidariedade social:

“Foram elas que, em momentos particularmente difíceis da nossa vida coletiva, souberam criar fatores de coesão, souberam substituir o Estado e outras entidades públicas, onde ele e elas não podiam intervir e, nessa medida, minorar os custos para todos, sobretudo para os mais deprimidos e carenciados da situação crítica vivida”.

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

Reforça que somos um só Portugal e não vários, categorizados como “uns de primeira, outros de segunda e outros de terceira” e enfatizou ainda, como tem sido recorrente em muitos eventos aos quais comparece, a importância dos cuidadores informais:

“Tenho testemunhado a importância de centenas de milhares de portugueses que, anonimamente, como cuidadores informais, servem os seus familiares, amigos, vizinhos, aqueles que eram seus desconhecidos até passarem a ser seus conhecidos e com eles privarem todos os dias”.

O Prémio Maria José Nogueira Pinto foi instituído em 2012 pela MSD e pretende homenagear uma mulher que se distinguiu pela sua persistência na área da Solidariedade Social. Assim sendo, representa um incentivo ao que de bem se faz em Portugal nesta área.

 

Erica Quaresma

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