Associação cria oportunidades para quem tem Síndrome de Asperger

Serão cerca de 50 as famílias que têm filhos portadores da síndrome de Asperger apoiadas pela Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger, que cria agora um programa de oportunidades de emprego para estes jovens.

Diariamente são recebidos na Casa Grande, espaço que abriga a instituição, em Lisboa, 20 jovens que realizam diversas atividades enquanto é realizada uma avaliação de perfil com o objetivo de os encaixar no mercado laboral.

A presidente da Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA), Piedade Líbano Monteiro, contou à agência Lusa a história da associação, que surgiu de um pedido de um médico, que via estas famílias “perdidas”. Assim sendo, a presidente decidiu reunir esforços juntamente com outros pais e fundou a associação a 07 de novembro de 2003.

Esta perturbação provoca dificuldades de relacionamento, comportamentos repetitivos, descoordenação motora, dificuldade na comunicação verbal e não verbal, leva a interesses limitados e especiais, entre outros problemas.

A associação começou a sua atividade quando os pais decidiram usar a sua experiência para ajudar outros pais, iniciando-se uma dinâmica de reuniões – “Encontros APSA”.

“A APSA foi avançando à medida que nestas reuniões de pais nos iam trazendo problemas. Por exemplo, se havia um grupo de pessoas com dificuldade em pedir uma terapeuta da fala para o filho, então era sobre isso que nós íamos falar e trabalhar”, relatou.

Estes pais concluíram que “os grandes problemas surgiam sempre nas escolas” porque era nesses estabelecimentos “que se percebia que estas crianças eram efetivamente diferentes quando estavam com os outros”. Surgiu assim o “Projeto Gaivota”, sessões dadas pelos pais, que pretendem “sensibilizar, desmitificar e explicar o que é a síndrome de asperger”.

“Começámos só por ir às escolas, mas neste momento vamos a todo o sítio onde seja preciso falar da síndrome. Não há limite de espaço geográfico”, afirmou Piedade Monteiro.

Mas as dificuldades não acabam com a idade escolar, encontrando estas pessoas um “fosso” na transição para o mercado de trabalho.

“Nós começamos a constatar que estes jovens ficavam em casa, hipotecando a vida dos pais e a deles e que não havia saída” e começou a ser pensado um projeto que os ajudasse no futuro.

Foi então criado o “Projeto Empregabilidade” e construída a Casa Grande, espaço que recebe diariamente jovens que realizam diversas atividades – música, costura, agricultura, jardinagem, cozinha, expressão plástica.

Nestas atividades são avaliados diariamente:

“Como é que se comporta, como é que se está perante os outros, como é se que lida com a frustração, se é ou não resiliente e o que é que ele/a gosta realmente de fazer”, explicou.

Depois da avaliação é feito “um plano de ação”, que o jovem e a respetiva família pode aceitar ou recusar, para que depois se chegue a um emprego.

É estudada a empresa mais indicada para cada perfil e há “total transparência”, sendo explicado aos pais ou cuidadores que a APSA irá acompanhar sempre este trajeto e que o padrão diferente de comportamento não impossibilita o jovem de conseguir cumprir com distinção as tarefas que lhe são destinadas.

“Eles podem entrar como voluntários, estagiários, estagiários remunerados. Com curso de formação têm também uma remuneração e podem ir diretos ou não ao contrato de trabalho”, explicou a presidente da APSA.

Este programa já possibilitou sete contratos de trabalho e o estabelecimento de mais de uma dezena de parcerias com outras empresas, desde a banca, a hospitais ou hipermercados.

Para além destes projetos, a Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger tem outras iniciativas, como o “Escutar e Orientar” e o “Tempo de Pais”, que nada mais são do que espaços onde os pais podem conversar sobre as suas dificuldades, sendo o último não exclusivo a familiares de pessoas com esta problemática, mas disponível para “qualquer pai que se sinta perdido”.

Com isto, Piedade Líbano Monteiro, não tem “a perspetiva de dizer que a APSA tem respostas para tudo”, mas afirma que ninguém sai da instituição “sem uma perspetiva de esperança”.

Apesar da visão otimista, defende que é preciso “puxar por quem no fundo manda neste país” porque “é preciso cuidar do futuro da pessoa com deficiência”.

SO / Lusa

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