1,4 milhões de portugueses obesos e sem acesso a fármacos

Mais de 1,9 biliões de adultos têm excesso de peso e destes 600 milhões são obesos. Perante estes números a OMS considera esta condição como a epidemia global do século XXI. A SPEO alerta para a inacessibilidade do tratamento farmacológico e quer combater o estigma e preconceito ainda associados à Obesidade.

Através da campanha informativa “Juntos no Ataque à Obesidade”, a Sociedade Portuguesa Para o Estudo da Obesidade (SPEO) assinala o dia com falando sobre os números da população portuguesa afetada por esta doença, numa abordagem multifatorial, e fazendo do combate ao estigma uma prioridade num futuro muito próximo.

Num país em que a taxa de incidência da Obesidade se verifica em 1,4 milhões de pessoas, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal faz parte da lista dos países da União Europeia com uma mais elevada taxa de incidência de Obesidade na população, doença esta considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a epidemia global do século XXI.

No âmbito do do Dia Nacional e Europeu de Luta Contra a Obesidade, a SPEO alerta para a inacessibilidade do tratamento farmacológico a todos os que sofrem com esta doença em Portugal, ainda que haja inovações que poderiam estar a beneficiar não apenas os doentes como o próprio sistema nacional de saúde (SNS). Não sendo os fármacos para o combate desta doença comparticipados, o acesso ao tratamento e a evolução da doença é maior junto das classes sociais mais desfavorecidas.

A endocrinologista e presidente da SPEO, Paula Freitas, sublinha que “a obesidade é uma doença  mais prevalente nas classes sociais mais desfavorecidas, e, por estar associada a múltiplas outras doenças, como é o caso da diabetes, doenças cardiovasculares, respiratórias, ortopédicas e cancro, é urgente iniciar o seu tratamento de uma forma multidisciplinar. Além da necessária comparticipação do tratamento farmacológico é preciso também lembrar que a obesidade é uma doença crónica que precisa de uma abordagem multifactorial e multidisciplinar, daí a SPEO se ter juntado neste Dia Nacional e Europeu de Luta Contra a Obesidade à Associação Europeia para o Estudo da Obesidade (EASO) na campanha informativa ‘Juntos no Ataque à Obesidade’.

 

Precisamos da abordagem de vários profissionais de saúde para  melhorar o tratamento da obesidade mas, sobretudo, precisamos de colocar o doente no centro do problema, ou seja, o envolvimento e o compromisso do doente para a mudança em termos de modificação de estilos de vida.”

A especialista esclarece ainda que é fundamental combater o estigma que afeta as pessoas que sofrem diariamente com esta doença.

O estigma e preconceito contra as pessoas que vivem com obesidade é uma ameaça à sua saúde, gera desigualdades e interfere com os esforços de intervenção nesta doença. A obesidade é muitas vezes vista pelos próprios doentes e pela sociedade apenas como consequência de um determinado estilo de vida, e como sendo apenas da responsabilidade do doente, o que acaba por desencorajar os doentes a procurar ajuda médica”, reforça a médica.

Segundo um estudo publicado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) no SNS encontra-se prevista uma abordagem integrada da obesidade, articulada ainda com variados níveis de cuidados de saúde, que prevê a sinalização precoce e um posterior acompanhamento rigoroso nas consultas de cuidados de saúde primários. Contudo, a capacidade de resposta destes são diminutos, o que se constata através da carência de nutricionistas nos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES).

No entanto, a obesidade é uma doença que tem ganhado cada vez mais a atenção dos especialistas e organizações de saúde, uma vez que a sua prevalência tem aumentado não apenas em Portugal, mas em todo o mundo.

De acordo com a OMS, a obesidade alcançou proporções de pandemia, com mais de 1,9 biliões de adultos (pessoas com idade superior a 18 anos) com excesso de peso (ou seja, com um índice de Massa Corporal superior a 25 kg/m2 – IMC > 25 kg/m2). Destes, mais de 600 milhões de pessoas são obesas (IMC> 30 kg/m2).

Estima-se que mais de 20% da população mundial será obesa em 2025 se nada for feito para travar esta situação. A incidência crescente da obesidade infantil na Europa é particularmente preocupante, visto ser um forte preditor de obesidade na idade adulta, especialmente nos jovens com excesso peso e com historial clínico de obesidade na família.

Portanto, a obesidade é uma doença que requer uma gestão a longo prazo. A presença de outras doenças associadas à obesidade incluem a diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), alguns tipos de cancro, infertilidade, doenças articulares e ósseas, doenças psicológicas, entre outras. Assim sendo, é uma doença complexa e multifatorial influenciada por fatores fisiológicos, genéticos, endócrinos, psicológicos, ambientais e socioeconómicos.

Erica Quaresma

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