1 Abr, 2019

Há tendência de globalização de doenças antes restritas ao trópicos

O diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Paulo Ferrinho, alerta, em entrevista à agência Lusa, para a tendência de globalização das doenças tropicais, admitindo a possibilidade de "surtos esporádicos" de malária na Europa

“A tendência atual das doenças tropicais é de uma convergência cada vez maior entre o tropical e o global. É cada vez mais difícil separar o tropical do global por causa das alterações de contexto, desde as alterações climáticas, à mobilidade das populações, das mercadorias e dos vetores (mosquitos), o que leva à globalização de doenças que antes estavam restritas aos trópicos”, disse Paulo Ferrinho.

O diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) falava, em entrevista à Lusa, antecipando o 5.º Congresso Nacional de Medicina Tropical, que vai reunir, em Lisboa, de 10 a 12 de abril, especialistas lusófonos, europeus e de outros países para debater as políticas e serviços de saúde.

O especialista em saúde pública e medicina tropical assinalou que o agente vetor (aedes albopictus) de várias destas doenças “é um invasor destemido, que avança mundo fora” e já está “a penetrar na Europa”.

“Ao entrar na Europa, criou alguns surtos de doenças transmitidas por vetores, como a chikungunya, em alguns países europeus. Já temos o aedes albopictus em Portugal e temos de estar atentos para o controlar e para que não se instalem em Portugal doenças que até há pouco tempo eram tropicais”, acrescentou.

Paulo Ferrinho lembrou que o vírus da sida, que surgiu na República Democrática do Congo, levou 80 anos a globalizar-se, mas alertou que a disseminação de doenças pode ser hoje muito mais rápida.

“Há risco de termos surtos esporádicos de malária na Europa. Aliás, já tivemos, por exemplo, na Grécia e em Itália. O vetor existe e é preciso estar atento e aconselhar os viajantes sobre como se comportar quando se deslocam a países de risco, mas também estar atentos aos migrantes desses países”, afirmou.

Cerca de mil milhões de pessoas ficarão expostas a doenças como a febre dengue se o aquecimento global continuar, segundo um estudo científico publicado, na quarta-feira, no boletim científico PLOS, que se baseou no registo mensal das temperaturas mundiais.

Os cientistas concluíram que as doenças de climas tropicais estão em expansão e atingirão zonas do globo com climas atualmente menos favoráveis aos mosquitos, porque os vírus que estes propagam provocam epidemias explosivas quando se verificam as condições certas.

Fundado em 1902, o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) dedica-se ao ensino e à investigação da saúde pública, medicina tropical, ciências biomédicas e epidemiologia, com especial incidência na ligação com os países de língua oficial portuguesa.

No âmbito da sua estratégia para a investigação, foi criado o centro Globalhealth and Tropical Medicine, que conta com 50 a 60 investigadores a tempo inteiro distribuídos por quatro grupos de investigação: saúde de viajantes e migrantes; doenças emergentes e mudanças ambientais; saúde das populações, políticas e serviços e tuberculose, Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV) e doenças oportunistas.

O instituto tem também um programa de mestrados, doutoramentos e pós-graduações com cerca de 500 alunos, mais de metade dos quais frequentam as aulas à distância e com recurso às tecnologias de informação e comunicação.

“Em determinados países, como Moçambique, devido à escassez dos profissionais de saúde é impossível obter autorização para se deslocarem para fora do país para estudar. Assim, estes alunos, muitos deles ministros, ex-ministros, diretores nacionais, presidentes de institutos de saúde e outros profissionais que trabalham em hospitais e outros programas de saúde pública, conseguem, sem abandonar os seus locais de trabalho, participar no nosso ensino”, adiantou Paulo Ferrinho.

A maior parte dos alunos são brasileiros, moçambicanos e angolanos, mas o IHMT tem atualmente estudantes de mais de 20 nacionalidades.

O organismo fornece ainda consultas de medicina tropical e das viagens, tendo, em 2017, feito 11.262 consultas do viajante, 369 consultas de medicina tropical e administrado 21.658 vacinas.

LUSA/SO

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