29 Mar, 2019

Médicos e doentes dizem que reabilitação pós-AVC é “negligenciada”

“O AVC ainda é visto como uma fatalidade pelos decisores na área da saúde”, pelo que “a reabilitação acaba por ser negligenciada”, considera o Prof. Castro Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC)

O Dia Nacional do Doente com AVC é assinalado anualmente a 31 de março, com o objetivo de chamar a atenção da população geral para a realidade do Acidente Vascular Cerebral (AVC) em Portugal. Para além da aposta nas medidas de prevenção e na divulgação dos sinais de alerta e fatores de risco de AVC, esta data surge também para relembrar o papel determinante da reabilitação pós-AVC na recuperação e reintegração dos sobreviventes.

“O AVC ainda é visto como uma fatalidade pelos decisores na área da saúde”, pelo que “a reabilitação acaba por ser negligenciada”, considera o Prof. Castro Lopes, presidente da Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC), referindo mesmo que “o pós-AVC é a nossa grande luta atual”.

Enquanto sobrevivente de AVC, António Conceição, presidente da Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos, reconhece que “o doente facilmente corre o risco de cair no esquecimento quando sai do circuito hospitalar”, ou seja, assim que tem alta após o período de reabilitação inicial, limitada no tempo. Para o representante da associação de doentes, esta reabilitação não pode ter uma duração pré-estabelecida e deve ser multidisciplinar, incluindo intervenções de áreas como a fisioterapia, terapia ocupacional, terapia da fala, neuropsicologia, assistência social, entre outros. Acrescenta o Prof. Castro Lopes que “o sobrevivente tem direito à reabilitação até recuperar na totalidade todas as capacidades afetadas pelo AVC”, reiterando o que em nome da SPAVC vem repetindo há mais de uma década: “a reabilitação não é uma esmola, mas um direito!”.

Desta forma, um dos grandes objetivos destas duas entidades nesta data é posicionar a reabilitação dos sobreviventes como “uma prioridade e uma necessidade”, enquanto “processo crucial” para que os doentes recuperem com a devida dignidade e qualidade de vida. António Conceição vai mais longe, afirmando que “a reabilitação não é uma despesa, mas antes um investimento com retorno, pois pode significar a diferença entre continuar a ter um cidadão contribuinte ativo ou passar a ter um sujeito passivo, dependente da Segurança Social durante largos anos e com complicações de saúde que surgirão posteriormente, nomeadamente a nível psicológico”, e que implicam gastos acrescidos em saúde.

Neste contexto, o Prof. Castro Lopes salienta a importância da existência de uma associação nacional de sobreviventes, como é o caso da Portugal AVC, “enquanto voz que reivindica os direitos dos doentes”, essencial para produzir mudanças efetivas.

O caminho a percorrer em Portugal é ainda longo, bem patente nos resultados do estudo “Caracterização da avaliação e tratamento de reabilitação nas UAVC em Portugal”, recentemente divulgado pela SPAVC. No nosso país, apenas 22,2% das UAVC têm a equipa multiprofissional de reabilitação completa; em 37% faltam dois ou mais elementos; e em 18,5% faltam três ou mais elementos. O estudo foi realizado entre outubro de 2017 e janeiro de 2018, através de visita presencial com entrevista aos responsáveis pelas Unidades de AVC (UAVC) e ao médico especialista em Medicina Física e de Reabilitação (fisiatra) que dá apoio à UAVC.

O Acidente Vascular Cerebral continua a ser a doença que mais mata em Portugal e é também a principal causa por invalidez permanente no nosso país. Quase 30% das pessoas com AVC acaba por morrer na sequência desta doença. Da mesma forma, quase 30% dos sobreviventes sofrerá de incapacidade permanente, no entanto, 70% das pessoas com AVC pode ter uma vida independente com tratamento precoce e reabilitação.

MMM

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