8 Mar, 2019

Isabel Saraiva: “As doenças respiratórias são um pouco esquecidas”

No Dia Internacional da Mulher, que hoje se assinala, entre as 17h e as 23h, decorre uma campanha de sensibilização, no Largo de Camões, em Lisboa, para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. Em entrevista ao Saúde Online, a presidente da Associação Respira, a Dr.ª Isabel Saraiva, alerta para o número crescente de mulheres fumadoras em Portugal e para a pouca atenção dada às doenças respiratórias.

Qual é o objetivo da campanha “Operação STOP DPOC”?

É chamada de atenção sobretudo para as mulheres fumadores. Existe cerca de meio milhão de mulheres fumadoras em Portugal. E nós entendemos que uma maneira de homenagear a mulher é de sensibilizar para esta situação. O tabaco é um assassino silencioso e nas mulheres causa danos irreversíveis, para além da DPOC. Gostaríamos muito que este dia e a campanha servisse de alerta para as fumadoras pensarem se não seria uma boa altura para deixar de fumar.

Sabe-se que a prevalência da DPOC é superior dos homens. Qual o impacto desta doença nas mulheres?

A prevalência nas mulheres está a aproximar-se muito rapidamente. Nos homens é de 19% e nas mulheres é cerca de 11%. De qualquer das maneiras, falamos de mais meio milhão de fumadoras, são muitas mulheres que estão em risco de contrair DPOC ou que já têm.

A campanha consiste numa ação de rastreios gratuitos. De que forma o diagnóstico atempado é determinado para o curso da doença?

A DPOC é uma doença crónica, portanto não é reversível. Contudo, pode ser tratada. Se for feito o diagnóstico precoce através da espirometria, o que propomos fazer no dia 8 de março, a evolução da doença é completamente diferente e os danos da própria doença,  serão muito menores comparativamente se for detetada num estadio muito avançado. A DPOC tem 4 fases, a primeira é uma fase ligeira e na quarta já falamos de uma fase em que se torna complicado realizar tarefas ligeiras como pentear o cabelo, tomar banho, subir e descer escadas, pequenos gestos que fazem parte do nosso quotidiano e que se tornam difíceis de cumprir. Se for detetado cedo, é possível dar às pessoas uma melhor qualidade de vida.

Porque é que acha que é uma doença diagnosticada?

A saúde respiratória não atrai muitas atenções mesmo por parte das autoridades de saúde. No entanto, a função mais importante é respirar. É o nosso primeiro e último ato. É uma função muito importante, mas à qual não é dada muita atenção. Muitas doenças respiratórias, e a DPOC em particular, são pouco vigiadas e pouco consideradas como alertas para uma situação mais complicada. A DPOC pode gerar outras complicações, especialmente na mulher, como a osteoporose, diabetes, ansiedade e depressão. Portanto, é uma doença muito grave, é a 3.ª causa de morte em Portugal, que deveria ser diagnosticada precocemente, tratada e os doentes deveriam ter acesso ao diagnóstico precoce e à prevenção e isso faz-se pela cessão tabágica e pela vacinação.

Além do tabagismo, quais são os outros fatores de risco?

90% são fumadores ou ex-fumadores, os outros 10% estão relacionados a uma situação genética que provoca a doença ou a questões de saúde ocupacional. Há profissões, como os trabalhadores das área químicas ou mineiros, mas também todas as outras que de alguma maneira têm que trabalhar com químicos como pessoas que trabalhem em cabeleireiros, pessoas que trabalham na área de limpeza doméstica ou de escritórios que contactam com detergentes com químicos.

Qual a avaliação que faz do panorama das doenças respiratórias no geral em Portugal?

As doenças respiratórias são um pouco esquecidas,  seja porque não têm despertado a atenção das autoridades de saúde ou pela falta de interesse de uma forma geral. Mas recorde-se que a DPOC é a 3.ª causa de morte em Portugal e, portanto, valeria muito a pena repensar esse posicionamento, dar acesso aos doentes, formas profissionais de saúde que pudessem tratar atempada todos estes milhões de portugueses que andam por aí e não sabem que têm DPOC.

Mónica Abreu Silva

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