7 Jan, 2019

Frio e gripe são o teste anual do algodão ao SNS, diz pneumologista Filipe Froes

O pneumologista e intensivista Filipe Froes considera que o inverno e a gripe funcionam como “o teste anual do algodão” ao Serviço Nacional de Saúde, que se encontra no limite e sem capacidade para responder a aumentos de procura.

“Quando chega o inverno e a altura da gripe, temos o teste anual do algodão ao SNS. E quando um SNS, que já em circunstâncias normais está no limite e sem reserva, se confronta com aumento do trabalho resultante do frio e do aumento da atividade dos vírus respiratórios, quem está no limite entra em falência e não tem qualquer capacidade de se adaptar”, disse o especialista à agência Lusa.

Anualmente, quando as temperaturas começam a baixar e quando a circulação de vírus respiratórios se intensifica, as urgências hospitalares, sobretudo, sentem um aumento de afluxo de doentes e este ano há já relatos de sobrelotação nalguns hospitais.

Para Filipe Froes, o SNS já não tem sequer capacidade de aumentar a oferta “para um ligeiro aumento da procura”, recordando que a época gripal ainda está no início e que a gripe ainda nem entrou na fase epidémica.

“O que há é um agravamento do desequilíbrio em que já vivemos. Já vivemos numa situação no limite, que é disfarçada pela dedicação e espírito de missão dos profissionais, que vão tentando compensar as falências do sistema”, afirma o pneumologista.

Filipe Froes entende que o “teste do algodão” do inverno e da gripe tem permitido tirar, sobretudo, duas conclusões: “Uma é a da que a resposta do SNS à gripe diz mais do SNS do que diz da gripe. A outra é a falência de respostas imediatistas e da ‘numerização’ na saúde”.

Para o especialista, o SNS precisa de uma “planificação alargada, a médio e longo prazo”, investindo na qualidade, na disponibilidade dos recursos e na proximidade, rejeitando deste modo respostas apenas circunstanciais.

Filipe Froes lembra que os médicos de família têm listas de utentes com 1.900 pessoas, o que faz com que tenham pouca disponibilidade de tempo para ver os doentes. “Estamos a destruir a relação essencial na medicina, que é a relação médico/doente. Um médico com 1.900 doentes vê hoje um doente e só volta a vê-lo dali a mais de dez meses. Quando o doente agudiza de uma situação crónica, o médico não tem tempo de o ver, porque as consultas estão cheias”, descreve o perito.

O pneumologista e intensivista, que trabalha há décadas exclusivamente no SNS, alerta ainda que foram encerradas camas de agudos no SNS nos últimos anos que acabam sistematicamente por ser necessárias nestas alturas mais críticas do inverno e da gripe.

LUSA

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