21 Nov, 2018

Prematuros transferidos para unidades longe de casa por falta de profissionais de saúde

A Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro XXS alertou que a falta de profissionais de saúde está a obrigar as unidades de neonatologia a encerrar vagas e a transferir prematuros para hospitais longe das suas residências.

“Há unidades de Lisboa que estão a transferir bebés para Coimbra porque não têm capacidade de resposta às famílias na sua unidade e não é porque não tenham equipamento, mas porque não têm recursos humanos, o que é gravíssimo”, disse à agência Lusa Paula Guerra, dirigente e cofundadora da XXS.

O problema deve-se ao facto de não haver “enfermeiros suficientes” para ter os postos de cuidados intensivos neonatais abertos, adiantou Paula Guerra, advertindo se não forem tomadas medidas urgentes, Portugal corre o risco de deixar de estar entre os piores da Europa nos cuidados neonatais.

A associação adianta, em comunicado, que a gestão de vagas nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (UCINs) tornou-se num verdadeiro “pesadelo” para os profissionais de saúde.

“O número de vagas disponíveis para internamento em UCINs tem vindo a diminuir significativamente, na maioria dos casos”, por falta de médicos e enfermeiros, o que obriga ao encerramento de salas/camas devidamente equipadas por falta de profissionais, sublinha.

A XXS alerta que a redução do número de profissionais pode provocar “a deterioração dos cuidados prestados aos bebés prematuros.

“Por falta de profissionais, os enfermeiros estão a ser obrigados a reduzir as horas de ações de formação que dão aos pais, assim como a promoção de práticas que promovem a ligação entre pais e bebé dentro das unidades, como é o caso da amamentação e do método canguru, que visam promover o vínculo afetivo entre os pais e os bebés prematuros e são muito importantes para a recuperação”, exemplifica.

Dificuldade de transporte

A associação refere ainda que o transporte dos bebés entre unidades também coloca problemas.

Por um lado, quando o bebé já está a melhorar, no seu retorno à unidade de origem, é necessária uma enfermeira extra que assegure o transporte, o que, na maior parte das vezes, não é possível devido à falta de profissionais, tendo o bebé de permanecer na unidade de acolhimento até que a equipa de enfermagem se consiga coordenar.

Por outro lado, o tempo de espera e de permanência do bebé que tem de aguardar pela transferência na unidade de acolhimento, leva também a uma gestão complexa por parte dos profissionais de saúde relativamente ao número de vagas (que já são reduzidas) para novos bebés que nasçam nesse momento.

Teresa Tomé, coordenadora da Unidade de Neonatologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central, que engloba a Maternidade Alfredo da Costa e a maternidade D. Estefânia, disse à Lusa que tem “havido algumas dificuldades” nas unidades.

“Temos duas unidades que têm um elevado número de postos assistenciais para estes bebés”, mas em períodos em que há uma maior incidência de partos pré-termo, há bebés que têm de ser transferidos por falta de vagas, uma situação que aconteceu com “muita frequência a partir de maio, junho”, disse Teresa Tomé.

Portugal tem uma boa rede de cuidados neonatais, que deu “muito ganhos” ao país, mas essa rede está “com dificuldades” porque “foram fechadas vagas por falta de recursos de enfermagem” devido à redução do horário dos enfermeiros das 40 para 35 horas semanais e por não haver contratação.

Por outro lado, também não tem havido “a reposição ideal do número de médicos” para trabalhar nas unidades, que exigem a permanência de profissionais de saúde 24 horas por dia, disse a especialista.

“Era importante voltar a discutir a rede de referenciação desses cuidados e não perder a memória coletiva que traduz que uma boa organização melhora os indicadores”, disse Teresa Tomé, acrescentando: “melhorámos muito a mortalidade porque conseguimos melhorar a organização”.

Em Portugal, nascem anualmente cerca de 8.000 prematuros e 10% ficam internados, em média, 60 dias em Unidades de Cuidados Intensivos.

Oito em cada 100 bebés nascem com menos de 37 semanas de gestação e 1% tem menos de 1.500 gramas, sendo que os prematuros representam um terço da mortalidade infantil em Portugal.

LUSA

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