22 Out, 2018

Número de rastreios oncológicos ficou abaixo das metas em 2017

Rastreio ao cancro do cólon e do reto continua a ter uma adesão muito baixa na maior parte do país. Maioria dos rastreios está ainda limitada geograficamente

A maior parte das metas definidas por várias Administrações Regionais de Saúde (ARS) para 2017 no que diz respeito a rastreios oncológicos da mama, do cólo do útero e reto não foram alcançadas, segundo a edição desta segunda-feira do jornal Público. A explicar estes resultados aquém do estabelecido estão fatores como a não convocatória dos doentes por parte dos médicos, a adaptação a novos equipamentos, as alterações do tipo de teste ou a falta de adesão dos próprios utentes aos rastreios.

O jornal consultou todos os relatórios anuais das ARS relativos a 2017 que estão disponíveis nos respectivos sites, à exceção da ARS-Norte, que ainda não publicou o relatório. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, a taxa de adesão ao rastreio do cancro da mama ficou-se pelos 60%, segundo o relatório, que não especifica se foi ou não atingida a meta proposta. Este rastreio destina-se às mulheres entre os 50 e os 69 anos.

Das 30.427 mulheres que aceitaram submeter-se ao rastreio (de um universo de 50 mil que foram convidadas a fazê-lo), 131 “foram encaminhadas para tratamento oncológico com aferição positiva”. Contudo, a taxa de cobertura geográfica foi de apenas 27%. A ARS de Lisboa ressalva que o alargamento deste rastreio a toda a região acontecerá a partir do próximo ano. Quanto aos rastreios do cancro do colo do útero e do cólon e recto, a ARS diz que as metas foram atingidas no ano passado (embora, estas só digam respeito aos número de centros de saúde com rastreio implementado).

 

Baixa adesão ao rastreio do cancro do cólon e do reto

 

No Algarve, no caso do cancro da mama a adesão ao rastreio foi de 57% da “população elegível”, abaixo dos 64% previstos. A adesão abaixo do esperado deve-se, sobretudo, às dificuldade em convocar as mulheres através de correio eletrónico mas também, segundo a ARS-Algarve, às condições climáticas e ao facto de muitas mulheres indicarem que “realizaram mamografia há pouco tempo”.

No rastreio do cancro do colo do útero a meta era de 22%, mas a adesão ficou nos 12%. Neste caso, a ARS admite que a baixa adesão prende-se com o facto de os médicos “não estarem a convocar as suas utentes”, a que soma o problema de muitos utentes não terem sequer médico de família atribuído. Já o rastreio ao cancro do cólon e do reto está mais atrasado nesta região: o projeto-piloto arrancou apenas em julho de 2017 com dois centros de saúde mas só no final do ano passado começaram a ser realizadas colonoscopias no hospital. Entre setembro de 2017 e julho deste ano foram feitos de três mil testes – dos quais 95 positivos.

Na região Centro, o rastreio ao cancro do cólon e do reto foi também o mais complicado. A meta proposta de doentes com rastreio efetuado já era baixa (7%) mas nem assim foi atingida. Fizeram exames apenas 9670 pessoas num universo de mais de 280 mil, o que corresponde a uma cobertura de pouco mais de 3%.

Quase alcançada foi a meta de cobertura para o cancro do cólo do útero. O objetivo era de 52%, sendo que entre 2015 e 2017 foram rastreadas 50% das mulheres elegíveis. No ano passado, o relatório da ARS-Centro admite que a percentagem de cobertura piorou. No caso do cancro da mama, o objetivo era rastrear 65% das mulheres e até foi ultrapassado (68%).

A região do Alentejo é uma exceção no alcance do rastreio do cancro do cólon e reto. Apesar de a meta não ter sido atingida, mais de 52% dos utentes elegíveis foram rastreados (25 destes utentes foram encaminhados para consulta hospitalar na sequência de um resultado positivo). No caso do cancro da mama, 60,4% das mulheres fizeram o teste, sendo que o objetivo estava dois pontos percentuais acima.

Só no rastreio do cancro do colo do útero a meta de 75% de adesão foi atingida. Em 2017 foram rastreadas 12.671 mulheres, o que representou “76,5% do total das mulheres convocadas”.

Ao Público, o coordenador do Programa Nacional das Doenças Oncológicas, Nuno Miranda, reconhece que as metas nacionais ficaram “um pouco aquém” do esperado para o último ano. “Havia necessidade de ter uma plataforma única nacional que permitisse suportar os rastreios. Foi preciso uniformizar os programas e isso foi um trabalho mais moroso do que parecia inicialmente”, explicou. Mas garante que, apesar dos problemas, “as dificuldades logísticas ficarão ultrapassadas entre este ano e o próximo”, sendo que o objetivo é ter, em 2020, cobertura total nos três tipos de rastreio.

Saúde Online

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