Lápis Azul: Não há Saúde sem emprego
Diz-se e bem que a saúde é neste século XXI […]

Lápis Azul: Não há Saúde sem emprego

Diz-se e bem que a saúde é neste século XXI – mais do que uma questão individual – um problema das sociedades modernas.

Ou seja, para além de a saúde ser um direito fundamental, é também uma condição que inclui os chamados determinantes de saúde: os primeiros anos das nossas vidas, o meio ambiente, a habitação, as vacinas e a prevenção de doenças, o exercício físico e desportivo, a educação, o trabalho e o emprego, os hábitos de vida.

O contexto e as circunstâncias de crise económica e financeira, como vivemos nos últimos anos, obrigaram o país, as empresas e as famílias a contenções e retracções várias, incluindo mesmo o corte de benefícios sociais, bem como a medidas de redução da despesa global (pública e privada) e diminuição do ritmo e dimensão do investimento público e privado.

O SNS experimentou igualmente este cenário complexo e as estruturas, equipamentos, medicamentos e dispositivos médicos ressentiram-se, tornando-se obsoletas ou inoperacionais.

Sobretudo o desemprego e a falta de motivação para os mais novos, sem saídas profissionais e necessidades de partir para fora e, para os mais velhos, sem capacidade para adaptação ou aprendizagem de novos processos de trabalho, teve fortíssimas consequências quer no plano da saúde das pessoas, quer das sociedades em que se inseriam.

Foi assim que se assistiu a um aumento claro de perturbações da saúde mental, ao acentuar de tensões familiares e ao retorno de filhos e netos ao seio de pais ou sogros e avós, ao aumento de consumos de substâncias lícitas e ilícitas, à falta de motivação e de esperança.

Tudo isto num ambiente de envelhecimento acentuado da população e de instalação de um clima de saturação diria anormal, de desejos de reforma bem antes da idade previsível.

É verdade que para os especialistas políticos e económicos a situação em Portugal está ainda longe de estar ultrapassada. E o peso do dinheiro que recebemos emprestado e os juros que lhe estão inerentes confirmam-no.

Mas para nós, profissionais de saúde, sentimos que a designada “nova medicina” é uma forma de prestação e dispensa de cuidados de saúde que criou uma muito maior dependência dos aspectos económicos e sociais da vida das pessoas.

Ou seja, o cumprimento de obrigações laborais, por exemplo, em empresas que desenvolvem estratégias de preocupação nas relações humanas, a par de fortes investimentos em tecnologias e equipamentos, bem como em remunerações salariais e outras bem acima da média, para os trabalhadores e familiares, constitui importante fator de interação positiva para a promoção da saúde. Aí, os prestadores clínicos assumem-se nesse sentido até como um elo invisível pelo bem-estar geral no emprego e nas empresas.

Se a esperança de vida aumentou, a noção de qualidade de vida passou a ser também um objectivo e um desejo de todos nós. A criação de oportunidades melhores, sem prejuízo em função de idade ou de género, com emprego adequado e estável, num cenário de sustentabilidade e de claro crescimento global, é uma dimensão decisiva para uma boa saúde mental e física, à luz da definição mais abrangente de saúde preconizada pela Organização Mundial de Saúde.

Os pilares duma política correcta de saúde ocupacional assentam em primeiro lugar, no rastreio e despiste atempado de saúde individual – factores genéticos, biológicos, ergonómicos e psicológicos e, depois, na aposta comportamental – estilos e hábitos de vida saudável e corresponsabilização na sua auto-saúde.

E ainda em dimensões social (alfabetização e educação, habitação, transportes e acessibilidades), e económica (proteção social, informação e formação profissional, rendimentos e motivação pelo emprego).

Em suma, a qualidade de vida está associada ao desenvolvimento humano e das pessoas, à igualdade de oportunidades e à partilha de felicidade pelo trabalho justamente reconhecido, solidário e inter-geracional.

Infelizmente boa parte do que escrevi acontece e desenvolve-se no sector privado.

O Estado e o Ministério da Saúde, em particular, não parecem ter que cumprir o que legislam e obrigam no privado. O Estado não se obriga a si próprio, exclui-se sem pudor nem vergonha.

O infortúnio não pode ser uma regra, mas apenas uma excepção!

 

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