11 Out, 2018

Profissionais do SNS estão desmotivados e vulneráveis aos privados, alerta ex-ministro Correia de Campos

O antigo ministro da Saúde António Correia de Campos considera que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está repleto de profissionais desmotivados por baixas remunerações e que facilmente são atraídos para o privado.

Numa conferência sobre o financiamento na saúde que decorreu ontem em Lisboa, o antigo governante socialista defendeu ainda que o SNS deve “reunir capacidades” para substituir a gestão clínica privada nas parcerias público-privadas por gestão pública.

Para o ex-ministro da Saúde, uma reforma do SNS terá sempre de passar por dar melhores condições aos profissionais de saúde, recompensando-os com pagamentos ajustados ao seu desempenho.

“Qualquer reforma terá de honrar os [profissionais] que lá se mantiveram”, declarou Correia de Campos na conferência do projeto 3F – Financiamento, Fórmula para o Futuro, sublinhando que “abundam no SNS” profissionais treinados e qualificados, mas ao mesmo tempo “desmotivados pelas baixas remunerações”, sendo fácil atrair estes recursos para o setor privado.

No entender de Correia de Campos, o SNS tornou-se num “enorme armazém de recursos” que está impossibilitado por “regras estreitas” de competir com o setor privado, que, por seu lado, é um setor “inteligente e flexível, organizado e que proporciona um acolhimento ameno e reconfortante”.

Também o crónico subfinanciamento dos hospitais terá contribuído para desmoralizar os profissionais, deteriorando até a qualidade de gestão das unidades.

Fazendo uma resenha histórica da evolução do setor da saúde desde a década de 1970, o antigo ministro apontou para uma deterioração da atratividade do setor público, em contraste com um crescimento do privado. Para Correia de Campos é possível fazer-se uma reforma do SNS de forma tranquila, “sem traumas” e não de modo radical.

O SNS deve continuar a garantir os valores da universalidade e a tendencial gratuitidade e a ter o Estado como principal prestador e como “exigente regulador”, sem qualquer competição entre o público, o privado e o social.

Deveria ser o Estado a planear o investimento público e também as necessidades do investimento privado, que só deveria ser aceite quando baseado em “certificado de necessidades”.

No âmbito de uma reforma, Correia de Campos defendeu ainda que o SNS deve “reunir capacidades” para substituir as a gestão clínica privada nas parcerias público-privadas por gestão pública.

LUSA

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