Profissionais denunciam cenário de caos na urgência do hospital de São José

Macas acumuladas nos corredores são uma situação cada vez mais frequente. A isto soma-se a falta de profissionais, a diminuição das camas de internamento e até falhas na alimentação. Obras de ampliação da urgência ainda não começaram.

Macas acumuladas nos corredores, falhas na alimentação dos doentes na urgência e falta de produtos e material de higiene são algumas das situações relatadas pelos profissionais do Hospital de São José à Ordem dos Enfermeiros (OE). Esta quinta-feira, no primeiro dia da greve dos enfermeiros, a Secção Sul da OE visitou o hospital e anunciou que vai investigar as denúncias e questionar o conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central.

Segundo escreve o Diário de Notícias, de acordo com queixas enviadas à Ordem, há uma “alimentação precária de doentes em corredor, quer pelas condições físicas, quer pelo número insuficiente de comida para todos os doentes do dia na urgência”, assim como “insuficiente número de produtos/material de higiene para todos os doentes no corredor”.

Os profissionais queixam-se do acumular de macas nos corredores, que, muitas vezes, impedem mesmo a entrada de doentes urgentes na sala de reanimação, colocando em perigo a vida dos doentes. Garantem também existirem “15, 20 doentes por corredor e por enfermeiro”, a maioria em macas que não oferecem condições de segurança “pela incapacidade de travar, baixar cama ou elevar cabeceira”.

 

Escalas para o ‘corredor’

 

A situação é de tal forma recorrente que as escalas do serviço já incluem “um setor denominado como ‘corredor’ com um elemento distribuído para esse setor, assumindo-se como um setor que já faz parte da urgência, tendo inclusive sido criados carros móveis com consumíveis para uso no corredor na preparação da medicação”.

Para além disto, os profissionais questionam a questão da segurança, com a entrada de pessoas estranhas ao serviço sem qualquer controlo e “o embate nas macas de todo o tipo de pessoas e equipamentos”.

A situação tem piorado nos últimos dias, segundos relatos de médicos ouvidos pelo DN. A afluência à urgência aumentou, o que esgotou a capacidade de internamento nas enfermarias e obrigou o hospital a distribuir doentes pelos corredores. A situação agravou-se também devido à diminuição de camas de internamento e à falta de enfermeiros.

O Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), que integra o São José, espera autorização para contratar mais 13 enfermeiros, depois de terem sido, colocados, em julho, 62 enfermeiros. Foram ainda contratados 38 profissionais a termo certo para substituir ausências de longa duração.

Já em fevereiro deste ano os médicos do Hospital de São José enviaram duas cartas ao conselho de administração onde se queixavam das condições da urgência, da falta de pessoal clínico para reforçar as equipas e de falhas do sistema informático. Contactado pelo Saúde Online, o gabinete de Comunicação do CHLC confirma que as obras de ampliação/remodelação da urgência do São José, que se deveriam ter iniciado em maio, ainda não começaram. A empreitada, orçada em 900 mil euros, tem como objetivo melhorar as condições da urgência e o aumentar os serviços de psiquiatria, médico-cirúrgico, otorrinolaringologia e ortopedia, como explicou ao Público, em fevereiro, a Presidente do Conselho de Administração, Ana Escoval.

As críticas às condições do serviço de urgência têm sido recorrentes ao longo deste ano. No início de julho, os chefes de equipa de medicina interna e cirurgia geral do CHLC apresentaram a demissão, num protesto contra a falta de médicos e a consequente degradação do serviço de urgência. Na altura, os profissionais denunciaram o caso de um médico interno que assegurava muitas vezes o comando da urgência do hospital.

Saúde Online

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