5 Set, 2018

Novo Nordisk duplica número de ensaios clínicos em Portugal

Multinacional dinamarquesa é líder de mercado dos medicamentos para a diabetes e doenças relacionadas e já investiu 1,2 milhões em Portugal.

A multinacional farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, líder mundial de medicamentos para o tratamento de diabetes e suas complicações, quer duplicar o número de ensaios clínicos em Portugal, chegando aos nove, o que compara com os quatro feitos em 2016. O investimento ascende já a 1,2 milhões de euros.

Em declarações ao Saúde Online, a directora-geral da Novo Nordisk em Portugal, Olga Insua, explica esta opção pela elevada prevalência, quer de diabetes, quer de obesidade na população portuguesa, muito superior à média registada nos demais países da União Europeia.

A multinacional dinamarquesa é líder do mercado, com uma quota de 27% de produtos relacionados com a diabetes, sendo também a empresa com o maior portefólio e pipeline de novos produtos na área. Fornece mais de metade da insulina utilizada a nível global, alcançando mais de 24 milhões de doentes.

Contrariando a tendência de retração das vendas que tem atingido a maioria das congéneres farmacêuticas a nível mundial, muito devido à perda de patentes de produtos designados como “blockbuster”, e consequente disponibilização de medicamentos genéricos no mercado, mais baratos, a empresa, com sede em Bagsværd, na Dinamarca, espera um crescimento de vendas em 2018 de 3% a 5%, um ritmo de crescimento idêntico ao verificado no ano passado.

 

“A elevada mortalidade associada à diabetes deve-se, principalmente, aos eventos cardiovasculares que se lhes associam”, explica Olga Insua.

 

Nos últimos anos, a empresa acrescentou ao seu historial de sucessos o lançamento de vários produtos inovadores. Entre eles, o Liraglutido, medicamento indicado no tratamento da diabetes tipo 2, o primeiro de um novo grupo de medicamentos que mimetizam a ação da hormona secretada no trato gastrointestinal com ações benéficas para o controlo da hiperglicemia. Foi o primeiro, desta nova classe terapêutica, a demonstrar um efeito cardioprotetor a longo prazo.

Outro dos “milestones” do Liraglutido é na redução do peso. “É o mais eficaz atualmente disponível no mercado”, garante Olga Insua. O medicamento foi aprovado na Europa e está disponível em Portugal para tratamento da obesidade. Em ensaios clínicos, ficou demonstrado que ajuda a diminuir o apetite e a controlar o peso corporal, podendo causar a redução de até 10% do peso total, quando associado a uma dieta saudável e prática de exercício físico regular. “É uma arma importante no combate à obesidade, que constitui um fator de risco muito relevante para diversas patologias, desde logo, a diabetes, mas também doenças cardiovasculares, oncológicas, entre outras”, explica a gestora.

 

Portugal não é “mais complicado”

 

Contrariando a ideia geral de que em Portugal a inovação farmacêutica enfrenta problemas acrescidos de autorização de introdução no mercado, comparativamente com os demais países da União Europeia, Olga Insua, que antes de assumir a direção-geral da filial portuguesa da Novo Nordisk, esteve à frente da sua congénere espanhola, garante que, por cá, as negociações com a entidade reguladora “são mais produtivas do que em outros países da UE”. E que os doentes portugueses não acedem aos novos medicamentos depois dos demais cidadãos europeus. “Não é mais difícil do que noutras latitudes. O que fazemos é negociar com todos os stakeholders, procurando um compromisso que garanta a sustentabilidade do sistema de saúde, sem pôr em causa o acesso dos doentes à inovação e que “contribua para satisfazer as necessidades em saúde identificadas pelos especialistas e as prioridades de atuação definidas pelo poder político”, sublinha. Um objetivo que passa por “garantir que os novos medicamentos são mais eficazes, seguros, e cómodos de utilizar e disponibilizados a um preço justo”, diz.

 

O sucesso da Novo Nordisk na introdução de novos e mais eficazes medicamentos para o tratamento da Diabetes, passa pela forma de abordagem à doença, adotada pela multinacional. “Pensamos a diabetes de uma forma diferente; que não se trata apenas de um problema de excesso de açúcar no sangue, mas de uma condição com um impacto muito grande ao nível cardiovascular, renal e hepático, entre outros. Nas pessoas com diabetes, o risco cardiovascular é o dobro do da população sem esta condição”, aponta a diretora-geral da Novo Nordisk, que acrescenta: “A elevada mortalidade associada à diabetes deve-se, principalmente, aos eventos cardiovasculares que se lhes associam. Pelo que a aposta da indústria farmacêutica deve ir no sentido de satisfazer a necessidade de reduzir este risco. O Liraglutido é um bom exemplo desta aposta, ao reduzir o risco global de morte cardiovascular em 22%”.

“A diabetes deve ser hoje abordada de uma forma holística, abarcando todas as vertentes em que se manifesta. Não é mais uma condição limitada a uma especialidade. Hoje é abordada multidisciplinarmente, envolvendo especialistas em medicina familiar, cardiologista, nefrologistas, entre muitos outros, e também outras profissões, como os enfermeiros, nutricionistas, psicólogos”, salienta.

Miguel Mauritti

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